Serpente lendária da Região Norte, que mora entre as rochas dos rios e lagoas, de onde sai para afundar barcos. Quando ela sai das rochas, troveja, lança raios e faz chover. Se a chuva é muito forte e ameaçadora de novo dilúvio, toma a forma de arco-íris e serena as águas. Ainda segundo a lenda, a lua é a cabeça da serpente, as estrelas são os olhos e o arco-íris é o sangue da cobra-grande (FOGUEL, 2016).
A Cobra Grande, ou Boiúna, é uma lenda amazônica que fala de uma imensa cobra que cresce de forma desmensurada e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés.Conta a lenda que a Cobra Grande pode se transformar em embarcações ou outros seres. Ela está presente em diversos contos indígenas, um deles conta que em uma certa tribo, uma índia, grávida da Boiúna, deu à luz a duas crianças gêmeas. Uma delas, má, atacava os barcos, naufragando-os. A história tornou-se célebre no poema Cobra Norato, de Raul Bopp, sendo encenado inclusive, em teatros de vários países.
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No mundo real, a verdadeira cobra grande é na verdade a sucuriju, ou sucuri, a temida anaconda. O animal pode atingir mais de 10 metros de comprimento. Ela mata as presas por constrição, apertando-as até a morte.Celebrizada em filmes de terror, é temida pela população ribeirinha, pois habita as áreas inundáveis e é dotada de grande força, sendo capaz de neutralizar qualquer tentativa de defesa da vítima.
Sucurijú Gigante |
VERDADE OU MENTIRA?
A impressionante serpente Sucuriju: 40 metros de comprimento, 80 cm de diâmetro, pesando 4.000kg |
De acordo com Pinto (2008):
Da fauna de seres encantados dois deles possuem maior interesse no âmbito da mitologia das águas, o boto e a cobra - grande. O sentido trágico desses personagens liga - se, oniricamente, à visão lendária de um reino encantado situado na região mais profunda do rio. Para os ribeirinhos é uma zona de contornos indefinidos, perceptíveis somente por meio de mensagens cifradas:
No princípio as águas se confundiam Com as trevas A noite dormia no fundo do rio. Cobra - grande detinha o segredo das profundezas E ainda não havia animais, Peixes ou pássaros Foi quando os escravos do marido da filha Da Cobra - grande Partiram em busca da noite (TUFIC, 1980:45 apud Pinto, 2008).
Os componentes do mito da Origem da Noite confirmam as matérias inspiradoras das imagens dinâmicas que compõem o imaginário dos habitantes da Amazônia. No trecho do poema: As águas se confundiam com as trevas e a noite dor mia no fundo do rio , os elementos constituintes do relato: águas, trevas, noite, rio e a cobra - grande expressam a aura mítica que envolve o cenário desse imenso mundo aquático que é a Amazônia e formam a constelação mental do grupo humano que aí habita.
No sul do Brasil, o Boitatá liga - se à cobra - grande. Muitos animais morreram de uma enchente e a cobra - grande só comia os olhos desses animais mortos, assim ficou empanturrada e se transformou em ser luminoso, e seus olhos passaram a se constituir em fontes de luz e de fogo. Esse mito está ligado também ao fogo - fátuo, resultado da combustão dos gases que se desprendem dos cadáveres que entram em contato com o ar.
Referências
FOGUEL, Israel. Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro. 1 Ed. São Paulo: Clube de Autores, 2016.
PINTO, Marilina C. Oliveira Bessa Serra. Amazônia e o imaginário das águas. 1º ENCONTRO DA REGIÃO NORTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA, v. 1, 2008.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sucuriju_a_Brasil.jpg
https://maringapost.com.br/
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