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Caipora e Curupira: Intoxicados pelo retrocesso ambiental?

Caipora é uma índia anã, com cabelos vermelhos e orelhas pontiagudas. Existem versões em que seu corpo é todo vermelho e noutras, verde.
Aguilera (2007) lexicaliza dois verbetes: caapora e caipora. No primeiro, descreve o caapora como S. 2 [do tupi Kaa’pora], “o que há no mato”. Entre os índios o homem morador do mato, roceiro. V. caipira (1) Bras. Caipora (1). No segundo, já para caipora traz:  [do tupi Kaa’pora, morador do mato.] 1. Ente fantástico oriundo da mitologia tupi, representado segundo as regiões, ou como forma de mulher unípede que anda aos saltos, ou com uma criança de cabeça grandíssima, ou como caboclinho encantado, ou como um homem agigantado, montado num porco-do-mato ou com um pé só. 
Ela vive nua nas florestas e tem o poder de dominar e ressuscitar os animais. Seu intuito principal é defender o ecossistema e, portanto, faz armadilhas e confunde os caçadores. Além disso, ela tem o poder de controlar os animais e, por isso, os espanta quando sente que algo de mal pode acontecer.
Em certas versões, ela tem o pés voltados para trás igual ao Curupira. Por isso, em alguns locais do Brasil, ela é confundida com o Curupura.
Alguns estudiosos afirmam que a Caipora surgiu da lenda do Curupira. Ou seja, para eles ela é uma derivação dessa personagem folclórica.
Quanto a isso, podemos notar aspectos similares entre as duas figuras, como por exemplo, serem protetores da floresta. Ambos lutam pela preservação do ambiente e costumam assustar ou mesmo pregar peças nos caçadores, madeireiros, exploradores, etc.
Outra versão:
De acordo com (Foguel 2016) Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça. Seu corpo é coberto de pelos. Vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.
No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular, é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, que tudo se intensifica. Porém todavia, tem como driblá-lo. Caipora gosta de fumo, então diz que antes de sair tem que deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer "toma caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico.

Note que ela pode ser representada por um homem ou uma mulher. Isso vai variar de acordo com a região em que a lenda é relatada.
No livro "Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro" (Foguel, 2016) descreve Curupira com traços semelhantes a Caipora. "anão de cabelos vermelhos e compridos, pés virados para trás [...] também se dizia que a pessoa deveria levar um rolo de fumo para entrar na mata caso encontrasse, Curupira assim como Anhanga ou Pai-do-Mato são protetores da fauna e da flora, também assobia e deixa pegadas, e como seus pés são virados para trás engana os exploradores da natureza.

Agora parou o blablabla...

Qual a diferença entre Caipora e Curupira?

"Os Curupiras têm a pele parda e cabelos vermelhos, que geralmente passam dos ombros. Costumam se adornar com pedras preciosas, linhas de tinta vermelhas e pretas e cipó, além de brincos e colares. Enquanto os Curupiras apenas passam linhas de tinta, fazendo desenhos como os índios, os Caiporas pintam a pele inteira de uma única cor, o verde-mato. Quem o vê pensa que sua pele é verde, mas a pele é parda também. Só que eles sempre vivem com a pele pintada, deixando apenas alguns traços brancos no rosto eventualmente. Para os Caiporas, é ofender a Sy deixar a pele parda, pois como são filhos da Mãe-Terra, devem pintar a pele da cor dela.
Os Curupiras são menos espirituais que os Caiporas, e menos sérios também. Os Caiporas são tão empenhados na adoração da Mãe-Natureza que dão a entender que são cruéis – e muitas vezes os são mesmo. Os Curupiras são mais de diálogo, os Caiporas são mais mortais e perigosos. Seus reinos em florestas são tão bem escondidos que nem mesmo um Curupira poderia encontrar com facilidade.
Os Caiporas tem a pele inteira pintada de verde-mato, mas têm cabelos vermelhos como os dos Curupiras. Geralmente utilizam o arco e flecha como armas de conflito, e são os melhores nisso" (folclorando, 2015).

Curiosidades

A Caipora também é uma personagem do programa televisivo “Castelo Rá-tim-bum”. Esse programa infantil passava nos anos 90 na TV Cultura. Nas telinhas, cada vez que alguém assobiava a Caipora aparecia e contava histórias indígenas (Toda Materia).
“Castelo Rá-tim-bum”
"Suas primeiras pesquisas coletavam principalmente os versos e lendas transmitidos oralmente pelos camponeses analfabetos e que pareciam representar uma herança antiquíssima. Gradativamente, a sua abrangência foi se ampliando, atingindo, para além da poesia oral, as melodias, danças, festas, costumes e crenças das populações rurais" (VILHENA, 2017).
A tradicionalidade, talvez a característica básica dos fatos folclóricos, é entendida hoje como uma continuidade de representações do passado, na qual os fatos novos se inserem sem provocar, contudo, uma descontinuidade com as antigas práticas. No âmbito desse entendimento, o folclore é universal e tradicional em seus temas e motivos – as invariantes –, e é regional, isto é, próprio de uma comunidade, de uma vila, de uma região, na medida que é atualizado na ocorrência de variantes e versões: O Bumba-meu-Boi, o mito do Caipora (Curupira), sobrevivendo de diferentes maneiras por todo Brasil, são exemplos dentre tantos outros. portadores de folclore não são mais exclusivamente analfabetos; muitos deles são responsáveis pela circulação, comercialização, divulgação e até mesmo da gravação da sua obra, como é o caso da cantoria, ou utilizam as novas tecnologias da comunicação para imprimir o seu folheto [...]  o folclore é dinâmico e evolui com as mudanças da sociedade. Não é sobrevivência, mas cultura viva. As nossas manifestações folclóricas são criações do povo brasileiro ou foram recriadas a partir de outras culturas e incorporadas às nossas tradições (ALCOFORADO, 2008).

As lendas do folclore brasileiro, são ou eram facilmente disseminadas por pessoas analfabetas, que de fato acreditam nelas! Entretanto, mais inteligentes que a ganância industrial, de empresas multinacionais, essas que passam por cima da regionalidade, da natureza e do próprio ecossistema.

O Curupira perdeu a força do mito

Artigo de Raimundo Nonato Brabo Alves 
O Curupira é uma entidade mitológica do folclore brasileiro. Tão antiga que o Padre José de Anchieta já o citava em 1560. No tempo de José de Anchieta eram apenas os caçadores e lenhadores. Hoje além deles são madeireiros, barrageiros, mineradores, garimpeiros, agronegociadores e principalmente legisladores que se o Curupira como entidade da floresta não conseguiu inspira-los, já perdeu ha muito seu poder de proteção contra os demais atores de destruição da floresta, tanto da Mata Atlântica quanto da Amazônia.
O Curupira perdeu feio a batalha no Congresso Nacional com o novo texto do Código Florestal aprovado em primeira instancia na Câmara e no Senado. O “novo código” cujas emendas ameaçam as APPs e as matas ciliares e anistiava os desmatadores que em desrespeito a lei não preservou suas reservas florestais, se constitui em retrocesso segundo a comunidade científica e de ecologistas, preocupados com os crescentes desequilíbrios ambientais.
Não tem mais poder o Curupira de impedir o avanço do agronegócio de monocultivos sobre as pequenas propriedades de agricultores familiares, que ao vendê-las a preços aviltantes aos grandes grupos empresarias, se tornam assalariados das mesmas empresas, comprometendo a cadeia produtiva de inúmeros cultivos como a o da mandioca, produto altamente ligado à cultura amazônida, provocando a instabilidade de oferta e de preço como no ano anterior, comprometendo a segurança alimentar da região.
O Curupira há muito não consegue mais confundir os garimpeiros e mineradores que com equipamentos mais sofisticados multiplicam por muitas vezes a velocidade de exploração dos minerais da Amazônia a ponto de suplantar a capacidade de degradação natural de seus rejeitos tóxicos, transferindo como herança para às futuras gerações, verdadeiros “cemitérios” de metais pesados nas proximidades da maior bacia hidrográfica do planeta.
Os mitos e lendas da Amazônia, tal como o Curupira, vem sendo triturados e liquefeitos pelas serras, turbinas, fornos e engrenagens que nos últimos 50 anos promovem o “desenvolvimento” da Amazônia. Quanto mais se fala em sustentabilidade a impressão que fica é a de que menos se pratica. Espero que haja tempo para uma reflexão da sociedade sobre o futuro que queremos, para que nossos mitos e lendas tenham algum significado para as futuras gerações.
Raimundo Nonato Brabo Alves é Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental
EcoDebate, 28/02/2014

Fotografias para conhecer!

Parque Ambiental Chico Mendes - Rio Branco, Acre, Brasil
Parque Ambiental Chico Mendes - Rio Branco, Acre, Brasil

Rio Branco, Acre, Brasil (O curupira (1996). PVA sobre zinco. Acervo: Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco-AC.)

Outras imagens...

Imagem 1 
Imagem 2
A Caipora tá lá na mata, ela tá dançando ela tá te vendo, seu moço aperta seu passo pois nas garras dela tem inté veneno, sinhô essa Caipora é brava não mexe com os bichos e suma logo, saia correndo; ela mora aqui faz tempo, toda essa natureza ela vai protegendo. . .
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Referências:
Imagem 1: https://harrypotter.fandom.com/wiki/Caipora
Imagem 2: Caipora by  rafanarchi
Imagem 3: https://www.facebook.com/folcollab/photos/a.111258986135925/168618837066606/?type=3&theater
Imagem 4: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/11/lendas-59-quadrinistas-se-reunem-para-contar-o-folclore-brasileiro.html
Imagem 5: https://incrivel.club/admiracao-curiosidades/10-lendas-do-rico-folclore-brasileiro-como-voce-nunca-viu-671060/
Imagem 6: https://br.pinterest.com/pin/603200943820871731/
Toda Materia: https://www.todamateria.com.br/caipora/
Ecodebate: https://www.ecodebate.com.br/2014/02/28/o-curupira-perdeu-a-forca-do-mito-artigo-de-raimundo-nonato-brabo-alves/
Folclorando, 2015 (Acácio Souto): https://folclorando.wordpress.com/2015/01/14/qual-a-diferenca-entre-caipora-e-curupira/
ALCOFORADO, Doralice F. X. Do folclore à cultura popular. Boitatá – Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, v. 3, 1980. 2008. Texto apresentado pela autora, enquanto presidente da Comissão Baiana de Folclore, em 03/09/2007, no Rotary
Club, Salvador. 2008. INSS 1980 - 4504.
FOGUEL, Israel. Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro. São Paulo: Clube de Autores, 2016.
AGUILERA, Vanderci de Andrade; DOS SANTOS, Ariane Cardoso. Crendices populares paranaenses: o caso do caipora. Boitata, v. 2, n. 3. 2007.
VILHENA, Luís Rodolfo da Paixão. Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964. 2017.
https://almaacreana.blogspot.com/2016/08/helio-melo-o-artista-da-floresta.html
https://www.flickr.com/photos/visitbrasil/23808145089/in/photostream/

Mapinguari pan-amazônico

O Mapinguari é o mais popular dos monstros da Amazônia. Seu domínio estende-se pelo Pará, Amazonas, Acre, vivificado pelo medo duma população infixa que mora nas matas, subindo os rios, acampando nas margens ignotas das grandes águas sem nome. [...] Mata sempre, infalivelmente, obstinadamente, quem encontra. Mata para comer. Descrevem-no como um homem agigantado, negro pelos cabelos longos que o recobrem como um manto, de mãos compridas, unhas em garra, fome inextinguível. Só é vulnerável no umbigo. Esse lugar é clássico para a morte dos monstros como o lobisomem em certas paragens, porém o Mapinguari dorme a noite. O perigo é de dia, o dia penumbra no meio das florestas que coam a luz do sol fazendo-a macia e tênue. O mapinguari berra alto, berros soltos, curtos, altos, atordoadores. Esses gritos roucos e contínuos explicam rumores que a floresta produz sem justificação, assim como o Curupira batendo nas árvores, Boitatá enroscando-se em fogo nas relvas, Anhanga galopando com olhos coruscantes, Caapora guiando a manada de porcos caetetus, etc. Que signiica Mapinguari? Possivelmente se trata de uma contração de mbaé-pi-guari, a coisa que tem o pé torto, retorcido, ao avesso. O início do espanto seria o rastro de forma estranha, circular, indicando justamente a direção oposta ao verdadeiro rumo. Posteriormente é que a imaginação criou a figura material, tão semelhante aos outros monstros (CASCUDO, 2015).

Mapinguari pan-amazônico: personagem única e definitiva
Os traços do Mapinguari apresentados acima levam a concluir de imediato que se trata de uma personagem com características muito semelhantes ao Capelobo, mas também se pode deduzir que ele é quase uma síntese das personagens estranhas contidas em narrativas da tradição ancestral europeia (como eram o Polifemo, da tradição grega, e o Olharapo da tradição portuguesa, por exemplo), da tradição ancestral indígena (como o Curupira, sobretudo, gigante ciópode/monópode/unípede e/ou bípede, hipópode e/ou opistópode etc.) e da tradição nordestina (como, particularmente o Pai da Mata e o Capelobo) que no cadinho das florestas e das águas tropicais se tornavam Mapinguari.
Vegini (2014)
Com base no levantamento histórico-bibliográfico de Vegini (2014), constatou-se que: (a) na tradição europeia são muitas as personagens, que contêm uma ou mais das características apontadas acima, destacando-se entre elas o Polifemo de Homero (Imagem 01), como a mais emblemática, o ciclope da Imagem 02, como uma síntese delas, e o Olharapo, como o mais brasileiro dos monstros lusitanos; (b) na tradição ameríndia, também são muitas as personagens que contêm uma ou mais características descritas acima entre as quais se destacam o Jurupari (Jurupari/Wãx-t/Bisiu), o Anhanga, o Caapora/Caipora, o Mboi-Tatá, os Curiguerês/Curinqueans, o Bicho-Preguiça gigante, o Macaco-Preguiça gigante e o Curupira (Curupira/Mutayús, Curupira/Boraró/Moláro), como a mais significativa dentre elas; (c) a partir de 1500, com a tomada de posse do Brasil pelos portugueses e o choque cultural entre a civilização europeia e a ameríndia daí decorrente, essas personagens foram aos poucos sendo adaptadas e narrativas dessa tradição de gigantes foram refletindo a nova realidade e fazendo surgir, especialmente no Nordeste brasileiro, personagens não menos estranhas como o Pai da Mata, o Papa-Figo, o Gorjala, o Pé-de-Garrafa, o Bicho-Homem, o Labatut, o Quibungo e o Cupelobo/MA, a primeira e a última como as mais expressivas; (d) no final do século XIX e princípios do século XX, essas narrativas chegaram à região amazônica, a partir do Pará, através dos retirantes nordestinos, que buscavam na borracha uma forma desesperada para sobreviver; (e) ao chegarem à região Norte, esses migrantes se depararam com outras narrativas da tradição ameríndia e, nesse novo amálgama, suas personagens sofreram novo processo de adaptação surgindo daí novas narrativas de personagens ainda mais monstruosas como o Capelobo do Pará e, posteriormente, o Mapinguari, um macacão gigante e antropófago, ciclope ou binóculo, ciópode ou bípede, hipópode e/ou opistópode, blêmio, de berros estridentes, com unhas enormes e em forma de garras, cabelos negros e longos, corpo coberto com uma armadura impenetrável, mas vulnerável no umbigo, de onde
exalava fedor insuportável, e de hábitos diurnos de caminhar na mata, período do dia em que se dedicava a praticar suas perversidades; (f) narrativas tendo como protagonista essa nova personagem monstruosa, pela boca dos seringueiros, dos indígenas, garimpeiros, mateiros, caçadores e ribeirinhos, enfim, foram se alastrando pelas matas e barrancas dos rios e alcançaram praticamente toda a região Norte do Brasil, do Norte ao Sul, do Leste ao  Oeste, ganhando assim contornos pan-amazônicos; (g) pelo exame detalhado das características físicas e psicológicas do Mapinguari, ele é, na realidade, um complexo mosaico de traços de personagens de narrativas da tradição europeia (semelhante ao Polifemo de Homero e o Olharapo da tradição oral transmontana, por exemplo), e ameríndia (semelhante ao Curupira do litoral e do interior de todo o Brasil, por exemplo), filtrados, parcialmente, pela tradição dos gigantes nordestinos (semelhante ao Pai da Mata e ao Cabelobo, por exemplo); (h) por reunir em si mesmo e unicamente um amplo feixe de traços de variada tradição de gigantes monstruosos, ele se tornou uma personagem singular e definitiva do folclore amazônico, brasileiro e universal. 
(I) as narrativas da tradição europeia, com adaptações nordestinas, vieram para a Amazônia durante o ciclo da borracha e se disseminaram entre grupos indígenas com as devidas adaptações locais, tornando-se um mito pan-amazônico; 
(II) as narrativas da tradição ancestral europeia, com adaptações nordestinas, e a tradição ancestral indígena se miscigenaram na Amazônia; 
(III) as narrativas  da tradição ancestral ameríndia se difundiram na Amazônia fortemente influenciadas pelas narrativas ancestrais europeias com adaptações nordestinas; 
(IV) independentemente da ocorrência das demais hipóteses, as narrativas da tradição ancestral ameríndia se mantiveram em grupos isolados apesar de que, na locução intercultural, apresentem
tentativas de adaptação.
Vegini (2014)
O ciclope da Imagem 02 abaixo é uma das personagens dos bestiários medievais inspirados em Plínio e Solinos e seus seguidores. Trata-se de uma representação iconográfica de uma personagem gigante multifacetada, uma espécie de desenho síntese da tradição das narrativas ancestrais. Ele é, a um tempo, uma personagem de um olho só [ciclope ou arimáspio], com boca no peito [blêmio], com hipertrofia auricular [panócio], parecendo ter um único pé às avessas [ciópode e opistópode]. 
Conforme mostra a Imagem 07 acima, personagens encontradas por von Martius em narrativas da tradição indígena do Amazonas, ou bocarra em sentido vertical, do nariz ao umbigo como a do Quibungo da Baía, semelhante a uma vagina dentada com seu orifício mortalmente perigoso que conduzia ao útero da mãe Terra de que falam Eliade e Kappler272; somente o Mapinguari tinha unhas compridas em forma de garras como as unhas de dez metros do Pai da Mata do Cariri, como as unhas do Bicho-Preguiça e do Macaco-Preguiça dos Karitiana (SPIX e MARTIUS, 1981, p. 136-7; CASCUDO, 1976, p. 187/ nota de rodapé).

O Mapinguari que vive próximo às aldeias Karitiana é o mesmo que vaga por seringais acreanos ou por outras remotas paragens amazônicas? Como compreender esta aparente vasta difusão territorial do temido ogro, este “verdadeiro demônio do Mal”, nas palavras de Câmara Cascudo (2002, p. 222)?

Os efeitos da presença sempre perigosa do Mapinguari continuam sendo sentidos – ou seja, a experiência real neste particular mundo possível (possível, repito, para mim, não para aqueles que o habitam) – pelos Karitiana e pelas populações ribeirinhas em Rondônia, conforme a matéria publicada no jornal eletrônico rondoniaovivo.com, em 8 de outubro de 2014, e discutida por Vegini e Vegini (2015, p. 8). De acordo com o noticiário: 

A notícia de que um grupo de catadores de açaí teriam avistado um mapinguari na Reserva Florestal Sumaúma deixou os moradores da Vila dos Pescadores apavorados. Localizada na cabeceira da ponte sobre o rio Jamari, há cerca de 85 quilômetros de Porto Velho, a Vila dos Pescadores é formada por mais de 30 famílias, todas sobreviventes da pesca e da extração do açaí. O fato aconteceu no início do mês de setembro [de 2014], quando um grupo de extrativistas foram [sic] realizar a coleta do açaí no rio Japiim, onde fica localizada a Reserva Sumaúma, próximo a uma grande Serra. De acordo com um dos extrativistas, que prefere não se identificar, essa é uma viagem muito perigosa, pois são cerca de 5 horas de viagem de motor Rabeta para chegar lá. “Na Reserva Sumaúma é onde está a maior quantidade de açaí silvestre, mas por ser uma mata onde ninguém adentrou, ficamos expostos a vários riscos, entre os quais, inúmeras espécies de cobras e onças”, afirma.
Para outro catador que fazia parte do grupo, tudo teria começado quando eles ouviram um grito floresta adentro. “Comecei a imitar o grito e percebi que o som se aproximava de nós. Foi quando começamos a ouvir um forte estralo e de maneira intermitente. Nesse momento, apareceu uma criatura de cor escura e de aproximadamente dois metros de altura, com apenas um olho avermelhado como chamas”, disse.
Assustados, todos deixaram o açaí que tinham colhido e correram para a beira do rio, pegaram o Rabeta e voltaram para uma barraca improvisada que eles tinham feito. Mas ao chegar próximo da barraca, o medo foi ainda maior, quando viram novamente a criatura próximo da barraca. Na mesma hora, todos retornaram para a canoa, ligaram o Rabeta rapidamente e voltaram atemorizados em direção a Vila. “Já estava escuro quando saímos da reserva, sem lanterna e deixamos tudo para trás. A viagem de volta foi mais perigosa, pois não enxergávamos quase nada”, disse um deles.
O susto foi tão grande que alguns deles não conseguiram dormir por alguns dias. A notícia logo se espalhou na Vila e devido ao ocorrido, nenhum extrativista se arrisca a ir mais naquela reserva (Bosco, 2014).

Estavam eles sob efeito de Ayahuasca?


Referências:
BOSCO, João. Mistério - Catadores de açaí afirmam ter visto um Mapinguari. Rondoniaaovivo.com, 7 out. 2014. Disponível em: <http://www.rondoniaovivo.com/noticias/misterio-catadores-deacai-afirmam-ter-visto-um-mapinguari/119282#.VVHsbyHBzGd>. Acesso em: 04 março 2019.
CASCUDO, Luíz da Camara. Geografia dos mitos brasileiros. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2015.
VANDER VELDEN, Felipe Ferreira. Realidade, ciência e fantasia nas controvérsias sobre o Mapinguari no sudoeste amazônico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 11, n. 1, p. 209-224, 2016.
VEGINI, Valdir; VEGINI, Rebecca; FERREIRA NETTO, Waldemar. O monstruoso Mapinguari pan-amazônico: uma sucessão de adaptações aloindígenas. Porto Velho: Temática, 2014.
VEGINI, Valdir; VEGINI, Rebecca. O gigante monstruoso mapinguari e a solidez dos narratemas da tradição. Revista Sustentabilidade Organizacional, Porto Velho, v. 2, n. 1, p. 1-13, fev.-jul. 2015.

Jurupari: Folclore ou filosofia?

Jurupari cuja etimologia provém do tupi-guarani yupa’ri quer dizer diabo, entre os indígenas (HOUAISS, 2009, p.1140), um ser que se diverte angustiando os índios no momento em que estão mais vulnerais, ou seja, no sono. Nos primórdios da colonização brasileira, índios, de distintas tribos, que viviam na costa leste do Brasil, para fugirem da condição de escravos a que eram submetidos, adentraram o interior, as regiões centro-oeste e norte e lá se refugiaram, principalmente, na floresta Amazônica, onde há tribos indígenas até os dias atuais (BELLINI, 2015, p. 125).

De acordo com Cascudo (2017): Jurupari nunca figurou realmente no folclore brasileiro. É uma presença literária, valendo um Demônio ou um pesadelo. Os indígenas ainda mantêm seu culto na extenção do Rio Negro, por onde parece haver descido das tribos aruacos do Orenoco, via Cassiquiare. Diz Cascudo que nem Tupã era deus ameraba e nem Jurupari ou Anhangá foram demônios brasileiros. Jurupari, reformador de costumes, égide de religião nova, criador de cultura, está distante de qualquer aproximação infernal. O autor diz que Jurupari traz uma espécie de legislador filósofo, como Buda, Confúcio, etc., algo rudimentar e noções de vida prática. E o que o faz pensar isso são as seguintes leis atribuídas pelas quais governam-se os nossos índios, tanto do Uaupés, como do Içana e do Rio Negro:
1 - A mulher se conservar virgem até a puberdade;
2 - Nunca se prostituir e ser fiel ao marido;
3 - Após o parto, deverá o marido obster-se de todo trabalho e comida, pelo espaço de uma lua, a fim de que a força dessa lua passe para a criança;
4 - Mulheres estéreis serão abandonadas;
entre outros que estão listados no livro...

A seguir um trecho da pesquisa de Vasconcelos (2015), "Uma leitura psicanalítica da lenda do Jurupari" 
Tão polêmico quanto Totem e Tabu, temos A Lenda de Jurupari, “um dos textos mais importantes da literatura indígena das Américas” (MEDEIROS, 2002, p. 263).
Na passagem do mito em questão, temos a proibição da ingestão de uma fruta por moças que ainda não atingiram a puberdade, pois a fruta desperta apetites latentes. Temos condições de inferir que se trata, em essência, da proibição do incesto e que Seuci infringe tal condição. Por que? Primeiro, não podemos esquecer que Jurupari é o “enviado do Sol”. Os poderes extraordinários do pajé e a forma como ele engravida todas as índias, somado ao fato do pajé ser aquele que estabelece comunicação com os deuses e de ser uma espécie de representante dos mesmos, podemos inferir que Seuci é filha do Sol. O próprio nome Seuci nos aproxima dessa possibilidade, já que Seuci é o nome de uma constelação de estrelas e “Seuci da Terra” era como a linda índia era chamada; segundo, o mito conta que Seuci engravida do suco de uma fruta proibida. Isso é muito semelhante à forma como Zeus, na mitologia grega, transmutava-se em chuva, animais etc. para fecundar mulheres mortais (e virgens). Logo, é possível pensar na possibilidade de Jurupari ter sido fruto de uma relação incestuosa.  Lembremos que, em algumas traduções, Jurupari significa também “boca fechada”. O simbolismo na descrição da relação entre Jurupari e Seuci são indícios desse “silêncio”, ou seja, da proibição do incesto. Com o nascimento do “enviado do Sol”, temos assim o início da cultura e das primeiras leis. 
Como não será possível agora dar continuidade a uma análise detalhada da lenda completa, resumiremos o que acontece depois na tribo do tenuriana. Jurupari propôs-se a instituir uma sociedade secreta para acabar com o poder das mulheres, revertendo ao homem as qualidades e atributos do mando, em sintonia com as leis do Sol. Promoveu diversas reuniões de doutrinação, em que só homem podiam participar e ensinou, principalmente, aquilo que as mulheres não conseguiam aprender, ou seja, serem discretos, a fecharem as “bocas”. Instituiu também leis de matrimônio e obrigou as mulheres a manterem a virgindade até a primeira menstruação e também criou e determinou relações de trabalho. Para finalizar, relembramos a missão primeira de Jurupari e que a lenda termina sem que ele a tenha cumprido: encontrar a mulher perfeita para o Sol.  O final da estória é muito significativo, pois Jurupari só diz que irá para o céu após cumprir essa missão, uma missão impossível. Mas é dessa impossibilidade que o mito trata o tempo todo: incestos, poder de um só sexo, mulher perfeita... mas é a impossibilidade que faz Jurupari legislar sobre a Terra e possibilitar o surgimento da cultura e das primeiras leis.  Portanto, por esses motivos, podemos aproximar o mito freudiano ao mito de Jurupari, na medida em que ambos podem ser definidos como “[...] um retrato bem conservado de um primitivo estágio de nosso próprio desenvolvimento” (FREUD, 1913, p. 21 apud VASCONCELOS, 2015).
 “O passado só existe na medida em que é historiado pelo presente” (VASCONCELOS, 2015).
Referências:
BELLINI, Nerynei Meira Carneiro. Realismo Maravilhoso No Brasil Insólito De Monteiro Lobato. Claraboia, v. 1, n. 2, p. 117-129, 2015.
CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. 3 Ed. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2017. 232 p.
VASCONCELOS, Bruno Rudar Teixeira. Folclore Amazônico: uma leitura psicanalítica das lendas do Jurupari e da Ceuci. 2015.

Capelobo

Capelobo ou Cupelobo é uma crença da bacia do Xingu e de outras regiões do Maranhão e do Pará. Monstro fantástico, de origem indígena, cuja "aparição" porém espalhou-se pelos arraiais caboclos (MUCCI, 1977).

Criaram o Capelobo, animal invulnerável, velocíssimo e perseguidor dos índios e caçadores ousados. O Capelobo é creado pelo ramo racial dos mamelucos. Não pode ser autóctone como o Anhangá e o Caipora. Para algumas tribos é o velho que já esqueceu a idade. N'outras, é um animal como o Tapuayuara... (Revista do Brasil, 1923).

As matas do Nordeste, sobretudo as do Pindaré, são habitadas por esse bicho com corpo de homem, peludo cascos em forma de garrafa no lugar dos pés, focinho idêntico ao de um tamanduá-bandeira. A vítima preferencialmente humana é abatida por uma trepanação, pelo que, tendo o crânio imobilizado, vê-se incapaz de escapar e ter toda sua massa cefálica sorvida pelo focinho do Cupelobo, apoiado como uma ventosa no orifício. Câmara Cascudo registrou-o com o nome de "Capelobo" e diz que há referências também nos rios paraenses, onde goza de popularidade e assombra indígenas caçadores - "O nome Capelobo é hibridismo de capê, que tem osso quebrado, torto, pernas tortas, e o substantivo português lobo" 
(PEREIRA, 2014.)
capelobo by rocksilesbarcellos

Corso (2002) diz que Capelobo (ou Cupelobo) provavelmente é o avó do Chupa-cabra. Seu corpo, no formato e no tamanho, equivale ao humano, mas é muito mais peludo, e sua cabeça é como a da anta ou a do tamanduá. Entre seu hábito está comer vísceras porém o que chama atenção são as marcas que deixa no animal atacado, são mínimas, equivalentes a dois pequenos furos ou um furo não muito grande, pelo qual não seria possível retirar as vísceras. É como se ele sugasse a vítima, não lhe estragando as formas externas.

Dentre os fantasmas perigosos, nenhum era tão feroz como o Cabelobo. Sua personificação era a do próprio Satanás. Sua função era  ade policiar a conduta das pessoas durante a Semana Santa. Velho Aprígio dizia: Eu temia muito o Capelobo. Na vizinhança havia um homem mais imundo do que propriamente velho. Era o Capelobo dos meninos da localidade (CAMPÊLO, 1970).

Nisso, ele lembra o Cabelobo que também é um ser que nasce da velhice. Não ficam claros os outros requisitos, além do envelhecer, para virar monstro. De qualquer forma, temos a ideia que um prolongamento excessivo da vida traz consigo o pior (CORSO, 2002). No blog Portal dos Mitos também cita um pouco desse ser folclórico! 
Capelobo ataca novamente.
Capelobo by Sofia B. D. de Oliveira

Eu não podia deixar de publicar essa notícia cômica
:  Acabou o mistério: Índios de aldeias localizadas na cidade de Arame, interior do Maranhão, mataram um “capelobo”, que vinha aterrorizando as comunidades indígenas e destruindo as plantações. Fato é que o capelobo estava tirando o sossego e amedrontando populares e comerciantes que residiam em um povoado próximo as aldeias. Veja a foto aqui ! 😂


Referências:
CAMPÊLO, Zacarias. Minha vida e minha obra: (memórias). Casa Publicadora Batista, 1970. Universidade de Wisconsin - Madison. Digitalizado em 22 set. 2010.
CORSO, Mario. Monstruário: inventário de entidades imaginárias e de mitos brasileiros. Tomo Editorial: Universidade do Texas, 2002.
MUCCI, Alfredo. Acauã: alguns aspectos morfocromáticos do medo e ansiedade no fabulário popular brasileiro. Editora Morumbi, 1977. Universidade da Califórnia. Editado em 29 abr. 2010.
PEREIRA, Julio Cesar. Três vinténs para a cultura: o incentivo fiscal à cultura no Brasil. São Paulo: Escrituras Editora, 2014.
Revista do Brasil, Volume 23,Edição 92 -Volume 24,Edição 94. 1923

Boto Rosa e o Xamanismo na Amazônia

Segundo a lenda, o boto cor de rosa tem o poder de se transformar num bonito homem vestido de roupa branca. O Boto cor-de-rosa que sai nos rios da Amazônia a noite para encontrar as mulheres. Vai a festas e bailes em busca de jovens mulheres bonitas. Esse boto, tenta seduzir as mulheres e depois convencer elas a dar um passeio no rio. Após seduzi-las, ele sai correndo e se joga no primeiro rio que encontrar. Nessa hora é que todos se dão conta de que não era um rapaz qualquer, mas o boto! (MARTINS, 2014).

O Folclore do Boitatá

Boitatá é uma palavra de origem indígena. Essa lenda, como muitas outras gera controvérsias sobre sua real origem. Alguns pesquisadores acreditam que ela teve origem no século XVIII.
Essa é uma típica lenda indígena, e há quem acredite que ela tem origem no Brasil, foi difundida por nossos índios da Região Sul, mas se estende por todo território nacional. Há registro dessa lenda em uma das cartas do padre jesuíta José de Anchieta, datada de 1560.

Segundo a lenda, o Boitatá é uma gigantesca cobra de fogo, que afugenta a todos os que ousam maltratar a natureza e os animais, ela é a grande defensora da floresta e das campinas. Conhecido também como "fogo que corre". Na linguagem tupi chama-se mbaetata, quer dizer: "coisa de fogo", embora tenha vários nomes.
Outros dizem que é o espírito ruim das almas penadas e espalha fogo por onde passa.
E como se não bastasse a escuridão, houve também uma grande enchente causada pela enorme quantidade de chuva. Os animais, assustados, foram se esconder nos pontos altos das montanhas para se protegerem. A boiguaçu, como é chamada na região, era uma cobra que vivia no alto de uma montanha numa gruta muito escura, mas assustada com a inundação e com muita fome resolveu sair à procura de alimento, faminta, o alimento favorito da boiguaçu era o olho dos animais mortos, e de tanto comer foi ficando luminosa, quanto mais olhos ela devorava, mais brilhante ficava. Seu corpo acabou por se transformar em um ajuntamento de pupilas rutilantes, um amontoado de bola e fogo, transformando-a no boitatá, na cobra de fogo. Diz a lenda que também come os olhos dos humanos que encontra fazendo maldades a natureza. Uma alimentação frugal a enfraquece, então ela morre e reaparece nas matas, luminosa, porém pequena, ela cresce a medida que ingere esses olhos de animais mortos, e das pessoas que a enraivecem, crescendo sem parar.
Drawlloween DAY #6 - Folkore Friday: Boitata by Tatmione
Quem a encontra fica cego, sem os olhos ou enlouquecer até morrer. Para evitar tal sofrimento, acreditavam que ficando paralisados e imóveis, e de olhos fechados, poderiam ser evitados pela cobra de fogo.
Sabe-se que são histórias para passar o tempo, principalmente pelos índios e ribeirinhos do baixo Amazonas, que não tinham acesso às modernidades das cidades. Em algumas regiões do Brasil é um ser do bem, em outras é um agente do mal. Hoje em dia sabe-se que a origem dessa lenda pode ter surgido com o conhecido fogo-fátuo
Curiosidades: Fogo-fátuo, cientificamente, é uma inflamação espontânea de gases emanados de corpos de animais em decomposição e ou putrefação, em que os gases expelidos provocam um brilho transitório, uma luz que se movimenta rapidamente no espaço. Daí surgiu a ideia de uma serpente de fogo em movimento, às vezes essa inflamação espontânea pode ser pequena, outras realmente gigantescas.
Por Faleiro (2010)
FOGUEL. Israel. Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro. São Paulo: Clube de Autores, 2016.
Boitatá: Pinterest

Referências:
FALEIRO, Angelita. Desbravando nosso Folclore. 1 Ed. São Paulo: Biblioteca14horas, 2010.

O Folclore da Cobra Grande

Serpente lendária da Região Norte, que mora entre as rochas dos rios e lagoas, de onde sai para afundar barcos. Quando ela sai das rochas, troveja, lança raios e faz chover. Se a chuva é muito forte e ameaçadora de novo dilúvio, toma a forma de arco-íris e serena as águas. Ainda segundo a lenda, a lua é a cabeça da serpente, as estrelas são os olhos e o arco-íris é o sangue da cobra-grande (FOGUEL, 2016).

O folclore da Mula sem Cabeça

De acordo com Fúlvio (2006) A história da Mula-sem-cabeça foi trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses. Ela fala de um ser que solta fogo pelo pescoço e assombra os povoados. É uma mulher que se apaixonou por um padre e, por isso, acabou se transformando nesse monstro. Toda noite, de quinta para sexta-feira, a mulher vira a Mula-sem-cabeça e sai galopando até amanhecer. Ela ameaça os homens que se colocam em seu caminho. Mas o encanto pode ser desfeito tirando seu cabresto ou extraindo um pouco de seu sangue com um objeto pontiagudo, como um alfinete.

Folclore e superstições do Norte (ou não) do Brasil

https://www.deviantart.com/tieche/art/Brazilian-Folklore-III-38238491Começo nessa postagem a hashtag #folclore. Primeiro uma breve impressão sobre o folclore, e, aos poucos a história de cada figura assombrosa ou não, desse folclore! Para acompanhar é só seguir no facebook, por email ou pelo Google plus! 👽💌

Torres (1961) cita: A palavra folclore, como se sabe, é o aportuguesamento da expressão inglesa folk-lore, em que folk significa "povo", e lore, "ciência, saber". Pode tratar tradições populares, expressas através de lendas, canções, cantos, historietas, rezas, adivinhações, rituais, superstições, fábulas, receitas e mitos.

Estudiosos brasileiros da matéria, dentre eles Câmara Cascudo, Renato Almeida, Édison Carneiro, reunidos no primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Rio de Janeiro em 1951, elaboraram a Carta do Folclore em que redefiniam o termo folclore, dando-lhe uma visão mais atualizada.
No VIII Congresso Brasileiro de Folclore, em Salvador, em 1995, foi apresentada e aprovada a re-leitura da Carta do Folclore em que o termo é revisado e o conceito dessa disciplina sofre algumas modificações, em consonância com a recomendação da UNESCO para a Salvaguarda do Folclore, definida na Reunião de Praga, em 1995. A partir daí o termo folclore é entendido como:
O conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo da sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. 
A aceitação coletiva, contrapondo-se ao anonimato, valoriza a capacidade criadora de um autor conhecido, cuja obra, ao ser aceita coletivamente, passa a ser considerada patrimônio comum do grupo.  Também a Regionalidade é uma marca da manifestação folclórica que pode apresentar variantes em diferentes localidades, gerando as versões (a feijoada e a moqueca são bons exemplos disso). [também a mandioca como exemplo, enraizada na cultura brasileira, onde possui sua própria lenda, A lenda da Mandioca] (ALCOFORADO, 2007).

Por Luís da Câmara Cascudo (2015):
"O obscuro fantasma criado pela poesia mitológica evaporou-se, perante a luz brilhante de um conhecimento científico das leis naturais." ERNESTO HAECKEL - História da criação.
Quem estudar a natureza humana verá, necessariamente, que quanto menor é o grau do adiantamento de um povo tanto maior é o poder impressionista e ilusório que o domina. É este um fato incontestável.
A ilusão exerce um poderio tão energégico sobre a imaginação do homem inculto, que o faz conceber um terror invencível por certos fatos que o impressionam. Ela tem a propriedade de dar uma vida aparentemente real a objetos inanimados.
A impressão, como a ilusão, influi diretamente sobre o poder imaginativo, e daí as concepções obstinadas que abatem o espírito humano, e daí a constante transfiguração dos fatos.
Já disse uma vez e repito novamente - que o espírito humano é muito suscetível de impressões que, nele calando, se tornam firmes, inabaláveis como inscrições nas campas.
Uma circunstância qualquer, mesmo a mais vulgar, preocupa a imaginação, e faz brotar uma imensidade de pensamentos vãos, que se sobrepõem, que se solidificam, que, finalmente, não se desligam mais do cérebro em agitação.
É por esse processo que os acontecimentos reais vão, pouco a pouco, esmaecendo na memória dos povos e se transformando em lendas, que se transmitem de geração em geração.
A luz brilhante de uma estrela, o mover turbulento e sombrio das ondas, o deslizar suave das águas cristalinas de uma fonte, a figura gigantesca de uma montanha, a aparição periódica de certos astros, e muitos outros fenômenos exerceram uma influência fortíssima sobre o pensamento dos primeiros povos e foram origem de várias lendas, crendices e bruxarias.
O homem, ignorando as coisas mais simples, que determinaram a variedade dos fenômenos naturais, sentia um horror crescente por tudo quanto observada. Daí o poder ilusório, mostrando as primeiras manifestações de sua impressão. Daí as crenças obstinadas, as superstições importunas. Daí o fetichismo.

"O homem supersticioso, diz M. James Sully, julga-se guiado por bons ou maus espíritos, quando novas ideias nascem em seu espírito, quando novas resoluções nele se debuxam".

É assim que vemos o valor de uma crença puramente supersticiosa, [...]
Para conhecer a natureza de um povo é preciso atender à sua origem, à sua índole ao clima do território, pois são estes os elementos essenciais para bem determinar o seu caráter.
O povo brasileiro é o resultado do cruzamento de três raças - a branca, a negra e a americana.
O elemento português, o africano e o indígena são, portanto, as fontes donde emanou o que principalmente se pode chamar - o brasileiro puro.

Ainda de acordo com Câmara Cascudo, O lobisomem, almas do outro mundo, são federais, gerais, nacionais. O Saci, a Caipora, são regionais, abrangendo vários Estados. A Cobra-Grande, Capelobo, Mapinguari, são municipais, locais, agindo em zonas adequadas e propícias à sua ecologia. Capelobo e Mapinguari nas selvas, matas, escuro da floresta equatorial. Cobra-Grande onde passem os afluentes da artéria fluvial do Amazonas. [...] Assim o folclore indígena reviveu no sangue fiel dos primeiros brasileiros. Guardaram e transmitiram a herança comunicante dos assombros.

De acordo com Ricardo Luiz de Souza (2018),
Se o folclore foi reconhecido e exaltado como legítima expressão da nacionalidade por um grupo de intelectuais, outros, contudo, permaneceram definindo- como índice de um atraso que deveria ser combatido, não enaltecido. Souza Barros (1971) define o folclore como a manifestação cultural de uma sociedade agrária.
Curupira, Saci and others - Por: Ferigato
Angelita Faleiro (Desbravando Nosso folclore) cita esse folclore brasileiro também povoado por "assombrações"; o terror em encontrar com entes fantásticos, aparições, casa mal-assombrada, tudo isso está presente no imaginário do sertanejo brasileiro [...]
"O folclore da alimentação é tão variado e complexo como sua própria história..." (Dicionário do Folclore Brasileiro). Freud (1910/1996, p. 92) diz que as tradições sustentam “aquilo que um povo constrói com a experiência de seus tempos primitivos e sob a influência de motivos que, poderosos em épocas passadas, ainda se fazem sentir na atualidade”.

Imagem: pinterest

Agora, continue acompanhando o blog nas próximas postagens, ainda tem muito sobre a lenda de cada um: Curupira/Caipora, Mapinguari, Saci, Boitatá, Cobra-grande, Mula sem cabeça, Capelobo, Jurupari 👀
Entre outros...👻
Brazilian Folklore II - Por: tieche

Imagem: janainaart

Referências:
ALCOFORADO, Doralice Fernandes Xavier. Do folclore à cultura popular. Boitata, v. 3, 2007. INSS 1980 - 4504
CASCUDO, Luiz Camara. Antologia do folclore brasileiro. Vol 2. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2015. 336 p.
CASCUDO, Luiz Camara. Folclore no Brasil. 3 ed. 232 p.
FREUD, Sigmund. Totem e Tabu e Outros Trabalhos. Obras completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
SOUZA, Ricardo Luiz. Identidade nacional e modernidade brasileira. Autêntica, 2018. 232 p.
FALEIRO, Angelita. Desbravando nosso folclore. biblioteca24horas. 282 p.
TORRES, Artur. Curiosidades Folclóricas o Folclore no Brasil. Revista Letras, v. 12, 1961.