⚠️ IMPORTANTE: CAPRICORNUS contém alguns filmes raros, que tiveram legenda sincronizada, outros traduções para o português, deu trabalho pra tá aqui ent vai roubar conteúdo da puta que te pariu sem dar os créditos. ~ Siga a gente! Os filmes tem limite de visualização mensal, caso não consiga, tentar próximo mês.
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Ayahuasca: Relato de experiência xamânica

Relato escrito pela Jessica Lange, lembrando que este chá não é usado para se divertir, e de qualquer forma como acontece com LSD, para ter onda LSD, Ayahuasca é um tratamento religioso! Não use para outros fins o blog não compactua com a utilização do chá apenas como droga. 
Eu não lembrava mais quem eu era…
Estava vivendo como uma pessoa aleatória. Que fazia as coisas sem saber o porquê. Só sabia que tinha que ser uma pessoa independente um dia. E pra isso precisava ganhar dinheiro com alguma coisa.
Até que no Carnaval de 2015 o meu namorado, daquela época, me chamou para participar de uma cerimônia Xamânica com o chá Ayahuasca, pois iria me fazer enxergar meu potencial e bla bla bla, coisa que ele vivia dizendo que eu tinha. Mas eu achava que estava entendendo o que ele queria dizer…
Fomos para uma cerimônia com o Xamã Leo Artese, em Campina Grande (Econtro da Nova Consciência).
Nem parei pra ler nada sobre o que aconteceria. Simplesmente fui pelo que me contavam.
Chegando ao sítio onde seria realizada, de noite, nos dirigimos para uma clareira no meio do mato preparada já para o acontecimento.
O Xamã, junto a sua ajudante Fany, organizam um altar e designam os guardiões do fogo, responsáveis por manter a fogueira acesa a noite inteira, mesmo usando a medicina, sob seus efeitos: sananga, sambô (que no dia não tinha), rapé e o chá. E aí ficou o meu namorado como guardião e seu irmão como ajudante.
Os novatos foram orientados de como seria alguns minutos antes e enquanto isso as pessoas se organizavam numa roda incluindo o altar. No centro, a fogueira. Único ponto de luz do local.
Leo Artese iniciou com a palavra e pediu que todos formacem uma fila para tomar o chá.
Não senti medo. Pelo contrário. Mesmo com todas as história de terror que me contaram (colegas, claro kkkk pra fazer terror mesmo) sobre os efeitos alucinógenos do chá, entrei numa espécie de transe desde que saímos na cidade de van. Fui até lá atônita. Chegamos e me mantive nesse estado.
O Xamã introduziu uma fala, lembrando a todos que é interessante terem respostas a serem buscadas ali. Que não é uma experiência aleatória (tipo eu na época) e que a experiência deveria se pautar na busca destas respostas que agregam valor a vida de cada um.
A minha estava na ponta da língua: queria entender o meu caminho nesta vida. Se eu estava no caminho certo no que estava fazendo naquela época, do marketing digital. Eu não tinha certeza… não estava me preenchendo como deveria e eu quase percebia.
Fui uma das últimas das trinta pessoas a tomar o chá. Queria que todos entrassem em transe antes de mim, pra que eu pudesse ver lucidamente. Mas não foi possível. Bastou o Xamã tocar o bombo, e eu comecei a vibrar muito.

Os antigos egípcios de linhagem arcturiana realizavam autoregressão sonora, através dos sons eles acessavam vidas passadas. E então tudo se encaixa.
Um choro explodiu da minha garganta e eu comecei a agradecer muito a Deus por algo que não sei
“Meu Deus, obrigada! Senhooor!!! Graças a Deus! Muito obrigada!”
e chorava, me agarrava nas folhas da grama com se precisasse me segurar em algo pra me manter ali. Só que do nada eu voltei e olhei pros lados com vergonha das pessoas me verem daquela forma e disse
Caramba!! O que foi isso? Acho que não sou eu que estou chorando…
E do nada voltava ao estado de choro
Não! Meu Deus, me ajuda! Muito obrigada! Muito obrigaada!
E sentia um pensamento que dizia “este é o caminho! Você está no caminho certo! É isso!” era uma imensa alegria e alívio que eu sentia, mas confusa pois aquela resposta não era sobre minha profissão da época, era sobre o que eu estava fazendo ali, o caminho espiritual! Eu não esperava por isso! Aho! 😀
A partir daí começou minha viagem. Meus sentidos começaram a ficar muito apurados, eu esfregava minhas mãos na grama que estava tão mais verde mesmo na penumbra e parecia viva, como se respirasse. A fogueira estalava quase que em minha bochecha. Até que senti algo em minha testa. Com olhos fechados, via tudo rosa, era como se eu estivesse dentro do meu pulmão e via suas fibras. Tudo rosa. Minha respiração estava muito profunda. Como se meu pulmão estivesse respirando sozinho e muito maior. Incrível. Minha testa vibrava muito e tudo era muito psicodélico! Até que uma pressão parecia rasgar no local do meu terceiro olho, como se ele estivesse abrindo e algo estivesse saindo de dentro dele com muita urgência. E eu senti um prazer tão descontrolado que gemi muito alto! Um orgasmo praticamente, mas pela testa. Vai entender…

A testa rachando ao meio, uma explosão de prazer e luz saia de minha testa. Abri meu terceiro olho!
Claro que levei advertência. Já não era mais eu. Era uma entidade feminina, gemia, sorria, era sensual. Levava várias advertências a noite inteira pelos ruídos que fazia. E me dizia o nome Jurema.
A noite toda ela comigo, quando não era ela, eram outras entidades não muito boas, mas comuns, como obsessores. Eram outras personalidades, me sentia homem, mulher, jovem, criança. Ou será eu em outras vidas, outras dimensões? Talvez eu nunca saiba. E quando o xamã chamava pelos espíritos protetores, a entidade feminina voltava e se colocava em sua postura super ereta e de peito aberto.
Em alguns momentos eu não estava presente (a maioria deles). Estava muito longe. Acessava visões do Egito, muito claramente, mexia a cabeça e era como se estivesse lá. Me via meditando como sacerdote com outros sacerdotes, via paredes ilustradas, via cerâmicas, tudo com personalidades diferentes em cada lembrança. “Cheguei” até a lamentar com saudade “como eram lindas as cerâmicas egípcias” algo assim… Sentia saudades. Até hoje sofro com saudades de algo que não vivi nessa vida. É bem estranho quando medito ouvindo sons hindus ou egípcios e começo a sofrer com intenso pesar vendo o céu egípcio, o calor no rosto, paredes amarronzadas, grandes pilares. Já consigo lidar com isso, mas pretendo entender melhor com ajuda de algum terapeuta em breve. Ou eu mesma, quem sabe! 🙂
Senti a força de entidades masculinas. Um peso de responsabilidade negra que era como se me guiasse ou não. Poderia ser eu mesma acessando mais uma personalidade! É confusa a experiência quando você não tem nenhuma anterior kkkkkk
Enfim, senti vários trabalhos energéticos feitos em mim. Foram longas horas de vivência sentada com a coluna ereta. Eu não me levantava. O Xamã chamava à entidade que estava em mim por uma nomenclatura que não lembro, mas ela dizia que não e sorria.
Via as pessoas usando as outras medicinas e ela dizia “você não precisa de nada disso. Não precisa sofrer pra entender o necessário aqui.” Em alguns momentos vinha a ideia de que aquilo era até meio retrógrado. Desnecessário. E ela dizia que estava ali pra minha proteção. Eu só observava, não tinha poder de discernimento pra nada ainda. Estava tudo bem e eu estava me sentindo plena e segura.
De manhã, após muitos trabalhos, rituais, incorporações e regressões, o bastão falante. Cada um comentando o que achava legal sobre a experiência. E eu ainda sob efeito do chá. Demora bastante pra sair do meu sistema…
Voltei pra Recife outra pessoa. E jamais voltei a ser quem eu era. Não me sinto aquela pessoa aleatória. Eu, de fato, encontrei a garota de 15 anos que tinha o sonho de trabalhar com a espiritualidade e não sabia como…

O pós Ayahuasca
É certo que você passará uns 4 dias meio dentro e meio fora… meio aéreo sentindo-se à flor da pele. Ambientes não muito saudáveis deixarão você enjoado, tonto. Foi assim que me senti.
É recomendado que você evite trocas energéticas arriscadas no período de uma semana. Sem brincadeira! Os campos estão abertos e você vai sentir intensamente.
Meu terceiro olho girava que parecia que eu iria me olhar no espelho e ver um espiral na minha testa. Era muito físico!
Eu, que nunca tinha nem lido sobre meditação, sentia a necessidade de meditar, sentava, fazia a meia lotus e entrava em transe sentindo a pineal sem nem ao menos precisar me concentrar. Eu já estava concentrada. É assim até hoje.
Mergulhei de cabeça nos estudos holísticos, fui em busca de contatos nesta área, levantei meu network e conversei com vários terapeutas que eu sabia que conhecia, mas que nunca tinha dado ouvidos.
A partir dessas experiências foi que meu processo com a ansiedade se intensificou e eu achei que iria explodir, era tudo muito novo e complexo. Foi quando resolvi fazer meu primeiro retiro espiritual para organizar tudo e pôr a cabeça no lugar, entender com calma tudo aquilo. Foi três meses depois.
O resultado da ayahuasca em mim, energética  e espiritualmente falando, foi um salto quântico absurdo. Como se eu do nada me tornasse médium (numa linguagem mais objetiva e próxima do comum) altamente sensível e consciente. Visualizar a energia se tornou algo habitual, como se fosse o mesmo que escovar os dentes, pentear os cabelos…
Faz parte do meu dia a dia.

Concluindo
Sempre que posso indico a experiência da AYAHUASCA pra pessoas que precisam se conhecer melhor, porque, de fato, é transformador e rápido! (pelo menos pra mim)
Tive minha segunda experiência, onde mais uma vez deixei Jéssica pra trás e mudei mais uma vez toda a minha vida trazendo uma Jéssica mais lúcida ainda. Foi uma experiência extremamente madura! O contrário da primeira que, segundo um dos mestres que me contatou no dia, foi “recreativa” e pediu que eu não tivesse “vergonha” dela. Tudo pra que eu tivesse contato com minha verdade intensamente, como um choque de realidade. Nesta eu desenvolvi um imenso respeito pelo Xamã e pelo ritual… Entendi tudo!

Jéssica Lange

A involução físico-mental homem-natureza

A evolução cultural em todos os povos produziu um paulatino distanciamento das técnicas xamânicas e, sobretudo, do uso das plantas alucinógenas. Esta tendência foi levada ao extremo de considerar estas plantas como “tóxicas” ou “diabólicas” e seu uso é proscrito em quase todo o mundo moderno. Todavia, desde fins do século passado, muitos ocidentais têm incursionado novamente no consumo destas substâncias, buscando uma resposta aos grandes problemas da civilização industrial (Zuluaga, 2002). 

Tóxicos são as inúmeras drogas químico-farmacêuticas sintéticas que combatem provisoriamente o efeito das doenças e não suas causas. E, muitas vezes, ocasionam efeitos colaterais e dependência físico-mental, principalmente quando mal administradas (Gregorim, 1991). Deixando o organismo com menos resistência para um possível retorno da mesma doença, cada vez doente, o organismo necessita de uma maior quantidade de medicamento. 

As conclusões a seguir foram retiradas do trabalho de Thiago Martins (2006):
Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, a divisão dos componentes do corpo humano na medicina tornou-se muito mais comum. Os médicos tradicionais modernos sabem muito mais sobre muito menos. Esse desenvolvimento também causou uma divisão do ser humano em espírito e matéria, onde o campo material foi privilegiado, ocasionando certo esquecimento da importância do espírito para uma boa saúde. 
Assim, a Ayahuasca mostra-se como remédio em potencial, pois, induzindo a uma evolução espiritual, as mudanças de hábitos e sentimentos favorecem a uma vida mais saudável em todos os aspectos. São inúmeros casos de dependentes químicos que conseguiram livrar-se do vício após o com a bebida. Além disso, na maioria das vezes ocorre uma mudança de atitude em relação ao próximo e à natureza, devido a um despertar do amor crístico, que seria o redescobrimento dos ensinamentos de Cristo e amor a Deus e ao próximo na prática. Podendo, nesse sentido, ser usado no sentido terapêutico, além do religioso, o que vem ocorrendo cada vez mais. 
Vale ressaltar que não apenas as Plantas de Poder podem proporcionar esse êxtase desejado há milênios pela natureza humana. Práticas iogues, meditações, rezas fervorosas, jejum e técnicas de respiração são apenas alguns dos tantos outros meios para atingir esse transe. Entretanto, as Plantas
de Poder aparecem como um caminho mais curto e profundo para essa finalidade. 

A modernidade representa o cenário que propaga o discurso por meio do qual os vínculos que sustentavam a relação corpo e natureza sofreram uma cisão. Com isto sugere-se que, no quadro moderno, houve um redimensionamento da relação homem-natureza.


Referências:
ZULUAGA, G. A Cultura do Yagé, Um Caminho de Índios, In: O Uso Ritual da Ayahuasca, LABATE, B. C. & ARAÚLO, W. S. (orgs.), Campinas, SP, 2002. 
GREGORIM, G. Santo Daime: Estudos sobre Simbolismo, Doutrina e Povo de Juramidam, Editora Ícone, São Paulo, 1991.
Thiago Martins e Silva, Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Florestal . PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi. 2006. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. 

Xamanismo: A arte do Êxtase (Parte 1)

Por Ana Vitória (2006)
Arte do êxtase ou "ex stasis", termo grego, significa literalmente - "ficar fora" - "libertar-se" da dicotomia da maior parte das atividades humanas. Êxtase é o termo exato para a intensidade de consciência que ocorre no ato criativo. Não é irracional, é supra-racional, une o desempenho das funções intelectuais, volitivas e emotivas; a experiência com o LUMINOSO, a contemplação do todo, unidade encontro.

O XAMANISMO ARCAICO

A RAIZ DA PALAVRA XAMÃ - Deriva da língua dos povos Tugus, da Sibéria, adotada amplamente pelos antropólogos para se referirem a pessoas de uma grande variedade de culturas arcaicas, que antes eram conhecidas por: pajés, curandeiros, magos, videntes. Embora nem todo vidente, curandeiro, mago ou pajé, seja um xamã.
Conhecer a história antiga da terra é conhecer a própria história, sendo assim de vital importância, pois o saber herdado faz parte do conhecimento do ser e atua vivo na memória genética até os nossos dias.
[...]
A Floresta Amazônica é um livro de folhas soltas e deve ser lido, pois é nela que estão, não só a mais rica reserva biológica do planeta terra, mas a nossa história ancestral, ainda existem povos indígenas que não foram contatados pelo homem urbano.
A prática xamânica se deu pela primeira vez nos seres humanos antes mesmo que o homem primitivo dominasse completamente a palavra, usando somente vogais. Por esta razão uma das características desta arte é a poesia cantada, [...] presente tanto nas canções dos velhos xamãs como nos tempos de Apolo.
Estabeleceram pelo poder da palavra, uma relação sutil em diversos planos, entre o nome e a relação sutil em diversos planos, entre o nome e a coisa nomeada, trazendo a própria presença dos seres visualizados; passando ou retornando a níveis de consciência que reportam para o princípio da Criação, onde tudo é paz.
Com a comunicação telepática entre os seres imateriais, chega-se á transcendência. [...]
Na cultura xamânica não há qualquer distinção entre o valor de ajudar os outros e ajudar a si próprio, resultando numa grande aventura mental e emocional onde todos os presentes ficam envolvidos em transcender a noção normal e comum que tem acerca da realidade (pois sentem que o que acontece com UM reflete no OUTRO, gerando uma grande reação em cadeia). Variando de acordo com o indivíduo, assim como no mesmo indivíduo, em ocasiões diferentes.
Existem apenas duas vias, e no Brasil estas duas vias são muito claras, com trajetórias muito distintas, sendo as vias do Xamanismo Clássico & do Xamanismo de Planta de Poder.
O Xamanismo Clássico vem de lugares onde a floresta não é tão fechada como a Floresta Amazônica, mais perto do mar, das montanhas. Seu uso no meio indígena é milenar, e sempre voltado para as soluções de doenças e problemas psíquicos dos nativos, mesmo nas tribos onde o pajé usa alguma planta de poder. O mesmo não se dá com o resto do povo ali existente, é algo mais restrito e muitas vezes secreto, somente nisso difere dos Xamãs da floresta.
A organização consiste em vários Xamãs pajés da mesma tribo, de diferentes idades e graus de sabedoria. Em geral eles são guardiões das músicas e das histórias passadas de geração para geração, sobre o nascimento de sua raça.
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O PRINCÍPIO ATIVO DA AYAHUASKA

O Cipó, Banisteriopsis Caapi. Contém: beta-carbolina, harmina, harmalina, e tetrahidroharmina. A chacrona, Psychotrias, e Diplotes cabreana. Contém: Alcalóide alucinógeno N-dimetiltripamina DMT, substância que tomada sozinha ou por via oral é inativa devido à atuação da Monoamina Oxidasse MAO. As análises mostram que, embora as beta-carbolinas encontradas nos preparos estejam em doses demasiadamente baixas para mostrarem sua propriedades alucinógenas, elas parecem desempenhar um papel na inibição da MAO, livrando assim o DMT de sua ação e permitindo-lhe manifestar suas propriedades psicotrópicas.
Podemos notar pela composição das plantas que a AYAHUASKA cura a depressão. Ayahuaska não vicia e nem cria dependência física ou psíquica, como os remédios para convulsões ou antidepressivos.
Não há nenhum impedimento legal por parte da Secretaria de Saúde.
O chá da chacrona e do cipó age como facilitador, colocando o cérebro pronto para trabalhar com velocidade máxima, em estado CONSCIENTE ALFA.

TUPINAMBÁ - A antropofagia e a troca dos mortos

Fleischmann et al. (1994) cita que os Tupinambá eram um subgrupo dos povos Tupi, desapareceram em fins do século XVI das regiões que eles habitavam, a costa dos atuais estados da Bahia, do Rio de Janeiro e São Paulo. O canibalismo então no Brasil é mencionado pela primeira vez no terceiro relato de Américo Vespúcio, as cartas de Vespúcio eram a leitura predileta no século XVI,e através delas constituia uma imagem do Brasil como "terra de canibais". O mapa do Brasil de 1503-4, conhecido como Kunstmann II, já ostenta como ilustração principal um índio assando um branco num espeto sobre brasas (ver abaixo na imagem). Apesar disso não houve nenhum relado a respeito nas décadas seguintes... O autor ao final diz que, Léry transparece em um curto trecho como deve ter sido o encontro entre Tupinamba (selvagens) e Europeus (civilizados): "aqueles, um povo ameaçado de escravidão, já marcado pela sua extinção próxima, estes, os Europeus, homens que devido a medos e fadigas encontravam-se em uma situação psíquica extrema, propensos a ver coisas que não existiam." Equívocos que podem ter consolidado seja porque, Anchieta desejava uma morte de mártir, ou porque simplesmente desejavam escrever um livro interessante para vender. 
Essa é uma versão de alguns autores, de que os Tupinambás não eram tudo o que contavam. Agora, outra versão...
Carta portulana: As primeiras cartas marítimas foram produzidas no fim do século XIII, início do século XIV. Seu objetivo principal era retratar com a maior precisão possível os litorais e os portos, [...] eles registravam as novas descobertas nas cartas marítimas. Entre as descobertas de Vespúcio na América do Sul estão a costa norte que vai de De Lisleo (San Lorenzo, Lago de Maracaibo) ao Rio de le Aues (rio Orinoco), e a costa leste do continente, depois do território entre o Cabo de São Roque e o Rio de Cananor. Neste mapa a faixa costeira do sul é identificada como “Terra Sanctae Crucis”. Uma inscrição e uma imagem no canto esquerdo inferior relatam a prevalência de canibalismo na região (wdl.org).

Outros olhares sobre o xamanismo tupinambá

"Apesar da multiplicidade de tribos, os índios da costa brasileira formavam um círculo cultural relativamente fechado. (...) Como entre todas as tribos sul-americanas, as concepções religiosas dos Tupi estavam dominadas pelo animismo e o xamanismo. O xamã, feiticeiro ou curandeiro, representava um papel central em todas as manifestações da vida de um grupo. Na sua qualidade de mediador das forças sobrenaturais era igualmente respeitado e temido. Não o cacique, mas o pajé era quem exercitava propriamente o poder sobre uma linhagem ou uma aldeia. Por ocasião de catástrofes, doenças, ritos de caça e acontecimentos semelhantes, devia apaziguar as forças invisíveis. Eram venerados os espíritos da natureza e dos ancestrais: contudo, os Tupi criam também num ser superior. Os missionários cristãos apropriaram-se dessa sua concepção religiosa, apresentando aos indígenas o Deus cristão como "Pai-Tupã".
"O canibalismo era conhecido entre todas as tribos índias da costa, sobretudo entre os Tupimambá, com a possível exceção das tribos meridionais dos Guaianaz e dos Carijó. A guerra tinha grande importância na vida dos indígenas. Os Tupi não só se encontravam num estado de inimizade permanente com as tribos do interior, mas combatiam-se também uns aos outros. Os Caeté e os Tupinambá da costa central do Brasil tinham fama de ser os guerreiros mais capazes e cruéis. Canibalismo e gosto pela guerra condicionavam-se mutuamente, porque os indígenas, não raramente, atacavam os seus inimigos com a finalidade de procurar vítimas para as festas canibalescas". 
(M C Bingemer et al., 2007).

A guerra pode ser considerada como "condição necessária" do processo de diferenciação social mediante a rotinização do carisma com relação ao acesso às atividades xamanísticas. Com isso, não é pretendido afirmar que os bem-sucedidos na guerra se transformam em Pajés.
Talvez canibalismo entre algumas tribos não seria condição necessária para ser Pajé, mas sim "a aquisição do carisma por intermédio da guerra e do sacrifício ritual representava uma condição básica do xamanismo"
O esquema de posições sociais e o desenvolvimento da carreira social entre os tupimambá excluíam a possibilidade de ascensão direta ao status de pajé e ao exercício das atividades xamanísticas.
Todavia, a importância da guerra da vida pessoa dos pajés era naturalmente variável; Pelo que se pode presumir, admitindo-se que todas possuíam um grau mínimo de qualidades de ajustamento indispensáveis, o xamanismo atraía três categorias de pessoas:
a) as que eram bem-sucedidas como guerreiros e "matadores" (isto é, sacrificantes), as quais praticavam o xamanismo como uma fonte suplementar de carisma;
b) as que encontravam nas atividades xamanísticas uma modalidade de compensação na acumulação do carisma
c) e as que se dedicavam a essas atividades em virtude da própria capacidade de lidar com o sagrado.
E o que acontece na forma assumida pelo xamanismo na sociedade tupinambá?
A guerra era uma "condição" para o acesso ao xamanismo deles. Como se vê duas eram as fontes de carisma e de diferenciação social com base nos dotes carismáticos: o sacrifício humano e o xamanismo. A guerra contribuía para configurar a estrutura social e o seu ritmo de funcionamento na sociedade tupinambá, através do sacrifício humano.
O canibalismo tupinambá tinha uma função religiosa:a de promover uma modalidade coletiva de comunhão direta e imediata com o sagrado.
Thevet, encontra na raiz do canibalismo tupinambá um elemento educativo: para que os jovens agissem como deviam na guerra era preciso que tivessem plena segurança de que sua morte seria "vingada", e que aspirassem a essa espécie de distinção por parte dos companheiros.
Também pode-se dizer que, colocar o canibalismo tupinambá entre as modalidades de canibalismo mágico como: a ingestão de carne humana representava um meio de captação de energias. De outro, a expressão coletiva dessas ações assumia uma função mágico-religiosa, pois poderia assim destruir o "suporte orgânico" da "alma imortal".
Os ritos de purificação, ou de renovação, transcorriam simultaneamente aos de antropofagia. 
(FERNANDES, 2006).

O casal Clastres buscavam a Terra sem Mal como efeito da colonização, sendo uma "recusa ativa da sociedade" indígena (CLASTRES, H. 1978, p. 68 apud COUTO, 2013) a Terra sem Mal seria a felicidade divina, e condenavam à morte da estrutura da sociedade e so seu sistema de normas no interior da própria sociedade indígena onde o "xamanismo desaparece no profetismo e o profetismo numa antropologia política." [...] as migrações foram resultantes unicamente vinculadas às tensões internas da sociedade Tupinambá, contra o surgimento do poder político (o "Estado") entre as várias comunidades indígenas, surgindo profetas errantes que estimularam a descentralização do grupo. 
Assim,a proposta de "cristianização do imaginário indígena" ou a "indigenização do sobrenatural cristão" onde havia conteúdos e elementos apresentados pelos jesuítas foram absorvidos pela cultura indígena porque se inseriam num preciso contexto significativo, isto é, faziam sentido, mas, em ordem reversa, causou desconfiança em relação ao significado de "conquista espiritual" em uma visão da construção negociada atribuída aos missionários jesuítas.
Finalmente.... é provável que a Mitologia Tupinambá e dos "Tapuias" com as suas manifestações ritualísticas e de culto tenham sido mais amplas com outros aspecto e e elementos que passaram despercebidos, incompreendidos, ou então não foram valorizados pelos cronistas que, mesmo com nacionalidades distintas tinham formação cristã, pois tratavam-se de padres jesuítas, um francês católico e outro protestante calvinista e um arcabuzeiro alemão.
(COUTO, 2013).


Referências:
COUTO, Ronaldo. Manifestações Culturais Dos Tupinambás no Brasil Colonial. Rio de Janeiro, RJ: Ed. do Autor, 2013.
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. 3 Ed. São Paulo: Globo, 2006.
FLEISCHMANN, Ulrich; ASSUNÇAO, Mathias Rohrig; ZIEBELL-WENDT, Zinka. Os Tupinambá: realidade e ficção nos relatos quinhentistas. Penélope: revista de história e ciências sociais, n. 14, p. 23-41, 1994.
Maria Clara L. Bingemer. Inácio Neutzling SJ. João A. Mac Dowell SJ. A Globalização e os Jesuítas: origens, história e impactos. 1 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

TICUNA - Do Xamanismo à proibição Jesuíta

Sobre os Ticuna

Os Ticuna formam uma sociedade ameríndia de cerca de 50 mil pessoas, repartidas entre a terra do alto e a terra do baixo, em território brasileiro. Seu modo de organização social ainda hoje implica grande mobilidade, em razão da residência uxorilocal (segundo a qual os novos casais habitam junto à família da esposa), de cisões, práticas xamânicas, movimentos messiânicos e da situação socioeconômica. Os ticuna se encontram hoje em dois conjuntos territoriais, um deles correspondente às margens esquerda e direita do rio Amazonas, no Peru e Colômbia, e outro, mas bacias dos rios Cotuhué (Colômbia) e Putumayo (Colômbia e Peru).
Tanto no Peru como na Colômbia, os ticuna se confrontam há décadas com intrusões do undo exterior, como a proliferação de madeireiros e de frentes colonizadoras e movimentos religiosos que levam a práticas sociais e culturais dificilmente compatíveis com as suas.
As árvores ocupamum lugar de qualidade para os Ticuna, eles tinham concepção integradas no sistema da selva e um profundo significado que representavam, como a samaumeira, umari, açaizal, tueruma, e assim os mitos dos protetores das árvores chamados nanatu (dono, pai e mãe das árvores), como o Wuwuru, Curupira, Mapinguari, Daiyae, Beru... ( RICARDO e  RICARDO, 2011).
Fonte: Huttner (2007)

Vuórekê-djê-ê (Festa da Moça Nova)

podemos reconhecer os Ticuna caminhando em suas comunidades à beira dos rios, em alguma esquina da metrópole Manaus, mas não os conheceremos sem o ritual. O ritual da Festa da Moça-Nova representa, até hoje, a maiors manifestação da expressão da religiosidade Ticuna praticada em algumas aldeias do Alto Solimões;
Relato da Vuórekê-djê-ê:
Ao atingir a idade de 14 anos, a jovem ticuna é afastada do convívio da aldeia, ficando por vários meses recolhida. Aí a índia aprende a confeccionar redes com os mais variados tipos de árvores, escuta ensinamentos transmitidos por parentes e anciãos sobre boas condutas, crenças e tradições. O término desta fase é marcado pelo início da festa do "ritual da depilação", quando a jovem é transportada para um cubículo chamado de turi (cercado arredondado feito de fibras de  palmeira-buriti). Agora os familiares da iniciante e toda a aldeia fazem uma festa. É uma festa de três dias com refeições, bebe-se a principal bebida pajuaru, vários cantos são entoados e rimados no balanço das danças das máscaras. À meia-noite do terceiro para o quarto dia, o cubículo é derrubado por pessoas escolhidas da aldeia. Índios mascarados investem contra a jovem indefesa que necessita de proteção. A jovem retirada do cubículo é rodeada de parentes que a envolvem numa dança que vara a madrugada até o meio-dia. Exausta, é colocada no centro da casa de festa, sentada sobre uma esteira, enquanto anciãs arrancam seus cabelos pouco a pouco.  Enquanto depilam, é oferecido caiçuma para se embriagar. Ao terminar o ritual da depilação, a cabeça da jovem é coberta de tinta (misura de Urucum e seiva da árvore do tururi-vermelho), e depois colocam uma coroa feita com penas de arara vermelha. Assim dá-se por concluído o ritual da Festa da Moça Nova, que é celebrada na continuidade da dança das máscaras, mas agora com a jovem abraçada com seus parentes, preparada para o convívio da aldeia.
[...]
O mito da criação, como esta festa ritual - Vuórekê-djê-ê, mostra a tradição, a cultura, o sagrado do povo Ticuna, de um povo em sintonia com a natureza, a ecologia. Eram os galhos da samaumeira que cobriam o mundo dos heróis Yo'i e Ipi revelando um tempo sem noite, nem dia, A jovem Ticuna se transforma em meio à natureza, como parte integrante dela.

Ticuna e Xamanismo

Entre os Ticuna, o poder da cura está aliado à relação dos espíritos das árvores com o xamã (o curandeiro, feiticeiro) que os invoca para agir em benefício da coletividade, de cada índio doente. Segundo Ari Oro, 'O termo Ticuna para xamã é dy 'uvita. este podia agir como curandeiro (homem-medicina), através de plantas medicinais e outras substâncias, ou como feiticeiro (bruxo), por meio da magia negra. Os dois papéis do dy'uvita eram expressos diferentemente pelos Tucuna: dy'o:wu:e para curandeiro no:ke:wu:e para feiticeiro". 
(ORO, A. Tucuna: vida ou morte, op. cit., p. 83.)

Segundo Hoornaert (1994), o Xamanismo apresenta três características: a) O xamã vive num mundo imperfeito e em contínua crise. Suas visões se aperfeiçoam com o passar do tempo, na circunstância do dado histórico. Sua ação acontece quando exige uma intervenção imediata de ordem individual (doenças), de ordem social (guerras). "É o homem dos momentos difíceis"; b) O xamã está a serviço da comunidade humana e não dos deuses. Não está voltado para o mundo divino como liturgo, por isso não se agarra a nenhuma divindade. Sua devoção está voltada para o povo; c) Sua ação visa apropriar-se dos espíritos para colocá-las a serviço da libertação das pessoas e quebrar todas as amarras que interferem na aldeia. "enfim, o xamanismo se baseia num personalismo livre e sadio que corresponde ao modo de viver dos grupos nômades. [...] O xamã não pratica uma estratégia totalitária e, no fundo, não exerce nenhum poder de tipo político. Sua autoridade é de ordem simbólica. É autoridade sem poder. Exatamente por isso, defende com tanta garra a herança simbólica do grupo: os ritos e os mitos, as danças e cerimônias". 
(HOONAERT, E. História do cristianismo na America Latina e no Caribe. São Paulo: Paulus, 1994, p. 384).

A missão de Jesuítas na Amazônia

A Companhia de Jesus, idealizada por Inácio de Loyola sob o lema Ad maiorem Dei gloriam, teve suas regras aprovadas em 1540 pelo papa Paulo III. Caracterizou-se pela preparação dos membros em via espiritual e profissional para a missão, além das fronteiras do mundo cristão.
Os primeiros contatos dos missionários com os povos indígenas no rio das amazonas foram feitos a bordo dos barcos das coroas ibéricas, de modo que a missão teve que remar contra as correntezas da ideologia mercantilista e expansionista. A missão dos Jesuítas dependia das leis estabelecidas pelas duas Coroasm de outra representava o reconhecimento de novas fronteiras.

A Irmandade da Cruz
No ano de 1972, José da Cruz implanta a Ordem Cruzada Católica, Apostólica e Evangélica (OCCAE) nas comunidades ribeirinhas e nas aldeias Ticuna do Alto Solimões.
O impacto da OCCAE sobre brancos e índios deve-se à pregação e às exigências feitas nas comunidades.
A maior parte dos Ticuna do Solimões decidiu seguir o movimento do irmão José dentro dos pressupostos de todas as suas normas, doutrinas, bem como a exigência de um novo estilo de comunidade orientada pelo signo da cruz. [...] O movimento da Cruz não teve vínculo com a igreja católica, visto que em seus estatutos não admitem que seus membros participem de outra religião. A ruptura que se estabeleceu com a Igreja Católica, segundo Ari Oro, foi pelo fato de que os missionários capuchinhos negaram o sacramento do batismo aos Ticuna da OCCAE, o que levou o fundador a institucionalizar a figura do sacerdote. Outro aspecto é que os Ticuna da Cruz não reconheceram os Ticuna católicos, pois não se consideravam como índios. [...] A irmandade da Cruz proibiu a festa da moça nova em suas comunidades. Na entrevista que o autor fez com o irmão Valter das Nevez Cruz, perguntou-lhe o por quê dessa proibição. Ele disse: "nossa irmandade não permite, pois se você quiser pertencer à Cruz, deve deixar de lado as festas e as bebidas, por isso nós proibimos". 👎👏😒

Texto: (HUTTNER, 2007).

Referências:
BETO RICARDO e FANY RICARDO. Povos indígenas no Brasil: 2006/2010. são Paulo: Instituto socioambiental, 2011.
Huttner, Édson. A Igreja Católica e os povos indígenas do Brasil: os Ticuna da Amazônia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

A cosmovisão Xamânica kaxinawá

Os Kaxinawá acreditam que os verdadeiros xamãs (chamados de mukaya), ou seja, aqueles que tinham dentro de si a muka – substância amarga e xamânica – não existem mais. Isso, porém, não impede que outras formas de xamanismo, menos poderosas, mas igualmente eficientes, sejam praticadas. O xamanismo é uma prática quase exclusivamente desenvolvida pelos homens, cujo objetivo é conhecer e curar através do contato com o lado yuxin da realidade. Para que esse contato se estabeleça, é necessário haver uma transformação corporal e de consciência; é preciso atingir um estado alterado de consciência para ver e interagir com a yuxindade. (LAGROU, 2004, on-line).
O yuxin pode se manifestar tanto como uma força vital quanto como alma ou espírito com personalidade e vontade próprias. Yuxin pode significar também uma imagem fiel, uma réplica de um ser vivo, por isso uma foto pode ser yuxin e um retrato bem feito também: 
Yuxin é espírito ou alma, mas estas traduções não cobrem bem seu significado. Pelo que pude observar no uso da palavra yuxin pelos Kaxinawá, yuxin não é algo sobrenatural ou sobre-humano, localizado fora da natureza ou fora do humano. O espiritual ou a força vital, yuxin, permeia todo fenômeno vivo na terra, na água e nos céus. Por ter essa yuxindade em comum, a comunicação, a transformação e a percepção dos yuxin pelo olhar humano tronam-se possíveis (LAGROU, 1996, p.197- 198 – grifos no original). 
Os Kaxinawá são também conhecidos por  Cashinauá, Caxinauá e Huni Kuin. Pertencentes à família linguística Pano e habitam a floresta tropical no leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, no estado do Acre e sul do Amazonas, abarcando respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari. No Peru, as aldeias kaxinawá se encontram ao longo dos rios Purus e Curanja; as aldeias acreanas se espalham pelos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus (GUESSE, 2014).
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A pessoa é constituída por um corpo carnal habitado por vários yuxin. “O corpo acordado e saudável está com todos os seus yuxin presentes”. Os dois yuxin principais são: Yuxin do olho: ou alma do olho (bedu yuxin) ou ainda verdadeira alma (yuxin kuin); tem origem e destino divinos e sua ligação com o corpo é efêmera; é o mais vital dos yuxin e a pessoa morre quando o yuxin do olho sai para sempre.
Yuxin do corpo: ou alma do corpo (yuda yuxin); é um aspecto da substância do corpo, que o envolve como uma pele exterior e é percebido como uma aura, uma luminosidade; está ligada à sombra e ao reflexo da pessoa; depende do corpo para existir, já   que sem ele a sombra se torna um monstro, uma ameaça. “O espírito do corpo cresce junto ao corpo e sua força depende do aprendizado verbal e consciente do indivíduo durante a vida. Seu destino é de desaparecer na medida em que o corpo morto se desfaz” (LAGROU, 1996, p. 207).
Além desses dois, o corpo humano ainda possui outros yuxin menores, secundários: espírito do sonho (nama yuxin), yuxin das fezes, da urina, dentre outros.
A atividade do xamã de se racionar com os yuxin é indispensável para o bem estar da comunidade; os Kaxinawá acreditam que a causa de todo mal ou doença esteja no lado yuxin da realidade, portanto a função do xamã como mediador é fundamental. Para entrar em contato com a yuxindade, os Kaxinawá têm quatro caminhos. O primeiro deles é a prática coletiva dos rituais, nos quais os yuxin entram em cena em forma corporal; homens e mulheres se mascaram e representam os yuxin no drama ritual, materializando a relação de toda a comunidade com a yuxindade. 

Os outros caminhos são individuais e o contato com a yuxindade acontece na viagem do yuxin do olho (bedu yuxin) que, por sua vez, pode se dar de três formas: quando a pessoa sonha, quando cheira rapé e quando toma a bebida alucinógena nixi pae.
Deve ficar claro que todos os homens adultos que tenham coragem e queiram podem cheirar o rapé e tomar o nixi pae, não apenas os xamãs. Para os Kaxinawá, o nixi pae tem a capacidade de aumentar a consciência e a percepção do lado espiritual e invisível do mundo. No entanto, o uso dessas substâncias pelos xamãs tem o objetivo primeiro da cura, o que não é possível para um homem “comum”:
Nixi pae significa “cipó forte, que embebeda”, e se refere à beberagem feita do cozimento do cipó Banisteriopisis caapi com a folha da Psichotria. Outros termos usados pelos Kaxinawá para se referir ao nixi pae são huni (gente), dami (transformação), dunuã isun (urina da sucuri).
O uso dessa substância psicoativa é muito difundido entre os povos indígenas na Amazônia e deu origem ao Santo Daime entre os seringueiros do Acre. No Acre, a bebida, quando tomada fora do contexto do Daime, é chamada de cipó, no Peru de ayahuasca, na Colômbia de yagé (LAGROU, 1996, p. 198 – grifos no original). 
Yunxidade é uma categoria que sintetiza bem a cosmovisão xamânica dos Kaxinawá, uma visão que não considera o espiritual (yuxin) como algo sobrenatural e sobre-humano, localizado fora da natureza e fora do humano. O espiritual ou a força vital (yuxin) permeia todo o fenômeno vivo na terra, nas águas e nos céus.
O uso da ayahuasca, considerado privilégio do xamã em muitos grupos amazônicos, é uma prática coletiva entre os kaxinawa, praticada por todos os homens adultos e adolescentes que desejam ver "o mundo do cipó". O mukaya seria aquele que não precisa de nenhuma substância, nenhuma ajuda exterior para se comunicar com o lado invisível da realidade. Mas todos os homens adultos são um pouco xamãs na medida que aprendem a controlar suas visões e interações com o mundo dos yuxin.
O xamã tanto pode causar a doença quanto curá-la; o xamã pode entrar em contato com os yuxin e pedir-lhes que matem ou curem uma pessoa. Durante o sonho ou quando está em transe (sob o efeito do rapé ou do cipó), a viagem do yuxin do olho do xamã pode ir em busca da cura de um caso concreto, mas também podem realizar viagens exploratórias, para entender o mundo, adquirir conhecimento e saber as causas das doenças, exploram os caminhos que o yuxin do olho dos mortos terão que trilhar até chegar ao céu e fortalecem as relações com mundo espiritual pelo bem-estar da comunidade (LAGROU, 2004, on-line). 
Nesta primeira narrativa, além da prática de cheirar o rapé de tabaco (muito importante para os kaxinawá, como explicado anteriormente), que intitula o texto, ainda estão presentes os seguintes costumes: prática de dormir na rede (comumente utilizada até os dias de hoje nas aldeias); prática do roçado; prática da caça; prática da pesca (neste caso, pesca-se o bodó nas águas do igarapé) prática da luta, com a utilização de algumas armas (neste caso, a flecha e a borduna); costume de tomar banho no igarapé; dança e canto; estudo para ser pajé (estudo bastante específico e considerado um grande desafio para os aprendizes; este estudo tem características que podem variar de povo para povo); práticas alimentares (neste caso são citados o nambu cozido na caçarola de barro e as bananas cozidas com peixe bodó).
Sobre o que foi citado acima "O xamanismo é uma prática quase exclusivamente desenvolvida pelos homens" há um outro artigo sobre uma Pajé, mulher, que conta um pouco de sua visão, aqui: "Boto Rosa e o Xamanismo na Amazônia"

Referências:
GUESSE, Érika Bergamasco. Shenipabu Miyui: literatura e mito. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – UnEsP, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara  425 f. 2014.
LAGROU, Elsje Maria. Kaxinawá, 2004. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa/print>. Acesso em: 19 abr. 2019.
LAGROU, Elsje Maria. Xamanismo e representação entre os Kaxinawá. In: LANGDON, E. Jean Matteson (Org.). Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis: UFSC,
1996. 

Boto Rosa e o Xamanismo na Amazônia

Segundo a lenda, o boto cor de rosa tem o poder de se transformar num bonito homem vestido de roupa branca. O Boto cor-de-rosa que sai nos rios da Amazônia a noite para encontrar as mulheres. Vai a festas e bailes em busca de jovens mulheres bonitas. Esse boto, tenta seduzir as mulheres e depois convencer elas a dar um passeio no rio. Após seduzi-las, ele sai correndo e se joga no primeiro rio que encontrar. Nessa hora é que todos se dão conta de que não era um rapaz qualquer, mas o boto! (MARTINS, 2014).

Ayahuasca: Um psicoativo em rituais indígenas


De acordo Lebate (2002):
Desde as duas últimas décadas do século XX, uma nova forma de consumo de alucinógenos foi difundida, da Amazônia para as grandes cidades brasileiras e, a partir do Brasil, para diversos países do mundo. Esse novo consumo caracterizou-se por um sentido religioso, através de diversos cultos sincréticos, [...].
A ayahuasca, também conhecida pelos nomes de Santo Daime e Vegetal, é uma bebida composta de duas plantas, o cipó (Banisteriopsis caapi) e a Rubiácea (Psychotria viridis), fervidas juntas durante muitas horas. As substâncias psicoativas nela presente são a DMT (da Psychotria) e a Harmina, Harmalina e Tetrahidroharmina (da Banisteriopsis). A DMT é inativa oralmente e, portanto, apenas sua mistura com um inibidor da monoaminaoxidase (IMAO) pode permitir que seu efeito psicoativo se manifeste. A descoberta dessa combinação sinérgica entre duas plantas é uma das realizações etnobotânicas mais significativas das culturas indígenas e um dos fatos que mais intrigou os cientistas. Já houve até mesmo tentativas de patenteamento, nos Estados Unidos, dessa fórmula do saber fitoquímico dos povos amazônicos - tais tentativas que foram impedidas pela reação das comunidades indígenas.

Ayahuasca
A expansão do uso dessa bebida amazônica psicoativa chamada Ayahuasca (termo de origem quíchua, significando “cipó ou liana das almas”) para além das populações indígenas e mestiças da Amazônia vem sendo considerada o fenômeno mais importante da cultura das drogas enteogênicas (substâncias psicoativas consideradas sagradas) na última década.

Martinez (2009) cita:
Ayahuasca é uma palavra de origem indígena (aya = pessoa morta, alma, espírito e waska = corda, liana, cipó ou vinho) que é traduzida do quíchua como cipó dos mortos, cipó dos espíritos, corda dos mortos, corda dos espíritos, liana das almas ou vinho dos mortos.
Os efeitos da bebida variam conforme o método de preparação, o contexto na qual a bebida é consumida, a quantidade ingerida, o número e o tipo de misturas. Alucinações visuais, diarréia e vômito  podem ser observados com o uso regular da ayahuasca e taquicardia e morte em casos de intoxicação.
O consumo da ayahuasca produz visões que variam segundo a atitude dos apreciadores desta bebida. Quando as visões são complexas e existe um alto grau de envolvimento dos consumidores da ayahuasca, eles podem interagir ativamente com suas visões e desempenhar atos associados a elas.

Do consumo ritual da ayahuasca nasceram diferentes cultos/religiões: o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal (UDV). O Santo Daime foi fundado por Raimundo Irineu Serra em 1930 nas regiões fronteiriças do Acre e de Rondônia com a Bolívia. Este culto  nasceu após a ingestão da ayahuasca por Raimundo Irineu, que teve uma visão de uma mulher que dizia ser a virgem da Conceição e que  transmitiria seus ensinamentos para que ele criasse uma doutrina.
Preparação
Enquanto na Europa as plantas alucinógenas foram usadas para práticas de feitiçaria e adivinhações, no Brasil o consumo de espécies alucinógenas usadas em rituais indígenas, deu origem ao desenvolvimento de diversos cultos e religiões. Pode-se observar que o consumo de plantas brasileiras levava a alucinações visuais e as solanáceas a alucinações sensitivas.
Embora plantas alucinógenas continuem sendo usadas em todo o mundo, inclusive em cultos religiosos, o uso de plantas vem dando lugar aos alcaloides sintéticos.

Há relatos de pessoas que já tomaram e contaram, um deles foi de Gustavo, no site Muita Viagem (2014):

[...] Eu estava sozinho em uma cabana sem energia elétrica, mas quando o Ayahuasca começou a fazer efeito alucinógeno, sabia que tinha mais sete seres no quarto, entre entidades boas e malvados. Mandei todo mundo tomar no cu sem distinção: podem ficar aí que eu nunca vi tantas cores. E tudo brilhava. [...] O passado, o presente e o futuro se misturam. [...] Fiquei de pé e quase caí, o desequilíbrio era muito grande.  Perdi a noção de proporção, do meu tamanho no mundo.  Meus olhos pediram para fechar, e quando fechei, uma explosão de cores muito, muito intensa. [...] Para ver completo clique aqui.

"De olhos fechados, as visões são bem assim..." (Muita viagem, 2014)

Fonte: quantumkool

Referências:
LABATE, Beatriz Caiuby; ARAÚJO, Wladimyr Sena. O uso ritual da ayahuasca. 2002.

MARTINEZ, Sabrina T.; ALMEIDA, Márcia R.; PINTO, Angelo C. Alucinógenos naturais: um voo da Europa Medieval ao Brasil. Quim. Nova, v. 32, n. 9, p. 2501-2507, 2009.