⚠️ IMPORTANTE: CAPRICORNUS contém alguns filmes raros, que tiveram legenda sincronizada, outros traduções para o português, deu trabalho pra tá aqui ent vai roubar conteúdo da puta que te pariu sem dar os créditos. ~ Siga a gente! Os filmes tem limite de visualização mensal, caso não consiga, tentar próximo mês.

TUPINAMBÁ - A antropofagia e a troca dos mortos

Fleischmann et al. (1994) cita que os Tupinambá eram um subgrupo dos povos Tupi, desapareceram em fins do século XVI das regiões que eles habitavam, a costa dos atuais estados da Bahia, do Rio de Janeiro e São Paulo. O canibalismo então no Brasil é mencionado pela primeira vez no terceiro relato de Américo Vespúcio, as cartas de Vespúcio eram a leitura predileta no século XVI,e através delas constituia uma imagem do Brasil como "terra de canibais". O mapa do Brasil de 1503-4, conhecido como Kunstmann II, já ostenta como ilustração principal um índio assando um branco num espeto sobre brasas (ver abaixo na imagem). Apesar disso não houve nenhum relado a respeito nas décadas seguintes... O autor ao final diz que, Léry transparece em um curto trecho como deve ter sido o encontro entre Tupinamba (selvagens) e Europeus (civilizados): "aqueles, um povo ameaçado de escravidão, já marcado pela sua extinção próxima, estes, os Europeus, homens que devido a medos e fadigas encontravam-se em uma situação psíquica extrema, propensos a ver coisas que não existiam." Equívocos que podem ter consolidado seja porque, Anchieta desejava uma morte de mártir, ou porque simplesmente desejavam escrever um livro interessante para vender. 
Essa é uma versão de alguns autores, de que os Tupinambás não eram tudo o que contavam. Agora, outra versão...
Carta portulana: As primeiras cartas marítimas foram produzidas no fim do século XIII, início do século XIV. Seu objetivo principal era retratar com a maior precisão possível os litorais e os portos, [...] eles registravam as novas descobertas nas cartas marítimas. Entre as descobertas de Vespúcio na América do Sul estão a costa norte que vai de De Lisleo (San Lorenzo, Lago de Maracaibo) ao Rio de le Aues (rio Orinoco), e a costa leste do continente, depois do território entre o Cabo de São Roque e o Rio de Cananor. Neste mapa a faixa costeira do sul é identificada como “Terra Sanctae Crucis”. Uma inscrição e uma imagem no canto esquerdo inferior relatam a prevalência de canibalismo na região (wdl.org).

Outros olhares sobre o xamanismo tupinambá

"Apesar da multiplicidade de tribos, os índios da costa brasileira formavam um círculo cultural relativamente fechado. (...) Como entre todas as tribos sul-americanas, as concepções religiosas dos Tupi estavam dominadas pelo animismo e o xamanismo. O xamã, feiticeiro ou curandeiro, representava um papel central em todas as manifestações da vida de um grupo. Na sua qualidade de mediador das forças sobrenaturais era igualmente respeitado e temido. Não o cacique, mas o pajé era quem exercitava propriamente o poder sobre uma linhagem ou uma aldeia. Por ocasião de catástrofes, doenças, ritos de caça e acontecimentos semelhantes, devia apaziguar as forças invisíveis. Eram venerados os espíritos da natureza e dos ancestrais: contudo, os Tupi criam também num ser superior. Os missionários cristãos apropriaram-se dessa sua concepção religiosa, apresentando aos indígenas o Deus cristão como "Pai-Tupã".
"O canibalismo era conhecido entre todas as tribos índias da costa, sobretudo entre os Tupimambá, com a possível exceção das tribos meridionais dos Guaianaz e dos Carijó. A guerra tinha grande importância na vida dos indígenas. Os Tupi não só se encontravam num estado de inimizade permanente com as tribos do interior, mas combatiam-se também uns aos outros. Os Caeté e os Tupinambá da costa central do Brasil tinham fama de ser os guerreiros mais capazes e cruéis. Canibalismo e gosto pela guerra condicionavam-se mutuamente, porque os indígenas, não raramente, atacavam os seus inimigos com a finalidade de procurar vítimas para as festas canibalescas". 
(M C Bingemer et al., 2007).

A guerra pode ser considerada como "condição necessária" do processo de diferenciação social mediante a rotinização do carisma com relação ao acesso às atividades xamanísticas. Com isso, não é pretendido afirmar que os bem-sucedidos na guerra se transformam em Pajés.
Talvez canibalismo entre algumas tribos não seria condição necessária para ser Pajé, mas sim "a aquisição do carisma por intermédio da guerra e do sacrifício ritual representava uma condição básica do xamanismo"
O esquema de posições sociais e o desenvolvimento da carreira social entre os tupimambá excluíam a possibilidade de ascensão direta ao status de pajé e ao exercício das atividades xamanísticas.
Todavia, a importância da guerra da vida pessoa dos pajés era naturalmente variável; Pelo que se pode presumir, admitindo-se que todas possuíam um grau mínimo de qualidades de ajustamento indispensáveis, o xamanismo atraía três categorias de pessoas:
a) as que eram bem-sucedidas como guerreiros e "matadores" (isto é, sacrificantes), as quais praticavam o xamanismo como uma fonte suplementar de carisma;
b) as que encontravam nas atividades xamanísticas uma modalidade de compensação na acumulação do carisma
c) e as que se dedicavam a essas atividades em virtude da própria capacidade de lidar com o sagrado.
E o que acontece na forma assumida pelo xamanismo na sociedade tupinambá?
A guerra era uma "condição" para o acesso ao xamanismo deles. Como se vê duas eram as fontes de carisma e de diferenciação social com base nos dotes carismáticos: o sacrifício humano e o xamanismo. A guerra contribuía para configurar a estrutura social e o seu ritmo de funcionamento na sociedade tupinambá, através do sacrifício humano.
O canibalismo tupinambá tinha uma função religiosa:a de promover uma modalidade coletiva de comunhão direta e imediata com o sagrado.
Thevet, encontra na raiz do canibalismo tupinambá um elemento educativo: para que os jovens agissem como deviam na guerra era preciso que tivessem plena segurança de que sua morte seria "vingada", e que aspirassem a essa espécie de distinção por parte dos companheiros.
Também pode-se dizer que, colocar o canibalismo tupinambá entre as modalidades de canibalismo mágico como: a ingestão de carne humana representava um meio de captação de energias. De outro, a expressão coletiva dessas ações assumia uma função mágico-religiosa, pois poderia assim destruir o "suporte orgânico" da "alma imortal".
Os ritos de purificação, ou de renovação, transcorriam simultaneamente aos de antropofagia. 
(FERNANDES, 2006).

O casal Clastres buscavam a Terra sem Mal como efeito da colonização, sendo uma "recusa ativa da sociedade" indígena (CLASTRES, H. 1978, p. 68 apud COUTO, 2013) a Terra sem Mal seria a felicidade divina, e condenavam à morte da estrutura da sociedade e so seu sistema de normas no interior da própria sociedade indígena onde o "xamanismo desaparece no profetismo e o profetismo numa antropologia política." [...] as migrações foram resultantes unicamente vinculadas às tensões internas da sociedade Tupinambá, contra o surgimento do poder político (o "Estado") entre as várias comunidades indígenas, surgindo profetas errantes que estimularam a descentralização do grupo. 
Assim,a proposta de "cristianização do imaginário indígena" ou a "indigenização do sobrenatural cristão" onde havia conteúdos e elementos apresentados pelos jesuítas foram absorvidos pela cultura indígena porque se inseriam num preciso contexto significativo, isto é, faziam sentido, mas, em ordem reversa, causou desconfiança em relação ao significado de "conquista espiritual" em uma visão da construção negociada atribuída aos missionários jesuítas.
Finalmente.... é provável que a Mitologia Tupinambá e dos "Tapuias" com as suas manifestações ritualísticas e de culto tenham sido mais amplas com outros aspecto e e elementos que passaram despercebidos, incompreendidos, ou então não foram valorizados pelos cronistas que, mesmo com nacionalidades distintas tinham formação cristã, pois tratavam-se de padres jesuítas, um francês católico e outro protestante calvinista e um arcabuzeiro alemão.
(COUTO, 2013).


Referências:
COUTO, Ronaldo. Manifestações Culturais Dos Tupinambás no Brasil Colonial. Rio de Janeiro, RJ: Ed. do Autor, 2013.
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. 3 Ed. São Paulo: Globo, 2006.
FLEISCHMANN, Ulrich; ASSUNÇAO, Mathias Rohrig; ZIEBELL-WENDT, Zinka. Os Tupinambá: realidade e ficção nos relatos quinhentistas. Penélope: revista de história e ciências sociais, n. 14, p. 23-41, 1994.
Maria Clara L. Bingemer. Inácio Neutzling SJ. João A. Mac Dowell SJ. A Globalização e os Jesuítas: origens, história e impactos. 1 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

TICUNA - Do Xamanismo à proibição Jesuíta

Sobre os Ticuna

Os Ticuna formam uma sociedade ameríndia de cerca de 50 mil pessoas, repartidas entre a terra do alto e a terra do baixo, em território brasileiro. Seu modo de organização social ainda hoje implica grande mobilidade, em razão da residência uxorilocal (segundo a qual os novos casais habitam junto à família da esposa), de cisões, práticas xamânicas, movimentos messiânicos e da situação socioeconômica. Os ticuna se encontram hoje em dois conjuntos territoriais, um deles correspondente às margens esquerda e direita do rio Amazonas, no Peru e Colômbia, e outro, mas bacias dos rios Cotuhué (Colômbia) e Putumayo (Colômbia e Peru).
Tanto no Peru como na Colômbia, os ticuna se confrontam há décadas com intrusões do undo exterior, como a proliferação de madeireiros e de frentes colonizadoras e movimentos religiosos que levam a práticas sociais e culturais dificilmente compatíveis com as suas.
As árvores ocupamum lugar de qualidade para os Ticuna, eles tinham concepção integradas no sistema da selva e um profundo significado que representavam, como a samaumeira, umari, açaizal, tueruma, e assim os mitos dos protetores das árvores chamados nanatu (dono, pai e mãe das árvores), como o Wuwuru, Curupira, Mapinguari, Daiyae, Beru... ( RICARDO e  RICARDO, 2011).
Fonte: Huttner (2007)

Vuórekê-djê-ê (Festa da Moça Nova)

podemos reconhecer os Ticuna caminhando em suas comunidades à beira dos rios, em alguma esquina da metrópole Manaus, mas não os conheceremos sem o ritual. O ritual da Festa da Moça-Nova representa, até hoje, a maiors manifestação da expressão da religiosidade Ticuna praticada em algumas aldeias do Alto Solimões;
Relato da Vuórekê-djê-ê:
Ao atingir a idade de 14 anos, a jovem ticuna é afastada do convívio da aldeia, ficando por vários meses recolhida. Aí a índia aprende a confeccionar redes com os mais variados tipos de árvores, escuta ensinamentos transmitidos por parentes e anciãos sobre boas condutas, crenças e tradições. O término desta fase é marcado pelo início da festa do "ritual da depilação", quando a jovem é transportada para um cubículo chamado de turi (cercado arredondado feito de fibras de  palmeira-buriti). Agora os familiares da iniciante e toda a aldeia fazem uma festa. É uma festa de três dias com refeições, bebe-se a principal bebida pajuaru, vários cantos são entoados e rimados no balanço das danças das máscaras. À meia-noite do terceiro para o quarto dia, o cubículo é derrubado por pessoas escolhidas da aldeia. Índios mascarados investem contra a jovem indefesa que necessita de proteção. A jovem retirada do cubículo é rodeada de parentes que a envolvem numa dança que vara a madrugada até o meio-dia. Exausta, é colocada no centro da casa de festa, sentada sobre uma esteira, enquanto anciãs arrancam seus cabelos pouco a pouco.  Enquanto depilam, é oferecido caiçuma para se embriagar. Ao terminar o ritual da depilação, a cabeça da jovem é coberta de tinta (misura de Urucum e seiva da árvore do tururi-vermelho), e depois colocam uma coroa feita com penas de arara vermelha. Assim dá-se por concluído o ritual da Festa da Moça Nova, que é celebrada na continuidade da dança das máscaras, mas agora com a jovem abraçada com seus parentes, preparada para o convívio da aldeia.
[...]
O mito da criação, como esta festa ritual - Vuórekê-djê-ê, mostra a tradição, a cultura, o sagrado do povo Ticuna, de um povo em sintonia com a natureza, a ecologia. Eram os galhos da samaumeira que cobriam o mundo dos heróis Yo'i e Ipi revelando um tempo sem noite, nem dia, A jovem Ticuna se transforma em meio à natureza, como parte integrante dela.

Ticuna e Xamanismo

Entre os Ticuna, o poder da cura está aliado à relação dos espíritos das árvores com o xamã (o curandeiro, feiticeiro) que os invoca para agir em benefício da coletividade, de cada índio doente. Segundo Ari Oro, 'O termo Ticuna para xamã é dy 'uvita. este podia agir como curandeiro (homem-medicina), através de plantas medicinais e outras substâncias, ou como feiticeiro (bruxo), por meio da magia negra. Os dois papéis do dy'uvita eram expressos diferentemente pelos Tucuna: dy'o:wu:e para curandeiro no:ke:wu:e para feiticeiro". 
(ORO, A. Tucuna: vida ou morte, op. cit., p. 83.)

Segundo Hoornaert (1994), o Xamanismo apresenta três características: a) O xamã vive num mundo imperfeito e em contínua crise. Suas visões se aperfeiçoam com o passar do tempo, na circunstância do dado histórico. Sua ação acontece quando exige uma intervenção imediata de ordem individual (doenças), de ordem social (guerras). "É o homem dos momentos difíceis"; b) O xamã está a serviço da comunidade humana e não dos deuses. Não está voltado para o mundo divino como liturgo, por isso não se agarra a nenhuma divindade. Sua devoção está voltada para o povo; c) Sua ação visa apropriar-se dos espíritos para colocá-las a serviço da libertação das pessoas e quebrar todas as amarras que interferem na aldeia. "enfim, o xamanismo se baseia num personalismo livre e sadio que corresponde ao modo de viver dos grupos nômades. [...] O xamã não pratica uma estratégia totalitária e, no fundo, não exerce nenhum poder de tipo político. Sua autoridade é de ordem simbólica. É autoridade sem poder. Exatamente por isso, defende com tanta garra a herança simbólica do grupo: os ritos e os mitos, as danças e cerimônias". 
(HOONAERT, E. História do cristianismo na America Latina e no Caribe. São Paulo: Paulus, 1994, p. 384).

A missão de Jesuítas na Amazônia

A Companhia de Jesus, idealizada por Inácio de Loyola sob o lema Ad maiorem Dei gloriam, teve suas regras aprovadas em 1540 pelo papa Paulo III. Caracterizou-se pela preparação dos membros em via espiritual e profissional para a missão, além das fronteiras do mundo cristão.
Os primeiros contatos dos missionários com os povos indígenas no rio das amazonas foram feitos a bordo dos barcos das coroas ibéricas, de modo que a missão teve que remar contra as correntezas da ideologia mercantilista e expansionista. A missão dos Jesuítas dependia das leis estabelecidas pelas duas Coroasm de outra representava o reconhecimento de novas fronteiras.

A Irmandade da Cruz
No ano de 1972, José da Cruz implanta a Ordem Cruzada Católica, Apostólica e Evangélica (OCCAE) nas comunidades ribeirinhas e nas aldeias Ticuna do Alto Solimões.
O impacto da OCCAE sobre brancos e índios deve-se à pregação e às exigências feitas nas comunidades.
A maior parte dos Ticuna do Solimões decidiu seguir o movimento do irmão José dentro dos pressupostos de todas as suas normas, doutrinas, bem como a exigência de um novo estilo de comunidade orientada pelo signo da cruz. [...] O movimento da Cruz não teve vínculo com a igreja católica, visto que em seus estatutos não admitem que seus membros participem de outra religião. A ruptura que se estabeleceu com a Igreja Católica, segundo Ari Oro, foi pelo fato de que os missionários capuchinhos negaram o sacramento do batismo aos Ticuna da OCCAE, o que levou o fundador a institucionalizar a figura do sacerdote. Outro aspecto é que os Ticuna da Cruz não reconheceram os Ticuna católicos, pois não se consideravam como índios. [...] A irmandade da Cruz proibiu a festa da moça nova em suas comunidades. Na entrevista que o autor fez com o irmão Valter das Nevez Cruz, perguntou-lhe o por quê dessa proibição. Ele disse: "nossa irmandade não permite, pois se você quiser pertencer à Cruz, deve deixar de lado as festas e as bebidas, por isso nós proibimos". 👎👏😒

Texto: (HUTTNER, 2007).

Referências:
BETO RICARDO e FANY RICARDO. Povos indígenas no Brasil: 2006/2010. são Paulo: Instituto socioambiental, 2011.
Huttner, Édson. A Igreja Católica e os povos indígenas do Brasil: os Ticuna da Amazônia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

A arte do MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin

Inspirado no filme O sonho do nixi pae (2014), o artigo percorre a trajetória do MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin, traçando paralelos entre o percurso do grupo e a travessia mítica dos huni kuin que atravessaram o jacaré-ponte. O artigo se dedica a pensar a música e suas transformações em artes visuais e audiovisual desde uma teoria da tradução nativa.

O povo Huni Kuin

Os Kaxinawá – também conhecidos por Cashinauá, Caxinauá e Huni Kuin – são pertencentes à família linguística Pano e habitam a floresta tropical no leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, no estado do Acre e sul do Amazonas, abarcando respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari. No Peru, as aldeias kaxinawá se encontram ao longo dos rios Purus e Curanja; as aldeias acreanas se espalham pelos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus (GUESSE, 2014).
Fonte: Mattos (2015)

Os rituais

De acordo com Lagrou (2004, on-line), o txidin é um ritual anual, que acontece no xekitian, tempo do milho verde (ou é realizado depois de um rito funerário por uma morte importante, de um chefe ou xamã), que serve para proteger os vivos, reforçando sua fé e levantando-lhes o ânimo. O txidin faz parte da sequência do ritual do nixpupimá. 
O Katxanawá é o ritual da fertilidade, normalmente acontece várias vezes por ano, existe em várias versões e pode iniciar o nixpupimá. O elemento central desse ritual é um tronco oco da paxiúba (katxa), que representa o útero e é enfeitado com tubos de macaxeira e banana, que representam o elemento masculino. “O katxanawá tem a característica de complementaridade entre os sexos. Ambos os sexos participam do ritual e esta participação tem conotações sexuais explícitas” (LAGROU, 2004, p. 8, on-line). 
Para o ritual específico de iniciação (nixpupimá), apenas as crianças que já perderam seus dentes “de leite” e têm crescidos seus dentes permanentes são reunidas na casa do líder. Elas são colocadas em redes penduradas num canto da casa e não devem se mover; suas mães sentam ao lado de suas redes, balançam-nas e cantam, enquanto os pais dançam ao redor do fogo, rezando para que seus filhos cresçam fortes. Na manhã seguinte, as crianças recebem banhos medicinais, cortam o cabelo, são pintadas com jenipapo, lavam os dentes e tomam caiçuma de milho. 
Os kaxinawá, segundo Lagrou (2004), consideram o nixpu fundamental para a saúde dos dentes, fortalecendo-os e protegendo-os. Além dos dentes enegrecidos, os kaxinawá desenham o corpo com jenipapo e pintam-se com uma pasta vermelha de urucum. Mais a frente, trataremos dos desenhos kaxinawá. Nesta ocasião, as meninas recebem um banho específico para aprenderem a técnica do desenho kene (kenedau)

Historia por Mattos (2015)

Primeiro vamos falar dos Huni Kuin (Kaxinawa). Ibã é filho de Tuin, foi com o pai que aprendeu a cantar. Se formou professor aprendendo a escrever e pesquisar. O seringal onde  abrigavam-se foi herdado por sua família de patrões brancos depois de muito trabalho e sob indentidade de cablocos brasileiros, trabalhadores e civilizados. Em 1984, o seringal se tornou terra indígena, onde os Huni Kuin passaram a ser reconhecidos novamente como povo indígena. Professor indígena que tem como projeto coletivo a pesquisa, os Huni Meka, os cantos de Nixi Pae (bebida ayahuasca) entre outros. Em 2006, publicou um livro chamado Nixi pae - O espírito da floresta. 

Estou resumindo aqui, mas é muita história pra contar em seu trabalho !
"Nosso trabalho tem origem, portanto, na convergência de canto, desenho e vídeo. Os desenhos traduziam a música numa visualidade própria a esse universo musical e o vídeo fornecia recursos para evidenciar essa relação. "

Os comentários aos cantos (pôr no sentido, ver adiante) feitos por Ibã no vídeo, simulam essa articulação na medida em que não explicam, e sim criam um texto paralelo à imagem-música, tal qual o desenho propõe em relação à música-texto.

Fonte: Mattos (2015)
Fonte: Mattos (2015)

Fonte: Mattos (2015)

Fonte: Mattos (2015)

Referências:
GUESSE, Érika Bergamasco. Shenipabu Miyui: literatura e mito. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – UnEsP, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara  425 f. 2014.
LAGROU, Elsje Maria. Kaxinawá, 2004. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa/print>. Acesso em: 19 abr. 2019.
MATTOS, Amilton Pelegrino. O sonho do nixi pae. A arte do MAHKU–Movimento dos Artistas Huni Kuin. ACENO-Revista de Antropologia do Centro-Oeste, v. 2, n. 3, p. 59-77, 2015.

A cosmovisão Xamânica kaxinawá

Os Kaxinawá acreditam que os verdadeiros xamãs (chamados de mukaya), ou seja, aqueles que tinham dentro de si a muka – substância amarga e xamânica – não existem mais. Isso, porém, não impede que outras formas de xamanismo, menos poderosas, mas igualmente eficientes, sejam praticadas. O xamanismo é uma prática quase exclusivamente desenvolvida pelos homens, cujo objetivo é conhecer e curar através do contato com o lado yuxin da realidade. Para que esse contato se estabeleça, é necessário haver uma transformação corporal e de consciência; é preciso atingir um estado alterado de consciência para ver e interagir com a yuxindade. (LAGROU, 2004, on-line).
O yuxin pode se manifestar tanto como uma força vital quanto como alma ou espírito com personalidade e vontade próprias. Yuxin pode significar também uma imagem fiel, uma réplica de um ser vivo, por isso uma foto pode ser yuxin e um retrato bem feito também: 
Yuxin é espírito ou alma, mas estas traduções não cobrem bem seu significado. Pelo que pude observar no uso da palavra yuxin pelos Kaxinawá, yuxin não é algo sobrenatural ou sobre-humano, localizado fora da natureza ou fora do humano. O espiritual ou a força vital, yuxin, permeia todo fenômeno vivo na terra, na água e nos céus. Por ter essa yuxindade em comum, a comunicação, a transformação e a percepção dos yuxin pelo olhar humano tronam-se possíveis (LAGROU, 1996, p.197- 198 – grifos no original). 
Os Kaxinawá são também conhecidos por  Cashinauá, Caxinauá e Huni Kuin. Pertencentes à família linguística Pano e habitam a floresta tropical no leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, no estado do Acre e sul do Amazonas, abarcando respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari. No Peru, as aldeias kaxinawá se encontram ao longo dos rios Purus e Curanja; as aldeias acreanas se espalham pelos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus (GUESSE, 2014).
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A pessoa é constituída por um corpo carnal habitado por vários yuxin. “O corpo acordado e saudável está com todos os seus yuxin presentes”. Os dois yuxin principais são: Yuxin do olho: ou alma do olho (bedu yuxin) ou ainda verdadeira alma (yuxin kuin); tem origem e destino divinos e sua ligação com o corpo é efêmera; é o mais vital dos yuxin e a pessoa morre quando o yuxin do olho sai para sempre.
Yuxin do corpo: ou alma do corpo (yuda yuxin); é um aspecto da substância do corpo, que o envolve como uma pele exterior e é percebido como uma aura, uma luminosidade; está ligada à sombra e ao reflexo da pessoa; depende do corpo para existir, já   que sem ele a sombra se torna um monstro, uma ameaça. “O espírito do corpo cresce junto ao corpo e sua força depende do aprendizado verbal e consciente do indivíduo durante a vida. Seu destino é de desaparecer na medida em que o corpo morto se desfaz” (LAGROU, 1996, p. 207).
Além desses dois, o corpo humano ainda possui outros yuxin menores, secundários: espírito do sonho (nama yuxin), yuxin das fezes, da urina, dentre outros.
A atividade do xamã de se racionar com os yuxin é indispensável para o bem estar da comunidade; os Kaxinawá acreditam que a causa de todo mal ou doença esteja no lado yuxin da realidade, portanto a função do xamã como mediador é fundamental. Para entrar em contato com a yuxindade, os Kaxinawá têm quatro caminhos. O primeiro deles é a prática coletiva dos rituais, nos quais os yuxin entram em cena em forma corporal; homens e mulheres se mascaram e representam os yuxin no drama ritual, materializando a relação de toda a comunidade com a yuxindade. 

Os outros caminhos são individuais e o contato com a yuxindade acontece na viagem do yuxin do olho (bedu yuxin) que, por sua vez, pode se dar de três formas: quando a pessoa sonha, quando cheira rapé e quando toma a bebida alucinógena nixi pae.
Deve ficar claro que todos os homens adultos que tenham coragem e queiram podem cheirar o rapé e tomar o nixi pae, não apenas os xamãs. Para os Kaxinawá, o nixi pae tem a capacidade de aumentar a consciência e a percepção do lado espiritual e invisível do mundo. No entanto, o uso dessas substâncias pelos xamãs tem o objetivo primeiro da cura, o que não é possível para um homem “comum”:
Nixi pae significa “cipó forte, que embebeda”, e se refere à beberagem feita do cozimento do cipó Banisteriopisis caapi com a folha da Psichotria. Outros termos usados pelos Kaxinawá para se referir ao nixi pae são huni (gente), dami (transformação), dunuã isun (urina da sucuri).
O uso dessa substância psicoativa é muito difundido entre os povos indígenas na Amazônia e deu origem ao Santo Daime entre os seringueiros do Acre. No Acre, a bebida, quando tomada fora do contexto do Daime, é chamada de cipó, no Peru de ayahuasca, na Colômbia de yagé (LAGROU, 1996, p. 198 – grifos no original). 
Yunxidade é uma categoria que sintetiza bem a cosmovisão xamânica dos Kaxinawá, uma visão que não considera o espiritual (yuxin) como algo sobrenatural e sobre-humano, localizado fora da natureza e fora do humano. O espiritual ou a força vital (yuxin) permeia todo o fenômeno vivo na terra, nas águas e nos céus.
O uso da ayahuasca, considerado privilégio do xamã em muitos grupos amazônicos, é uma prática coletiva entre os kaxinawa, praticada por todos os homens adultos e adolescentes que desejam ver "o mundo do cipó". O mukaya seria aquele que não precisa de nenhuma substância, nenhuma ajuda exterior para se comunicar com o lado invisível da realidade. Mas todos os homens adultos são um pouco xamãs na medida que aprendem a controlar suas visões e interações com o mundo dos yuxin.
O xamã tanto pode causar a doença quanto curá-la; o xamã pode entrar em contato com os yuxin e pedir-lhes que matem ou curem uma pessoa. Durante o sonho ou quando está em transe (sob o efeito do rapé ou do cipó), a viagem do yuxin do olho do xamã pode ir em busca da cura de um caso concreto, mas também podem realizar viagens exploratórias, para entender o mundo, adquirir conhecimento e saber as causas das doenças, exploram os caminhos que o yuxin do olho dos mortos terão que trilhar até chegar ao céu e fortalecem as relações com mundo espiritual pelo bem-estar da comunidade (LAGROU, 2004, on-line). 
Nesta primeira narrativa, além da prática de cheirar o rapé de tabaco (muito importante para os kaxinawá, como explicado anteriormente), que intitula o texto, ainda estão presentes os seguintes costumes: prática de dormir na rede (comumente utilizada até os dias de hoje nas aldeias); prática do roçado; prática da caça; prática da pesca (neste caso, pesca-se o bodó nas águas do igarapé) prática da luta, com a utilização de algumas armas (neste caso, a flecha e a borduna); costume de tomar banho no igarapé; dança e canto; estudo para ser pajé (estudo bastante específico e considerado um grande desafio para os aprendizes; este estudo tem características que podem variar de povo para povo); práticas alimentares (neste caso são citados o nambu cozido na caçarola de barro e as bananas cozidas com peixe bodó).
Sobre o que foi citado acima "O xamanismo é uma prática quase exclusivamente desenvolvida pelos homens" há um outro artigo sobre uma Pajé, mulher, que conta um pouco de sua visão, aqui: "Boto Rosa e o Xamanismo na Amazônia"

Referências:
GUESSE, Érika Bergamasco. Shenipabu Miyui: literatura e mito. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – UnEsP, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara  425 f. 2014.
LAGROU, Elsje Maria. Kaxinawá, 2004. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa/print>. Acesso em: 19 abr. 2019.
LAGROU, Elsje Maria. Xamanismo e representação entre os Kaxinawá. In: LANGDON, E. Jean Matteson (Org.). Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis: UFSC,
1996. 

Sid & Nancy - O Amor Mata (1986)


Outros títulos: Sid and Nancy: Love Kills
Diretor: Alex Cox (I)
Duração:  112 Minutos
País de origem: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Áudio: Inglês | Legenda: Português

Sinopse: Uma trágica história de amor e devoção total até a morte. O lendário Sid Vicious, integrante do Sex Pistols, tem sua participação menosprezada pela banda, mas teve uma vida mais agitada e fascinante do que todos os integrantes juntos. Sua vida já tumultuada e autodestrutiva, foi potencializada com a chegada de Nancy. Viciados em heroína e tendo eles juntos como uma droga do outro, Sid & Nancy são os ícones perfeitos da geração punk da década de 1970.  Gary Oldman e Chloe Webb impressionam nos papéis centrais, e nos levam numa alucinante viagem aos becos e porões do movimento punk na Inglaterra.

Alguns filmes glorificam o Rock'n Roll exibindo o lado glamuroso, cheio de aventura e maravilhas. Sid e Nancy não é assim. Ao invés disso, expõe o ventre sujo e decadente do Punk Rock, com muita violência e drogas. Gary Oldman interpreta Sid Vicious, o baixista do grupo britânico de punk rock Sex Pistols. O filme narra sua vida de quando ele conhece sua namorada Nancy Spungen, para o trágico desaparecimento desse relacionamento. É um filme barulhento, feio e grosseiro que captura perfeitamente o que os Sex Pistols representavam... Anarquia. Cheio de todos os tipos de sexo, drogas e Rock and Roll, Sid e Nancy é um passeio seriamente selvagem. Se há algo que faz esse filme, são Gary Oldman e Chloe Webb. Esses dois são incríveis, Oldman mais ainda. Oldman capta as tendências autodestrutivas de Sid de forma excelente e leva a um extremo assustadoramente crível.  Spray em paredes, beber sem limites, Heroína pra lá, pra cá, casas queimadas etc. Ele é a verdadeira essência da anarquia, e ainda assim sentimos simpatia por ele. Isso é apenas por causa de Nancy, a namorada. Ela é uma personagem que você ama odiar. Ela é uma desculpa patética para um ser humano, sempre se lamentando para conseguir seu caminho e suas drogas, nunca contribuindo com nada positivo para a vida de Sid e sempre gritando sobre seus próprios problemas. É repugnante e torna o filme ainda mais distorcido e cativante à medida que observamos essa autodestruição se desdobrar na tela.
Não é fácil contar uma história em que seus dois personagens principais são tão facilmente tocáveis, mas de alguma forma esse filme faz isso. Eu acho que é por causa do equilíbrio entre Nancy e Sid que nos sentimos compelidos a ter pena de Sid e desprezar Nancy, fazendo com que o filme se envolva de uma maneira estranha e um pouco desequilibrada. A história deles é tão retrógrada e tão obscena que temos que nos interessar de alguma forma. Começa simplesmente o suficiente. 
A coisa fica cada vez pior para os dois à medida que o filme avança e a vida de Sid desmorona lentamente ao seu redor, com ele muito bêbado ou muito alto para notar. O filme fica um pouco mais para o meio, já que as conversas entre Nancy e Sid começam a ficar um pouco repetitivas, mas somos atingidos por um final esperado, mas ainda assim que fecha o filme no tom e atmosfera certos. Não há realmente nada sensato ou razoável sobre Sid e Nancy. Envolve o verdadeiro caos e discurso através da vida de um homem e sua namorada sei lá como qualificar... (KnightsofNi11, 2011).
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Nordkraft (2005)

Diretor: Ole Christian Madsen
Duração:  120 minutos
País de origem: Dinamarca
Áudio: Dinamarquês | Legenda: Português

Sinopse: O filme mostra o modo como várias pessoas tentam escapar das drogas e desse ambiente, mas percebem como é difícil virar as costas para um mundo em que você vive há tanto tempo. O filme segue três histórias diferentes (mas todos tem raízes no mundo das drogas da cidade dinamarquesa de Aalborg).
"Visually stunning, but not as original as it tries to be."  Às vezes, filmes do mesmo gênero tendem a ser muito semelhantes em estilo e substância. Há quem diga que o diretor de Nordkraft, Ole Christian Madsen às vezes cruza a fronteira entre ser inspirador e copiado. O filme tem uma notável semelhança com "Requiem For a Dream" (outro filme sobre abuso de drogas) e certas cenas a trilha sonora parece idêntica, (sim aquela famosa musiquinha que quem assistiu sabe qual é). Maria, Allan e Steso, todas as histórias são bem representadas, mas alguns dizem que a história da jovem e seu relacionamento com o namorado, é um pouco superficial. As outras duas histórias (sobre um drogado tentando deixar a namorada de volta e um ex-traficante de drogas tentando começar uma nova vida) dominam o filme. Geralmente um bom filme, e visualmente um dos melhores filmes dinamarqueses em anos, embora Madsen pudesse ter se inclinado um pouco menos nos filmes anteriores do gênero (Vanihm, 2005).
Voltando as histórias,
Maria (interpretada por Signe Egholm Olsen), namorada de um pequeno traficante de drogas local, também alguém que apenas procura por amor no meio de um mundo de viciados, e ela está esperando que algo grande aconteça para eles; embora lentamente reconhecendo que seu sonho se tornou uma ilusão. Maria é também conhecida como “dama do tráfico”, pelo transporte de haxixe que realiza frequentemente entre as cidades de Christiania e Aalborg, na Dinamarca. Particularmente falando, há quem discorde mas foi de Maria de quem gostei mais, o resto tanto fez.
O segundo é Allan (Claus Riis Østergaard), que, depois de superar o vício em cocaína, resolve seguir o padrão de vida aceito pela sociedade.  Depois de seu retorno, seu passado o alcança, mesmo contra sua vontade e ele precisa lidar com algumas decisões sérias. Por fim, Steso (Thure Lindhardt), um dependente químico assumido o suficiente para negar qualquer tratamento. "Um viciado em tempo integral, que seus únicos objetivos na vida, é sua namorada alcoólica e está ficar chapado constantemente". Ele se sente uma pessoa brilhante, aparece lendo livros para escapar e sempre com fone de ouvido.
Mais interessante que Trainspotting – Sem Limites (1996), mas não tão envolvente quanto Réquiem Para Um Sonho (2000). 
O diferencial está naquela atmosfera que só os filmes escandinavos ou russos possuem, ou também os Russos (por exemplo a atmosfera do filme Lilja 4-ever (2002) e que gosto...
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O Enigmático Capricornus - Makara

First Fruits of Earth Offered to Saturn (Christofano Gherardi)
Segundo Helena Blavatsky, na sua monumental obra A Doutrina Secreta, Makara é o mais sagrado e misterioso de entre todos os signos do Zodíaco.
Para levantarmos um pouco o véu e penetrarmos na significação deste fascinante símbolo, iniciaremos, primeiramente, um périplo por alguns trechos da riquíssima mitologia grega.
A mitologia grega presenteia-nos, regra geral, com múltiplas versões, de diferentes épocas, sobre um mesmo tema. Porém, o seu significado essencial é sempre o mesmo; o que varia é o revestimento externo.
Começaremos pela história do nascimento da deusa Atena:

O nascimento de Atena

Métis, a primeira esposa de Zeus, ficou grávida de Atena. Perante este facto, Urano e Geia aconselharam o augusto deus a que engolisse a esposa, pois, de acordo com uma profecia, se Métis concebesse uma filha, e esta um filho, o neto viria a apropriar-se da soberania do avô.
Quando chegou ao fim a gestação de Atena, Zeus começou a sentir insuportáveis dores de cabeça. Pediu, então, auxílio ao deus das forjas, Hefesto, para que lhe abrisse a cabeça com um golpe de machado. Hefesto assim fez, e da cabeça de Zeus surgiu Atena, já adulta e armada com uma lança e uma égide.

A Vocação de Atena 

Em dada altura, os deuses do Olimpo debruçaram-se atentamente sobre certos acontecimentos que se desenrolavam na Terra. Na verdade, eles sabiam que estava eminente o alvorecer de uma grande revolução, que viria iluminar o caminho dos homens…
Cécrope, rei da Ática, intentava congregar as tribos da região por forma a edificar uma cidade-estado, cuja coesão e organização deveria trazer novos rumos de sabedoria e de paz.
Ante esta visão grandiosa, não era de admirar que os deuses se empolgassem e quisessem, cada um deles, o privilégio de ser patrono da cidade. Seguiu-se uma verdadeira querela e, no final, restaram apenas dois à altura do grande desafio: Posídon(-Neptuno), o deus dos mares, e Atena(-Minerva), a deusa da sabedoria e da prudência. Decidiu-se que se tomaria por protector da cidade o deus que produzisse a coisa mais útil.
Posídon, tocando a terra com a ponta do seu tridente, fez surgir um fogoso cavalo e fez jorrar uma fonte de água marinha, querendo com isso significar que o seu povo seria navegador, voluntarioso e guerreiro. Mas Atena interceptou-o e, aproximando-se do animal, afagou-o e domou-o, transformando-o num dócil aliado do homem. Logo após, tocando a terra com a ponta da sua lança, fez aparecer uma oliveira carregada de frutos, pretendendo com isso fadar o povo para que fosse industrioso, para que soubesse frutificar a terra, e para que pudesse iluminar os lares e os templos.
A azeitona, anunciou ela, seria portadora de vida: proviria alimento para os homens e óleo santo para os sacrifícios aos deuses. A sua árvore seria forte e resistente, frutificando mesmo na terra mais agreste e rochosa. Mas o mais importante era que a oliveira representaria a paz, enquanto que o cavalo, por obra dos homens, permaneceria associado à guerra.
Gerou-se silêncio entre aquela solene plêiade de deuses e, embora nenhum desejasse melindrar Posídon, e todos admirassem vivamente a sua magnífica criação, tiveram de reconhecer que Atena fora a vencedora.

E assim, sob o seu protectorado floresceu a grandiosa Cidade de Atenas.

Atena e Hefesto
[...]
Hefesto, o deus que ata e desata 
[...]

O nascimento de Zeus

Reia ficou grávida de Cronos mas, temerosa, pois o marido devorava todos os próprios filhos, refugiou-se no Monte Dicta (ou Ida, noutras versões), em Creta (embora a Ática também reclame esta honra para si) para dar à luz, e logo depois o escondeu nas profundezas de uma inacessível caverna. Aí, o pequeno Zeus foi amamentado por Amalteia, que era ao mesmo tempo uma ninfa e uma cabra. Mais tarde, reconhecido, Zeus instalou-a nos céus como a estrela Capela (Cabrinha) da constelação do Cocheiro (ou Auriga). Com frequência, em múltiplas versões do mito, se atribui a invulnerabilidade da égide de Zeus ao facto de esta ser recoberta da pele da cabra Amalteia.
Numa outra variante deste aspecto do mito, Aegipã (cabra-pã) era filho de Zeus com uma cabra chamada Aex, cuja pele era invulnerável. Quando esta morreu, Zeus retirou-lhe a pele e com ela fez a sua égide.

Capricórnio, a cabra-peixe

Numa batalha que travou contra o monstro Tifon, Zeus perdeu os tendões dos braços e dos pés, que Tifon, então, escondeu. Depois de algumas perseguições e peripécias várias, os seus filhos Aegipã e Hermes tomaram de volta os tendões do pai (o qual recuperou, assim, as suas forças), mas Tifon perseguiu-os até ao Egipto, onde eles se disfarçaram mudando de forma. Aegipã mudou a sua metade inferior para a de um peixe, a fim de lhe facilitar a sua fuga por mar.
Zeus mostrou a sua gratidão colocando Aegipã nos céus como a constelação do Capricórnio. Ele ainda mantém a sua forma: na contraparte superior, de cabra, e na inferior, de barbatana de peixe.

O símbolo Capricórnio-Makara

Em ocultismo, a cabra é um dos símbolos atribuídos ao Akasha, como o é da essência vital (Jîva) aprisionada na matéria. O Akasha é representado pelo Pentagrama. É por isso que o famoso “Bode de Mendes” (2), inscrito num pentagrama (com o vértice virado para cima, e assim figurado por Eliphas Levi), é sinónimo da Luz Astral (o aspecto ou nível mais inferior do Akasha), onde a Magia comum, elemental se pratica.

2) Em algumas raras representações, o “Bode de Mendes” é representado com uma cabeça de ancião e inscrito num pentagrama invertido, como alusão à natureza ilusória e enganadora da Luz Astral e à necessidade de muita prudência e discernimento para lidar com esse depósito ancestral, velho como o mundo, somatório de todos os bons e maus eflúvios produzidos pela humanidade e pela natureza animal em geral.

O Bode de Mendes é identificado ao andrógino Baphomet (3) grego, ao que se julga, cultuado pelos Templários. Segundo Von Hammer, o termo significa “baptismo ou iniciação na Sabedoria”, derivado das palavras gregas Baph [Baptismo] e Metis [Sabedoria”], e da relação de Baphometis com Pã.
De facto, Baphomet era um símbolo hermético-cabalístico, decomposto como se segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se-lhe a cifra Atbash e utilizando-se o método de transferências e codificação usado pelos cabalistas judeus, obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que compõe o termo gnóstico Sophia (Sabedoria, em grego).

3) Helena Blavatsky relaciona Baphomet a Azazel, o bode expiatório do deserto mencionado na Bíblia Judaico-Cristã, e cujo sentido original, segundo ela, foi pervertido pelos tradutores das Escrituras. Azazel seria a conjugação das palavras Azaz e El, significando, assim, “Deus da Vitória”.

À essência vital aprisionada na matéria, alude a lenda do Titã Prometeu agrilhoado para sempre a uma rocha. Durante o dia era supliciado por um abutre que lhe devorava o fígado e, para eternizar o suplício, à noite este era regenerado. Num aspecto do mito, Prometeu figura a mónada humana na sua prisão de carne, encarcerada no “Quaternário inferior”. Ele era corroído, incessantemente, nas entranhas, pelas paixões e concupiscências próprias da natureza inferior.

Mas Prometeu roubou o fogo dos deuses, a Centelha de Manas (Mente Superior), que, só ela, permite a salvação deste cárcere (a rocha a que estava preso). Prometeu simboliza, então, aqui, os Kumâras (a Tríade Superior (4) ou o Ego Espiritual) que vieram, a meio da 3ª Raça (5), trazer uma luz à humanidade-animal e lhe possibilitaram o caminho para a Liberdade e para a Imortalidade.

4) Por isso, também às vezes chamados os Triângulos, entre outros muitos nomes: Pitris Agnishvâttas, Mânasaputras, Dhyâni-Buddhas, Prajâpatis superiores, Aswins, etc.
5) Curiosamente, é dito que Vulcano, o planeta intra-Mercuriano que “vela o sol”, deixou de ser visível nos finais da 3ª Raça. (Blavatsky Collected Writings, XII). A este propósito, falaremos mais à frente, quando tratarmos da simbologia Hefesto-Vulcano.

De acordo com o sustentado por Helena Blavatsky, no Zodíaco bramânico os signos são todos eles presididos por, e dedicados a, um dos grandes deuses. No caso de Makara (Capricornus), a divindade a que o mesmo é dedicado é Pulaha, que, segundo o Rig-Veda, é um dos sete Richis-Prajâpatis nascidos da mente de Brahmâ.

E lemos na sua Doutrina Secreta “… A Quinta Hierarquia, a dos Kumâras, é muito misteriosa, uma vez que está relacionada com o Pentágono Microcósmico, a estrela de cinco pontas representando o homem. Na Índia e Egipto, aqueles Dhyânis [Kumâras] eram associados ao Crocodilo e o seu domicílio era em Capricórnio. Na astrologia indiana, Crocodilo e Capricórnio são termos conversíveis, porquanto este 10º signo do Zodíaco é chamado Makara, livremente traduzido por ‘crocodilo’ [mas, mais propriamente, simbolizando um ser anfíbio]. Ele é o “Dragão da Sabedoria” de Manas, e tornou-se o foco e a missão da 5ª Hierarquia – os misteriosos seres que governam sobre a constelação do Capricórnio, Makara ou ‘Crocodilo’ … para inspirar a forma animal vazia e etérea, e dela fazer o Homem Racional” (6). Podemos ler, ainda, a respeito, no Glossário Teosófico da mesma autora: “Se, conforme as sustentações exotéricas, Capricornus estava relacionado, de algum modo, com a cabra Amalteia que alimentou Júpiter com o seu leite, ou se era o deus Pã, que se transformou em macho cáprio e deixou impressa a sua marca nos arquivos siderais, é irrelevante. Cada uma das fábulas tem o seu significado. Cada coisa na Natureza guarda íntima correlação com as demais, e assim os estudantes da arcaica sabedoria não se surpreenderão quando se diz que ‘os sete passos dados pelo recém-nascido Buda na direcção de cada um dos pontos cardeais, ou seja, os vinte e oito passos’ estão intimamente relacionados com as vinte e oito estrelas da constelação de Capricórnio”.

6) O 10º Portal é o da Gnosis. O 10 é o número que dá nascimento às almas – à alma humana e, bem assim, à alma divina. Os Kumâras têm no domicílio de Makara o seu foco e a sua missão (e é, com certeza, significativa a particularidade da permutação fonética).

Makara ou Panchakaram é o Pentágono. Este é o símbolo do homem-pensante (dotado do 5º Princípio, de Manas) e também, num certo sentido, do Akasha (7). Makara é o mais recôndito, etéreo e interno de todos os signos. É o signo dos Deuses Solares e Salvadores do Mundo: Dionísio, Osíris, Hórus, Zeus, Mithras, Apolo, Baco, Jesus todos nasceram em Capricórnio. É o símbolo da iniciação, do novo-nascimento, e dos novos começos. O filósofo Luciano deixou dito que “o símbolo geométrico do Pentagrama (representando o Amor e a Euritmia vivente) era a contra-senha da Sociedade Pitagórica (…) Na verdade, o ‘número de ouro’, pitagórico, [1,618] resume aritmética e algebricamente as propriedades da dominante geométrica – o pentagrama” (8).

7) Makara, literalmente, significa 5º Raio (Ma = cinco; kara = raio ou potência, do sol ou da lua. Kara também significa “mão”).
8) El Número de Oro, de Matila C. Ghyka.

O Fogo de Manas foi-nos trazido, como já vimos, pelos Kumâras, os Senhores de Vénus. Diz-nos a Doutrina Oculta que Vénus é o protótipo espiritual da Terra. Daqui estar escrita a alegoria de que o carro de Sukra-Uzanas (isto é, o de Vénus-Lúcifer (9)) conduz um grupo de oito “cavalos nascidos da Terra”, enquanto os “corcéis” dos cocheiros dos demais planetas são em diferente número.

9) Lúcifer (ou Phoroneus), o “Portador da Luz”.

Com efeito, os antigos eram conhecedores de uma significativa ocorrência cosmológica entre os dois planetas irmãos. Em períodos (cíclicos) de, sensivelmente, oito anos, dão-se cinco conjunções ditas inferiores, isto é, de Terra-Vénus-Sol, e, também, com a mesma duração, cinco conjunções superiores, de Terra-Sol-Vénus, sendo que, em ambos os casos, Vénus desenha nos Céus um pentagrama (10). Este acontecimento extraordinário não podia ser visionado pelos astrónomos da antiguidade, pois, na verdade, só seria observável de fora da órbita terrestre; contudo, eles o sabiam!

10) Como é do conhecimento comum, a arquitectura do pentagrama regular está absolutamente determinada pelo número de ouro - “1,618” -, o número régio da proporcionalidade e da harmonia. (Lamentavelmente, pela extensão deste artigo, não é aqui oportuno fazer essa demonstração). De acordo com certas teorias astronómicas, apenas devido ao facto de a órbita da Terra ser uma elíptica (e não um círculo) com excentricidade superior à de Vénus, o pentagrama descrito não é absolutamente regular. A excentricidade de Vénus é quase nula, “0,0068”, e a da Terra é de “0,0167”. Não só os Gregos e Hindus, mas também outros povos, como os Maias, eram detentores de sofisticados conhecimentos astronómicos. O Códice de Dresden, por exemplo, um dos legados dos Maias que chegou aos nossos dias, exibe um calendário com o ciclo completo de Vénus, de 5 grupos de 584 dias cada um, totalizando assim 8 anos (terrestres), e seguindo-se ciclicamente o mesmo esquema.

Vénus é positivo em relação à Terra e é o seu Alter-Ego. Corresponde à Tríade Superior, enquanto que a Terra representa o Quaternário inferior.

A cabra, a serpente, o golfinho, o peixe, o crocodilo

Originalmente Capricornus não era uma cabra e, sim, um ser híbrido metade cabra e metade peixe (isto mesmo pudemos observar no mito grego de Aegipã). O símbolo de seres bi-compostos, terrestres numa das metades e, na outra, marinhos, é recorrente e significa, invariavelmente, a qualidade ou potencialidade da expressão em dois mundos ou planos. Na verdade, a palavra grega amphibios (de amphi, “de um e de outro lado”, e bios, “vida”) significa simplesmente “vida em dois planos”. A classe de seres simbolizados por Makara, ou pelo Crocodilo, ou por Capricornus alude aos nossos Pais primordiais, os Kumâras, que (provenientes de Planos internos e, em termos evolutivos, muito superiores a este em que estamos enfocados) dotaram a humanidade do princípio da Mente e, progressivamente, a vieram instruir em todas as artes e ciências. Em muitas latitudes, sobreviveram lendas a respeito de alguns desses seres iniciadores, que (simbolicamente) durante o dia emergiam das águas profundas para instruir os homens, e à noite regressavam ao seu elemento natural: Oannes ou o Annedotus, o homem-peixe das lendas caldeias; Dag ou Dagon, das hebraicas; os Nâgas ou Reis-serpentes, das búdicas; Matsya, o avatar-peixe, primeira encarnação de Vishnu, da cosmogonia hindu. Enfim, até o próprio Jesus, o Instrutor dos homens, do Novo Testamento Cristão, foi chamado, figurativamente, de “Ichthus”, ou “o Peixe” (em grego), sendo o peixe uma das senhas de reconhecimento entre os seus seguidores, no início do Cristianismo. Mas muito significativamente, quanto ao primeiro que aqui se enuncia, na época pré-Babilónica Oannes era o Ea-Oannes (11), “O Antílope das Águas Profundas”, também nominado “Aquele do Vasto Intelecto”, “Senhor do Olho Sagrado”, Deus da Sabedoria”. E Ea-Oannes era frequentemente representado na figura de uma cabra com cauda (barbatana) de peixe, figura também por vezes referida com o designativo de suhurmashu.

11) Na Suméria, a constelação de Capricornus era associada ao deus Enki, mais tarde identificado a Ea, que trouxera cultura das profundidades oceânicas para a humanidade. Bem cedo os povos daquela região mesopotâmica dominavam conhecimentos astronómicos e geodésicos. Reconheciam, por exemplo, três paralelos principais: o equatorial, ou caminho das estrelas de Anu (o Ouranos grego), e dois tropicais, ou caminhos de Enlil (Câncer) e de Ea (Capricórnio).

O símbolo híbrido da cabra-peixe estava ainda representado no imaginário de povos como os chineses, os árabes, os assírios, os persas. Para os chineses era Ko ki; para os árabes era Alcaucurus ou Alcantarus; para os assírios era Kunaxa; para os persas era Vahik.

Igualmente, para os gregos, aigokereus, o símbolo anfíbio capricórnio, era metade cabra, metade peixe, e representava a ambivalência da vida nos dois mundos, telúrico e urânico. Era a cabra mítica nutriz, cujos cornos simbolizavam a prodigalidade (a abundância e a fertilidade) – a Mãe do Mundo – em simbiose com o símbolo do peixe, o qual, por sua vez, alude à fluente movimentação e liberdade nas águas profundas e primordiais – as águas do Âmnio celeste, onde se gera a Vida Universal. Amalteia, Amnius, Ama (12) Amrita (13), Amónia (14), Alma, Anima, Amen, Ammon (15), todos estes termos remetem para a noção de mãe, geratriz, nutriz, princípio, soro divino, grande mar ou águas primordiais…

Varuna (Uaruna foneticamente), ou Uruvana, nas antiquíssimas inscrições de Boghaz Keui, que remontam ao século XVI a. C., é o protótipo do Ouranos grego. É o deus das “Águas do Espaço” ou, em certo sentido, o Akasha (14.) Varuna anda sobre as águas montado num peixe ou animal marinho chamado Makara (16). É o principal Aditya entre os sete grandes deuses planetários.

12) Além do significado usual português de ama, “aquela que amamenta”, ama é também “mãe” em hebraico, sendo ainda um título da Sephira Binah. Em caldeu, “mãe” designava-se amia. Âma-bhu é um termo sânscrito que significa “existência anímica”, ou “que existe como alma” [“O que existe por si mesmo”, isto é, “Brahmâ e outros deuses”] Glossário Teosófico.
13) O Amrita é o alimento que confere a imortalidade, o elixir da vida retirado do Oceano de Leite, na alegoria dos Purânas. É idêntico ao Sudhâ, néctar dos deuses, simbolizado nas águas sagradas e purificadores do Mandâkimâ cujo aspecto inferior é o rio Ganges - águas essas, personificadas na deusa Gangâ, de que Makara, misticamente, é o veículo. O Amrita é ainda uma designação, nos Vedas, para o suco sagrado Soma, utilizado nos Mistérios do Templo, como é, também, idêntico ao Haoma, o fruto místico, proibido, da Pippala, a Árvore do Conhecimento. Deste termo sânscrito haoma deriva o grego haîma, que significa sangue, o veículo da vida.
14) E até ureia (do grego ouron, ouranós). Parecerão abusivas estas correlações mas estes termos guardam, na nossa perspectiva – não tanto na etimologia formal e mais aparente mas por uma estranha atracção oculta baseada na fonética – uma identificação com a substância íntima e geratriz da Natureza – o Akasha, o Aether no sentido superior, a Anima Mundi, o Amrita ou Elixir da Vida, Ambrósia dos deuses, o Azoth dos alquimistas (também chamado Leite da Virgem). Este Azoth é a Essência Vital, o princípio anímico presente em toda a natureza e a partir do qual toda a materialidade com a sua incomensurabilidade de fenómenos se podem manifestar. Embora, na verdade, este Azoth não seja o azoto da Química, não é por acaso que ambos têm essa designação. O azoto (nitrogénio) é o mais insondável e enigmático dos elementos, porque o mais radical, se assim nos podemos expressar. Ele é, na verdadeira acepção, a fonte da vida fisiológica. Para sustentarmos, um tanto (na medida que nos é acessível) esta assertiva, ilustraremos simplesmente com o conhecido fenómeno da hibernação, detido por alguns animais: os ursos, por exemplo, conservam e acumulam ureia no seu organismo, para, no período da hibernação, reconverterem essa ureia em nitrogénio essencial, a partir do qual fabricarão os aminoácidos fundamentais para a manutenção da vida.
15) Ammon idêntico a Pã, o deus da Natureza ou a Natureza personificada.
16) Do mesmo modo que, entre os hindus, Makara é o veículo de Varuna, entre os egípcios, Sebek, o sagrado crocodilo do Nilo, é o veículo de Hórus. No Livro dos Mortos, Sebek assim se pronuncia: “Eu sou o peixe e a sede [morada] do grande Hórus de Kem-ur”.

Também o Ouroboros ou Uroboros (Theli, na Caldeia), aparentemente com a mesma etimologia, representava o Grande Dragão que circunda simbolicamente o Cosmo. “Uroboros, é a Serpente que morde a própria cauda. Representa o andrógino divino no qual, no curso de um Manvantara, primeiramente ocorre o despertar da vida consciente. É a Grande Nâga, a Grande Serpente que ‘atrai a cauda para a sua boca naquela busca incessante do negativo pelo positivo’ e morde ‘com a sua cabeça activa a cauda passiva, de cujas emanações nasceram mundos, seres e coisas” (The Mahatma Letters to A. P. Sinnet). O Uroboros é, ainda e por conseguinte, uma alegoria ao útero da Grande Mãe, o qual contém as fecundas águas amnióticas. Numa frase emblemática da Tábua de Esmeralda, de Hermes Trimegistus, pode ler-se: “O Thelesma [o Ouro Celeste ou Espírito Universal] de todo o mundo está aqui. O seu poder não tem limites sobre a Terra”.
Ainda com alguma relação fonética, parece estar o Uraeus, outra serpente, Cobra Capella (do tipo naja) e um símbolo sagrado no Egipto antigo. Segundo o egiptólogo James Bonwick, “o Uraeus adornava a parte anterior do Atef, a coroa de Hórus, bem como a mitra de Osíris, além de encimar a fronte de outras divindades, masculinas ou femininas. Com o disco solar, o uraeus guarda os portais do Hades. Ele é o companheiro dos abençoados no Paraíso e guarda-os da aproximação do mal”. Segundo uma velha lenda, também os antigos Buddhas têm como guardiã uma Cobra-Capella. Na verdade, a ciência arcana ensina que o Uraeus é um símbolo da iniciação e da sabedoria oculta.

Na astrologia grega, o terceiro decanato do Capricórnio é chamado Delphinus (Golfinho). Na astrologia persa, este decanato é tanto representado pela figura de um peixe, ou animal marinho, como de uma corrente de água. Nos sistemas orientais, incluindo o egípcio, o signo por inteiro é sempre simbolizado por um ser híbrido, metade cabra, metade animal marinho. Por vezes, ainda, essa natureza híbrida inclui uma metade serpente; com efeito, na Grécia, numa medalha pitagórico-órfica de Thurium, não é nem o cavalo, nem os grifos que ornam o capacete de Atena, mas um híbrido fantástico com cauda de serpente.

O crocodilo, como já foi dito, é uma forma de figurar o ser anfíbio, com assento e domínio nos dois mundos. No antigo Egipto detinha um carácter iniciático. No Livro dos Mortos, no capítulo XXXI, que versa sobre o emprego das palavras de poder (as hékau, dadas por Ísis) para chegar até Osíris, na grande passagem nos caminhos para o “Mais Além”, a alma, enfrentando um dos guardiões, o Grande Crocodilo Sui, dirá: “… Eu vivo pela vontade das palavras de poder que levo comigo…”. Lembremos que, segundo o mito, fora precisamente o ínsito poder de Ísis que lhe franqueara os caminhos pelas águas do Grande Mar ao percorrer os sete cantos do mundo em busca dos pedaços do corpo morto de Osíris, para de novo lhe insuflar o sopro de vida. Cruzando-se com inúmeros crocodilos, nenhum ousou impedi-la.

Paralelamente, também em antigos templos hindus, nomeadamente em alguns dedicados a Shiva, o símbolo de Makara, o crocodilo, figurava sobre os Portais (Toranas), abençoando as arquitraves dos acessos ao Adytum (o Santum Sanctorum). Nessas representações Makara corporifica, na sua metade inferior, uma espiral, símbolo da incursão e interiorização aos mundos ocultos. Makara assume, aqui, o papel do Pontífice (ou do Avatara), aquele que torna apreensível e representável o Insondável e Desconhecido aos olhos do aspirante no Caminho. É tanto o Guardião quanto, também, a própria Ponte entre o mundo dos homens e o mundo dos deuses. E é com esta última conotação que, ainda hoje, essa sua insígnia – a espiral – se perpetua, como herança, encimada no báculo dos bispos da Igreja Romana.

Entretanto, e fazendo, de novo, contraponto com a simbologia dos egípcios, o véu levanta-se um pouco mais quando entrevemos o fio das muitas correlações que permaneciam obscurecidas relativamente a este enigmático signo: Assim, temos que Seb ou Sib é o Saturno egípcio, pai do tempo (17) e de todos os deuses, incluindo Osíris e Ísis. Sua esposa é Nout ou Neith, a “Grande Mãe” (a Matéria Primordial e Espaço Infinito) e, contudo, “Virgem Imaculada”. Nout é a precursora de Ísis, e seu protótipo.

17) Sebti significa sete ou o sétimo [planeta].

Muito curiosamente, a divindade egípcia Sebek ou Sevekh (18) é representada com cabeça de crocodilo. E Sevekh é também o deus do tempo (Cronos). Tal como na alegoria grega-latina, em que Cronos engolia, inteiros, os próprios filhos, assim o faz o crocodilo, ao engolir, inteiras, as suas crias (esta era uma realidade que os egípcios frequentemente presenciavam). Sevekh é uma divindade solar pois exibe como emblemas o disco solar e chifres de carneiro.

18) O crocodilo é o dragão egípcio. Era o grande réptil de Tifon e o seu santuário era em Crocodilopolis, onde era consagrado a Set e Sebek, que se dizia serem os seus criadores. Segundo as palavras do historiador Christian Bunsen, nesse tempo “Tifon era um dos mais venerados e poderosos deuses, que distribuía bênçãos e vida aos governantes do Egipto…”.

Makara (o crocodilo), que contém velado, sob o seu nome, o anagrama Karma, está sob dominação de Yama, um dos 4 Mahârâjahs ou Regentes dos 4 Pontos Cardeais (19). Com efeito, cada qual possuindo uma propriedade oculta, os quatro governam as Forças cósmicas de tais pontos e representam a funcionalidade da Lei do Karma e sua administração sobre a Terra. Yama é o Senhor do Sul e (dos quatro) o seu máximo ponto focal. E Yama é também a personificação da Terceira Raça (a primeira que foi dotada de consciência, Sanjnã/Manas), na qual se operou a grande união entre Espírito e Matéria. É, nesta acepção, Yama-Yamî, bipolar (o símbolo do Manas dual).

19) Também chamados os “Quatro Dragões Ocultos de Sabedoria” ou, ainda, os “Nâgas Celestes”.

Saturno (o Regente do signo astrológico Capricórnio-Makara) é idêntico a Kâla (o tempo, como regulador e destruidor do mundo, e um dos sobrenomes de Yama) e é também idêntico ao Agruero fenício (protótipo do Jeová israelita) (20). Por outro lado, os Agra-sandhâni são os “assessores” de Yama e os “registradores do karma” (idênticos aos Lipika), aqueles que ajustam o fiel da balança entre as forças positivas e as forças negativas cósmicas, celestes e humanas. Daí o símbolo dual de Makara ou de Capricornus, que reúnem numa única figura a integração das duas potências. (21)

20) Saturno era associado a Ildabaoth (segundo Orígenes, Ildabaoth é o Génio do planeta Saturno), e o Codex Nazaraeus (o Evangelho dos nazarenos e ebionitas) identifica Ildabaoth a Jehovah. Equivalia ainda ao Zurvan Daregho-Chvadhata iraniano.
21) Isto mesmo é inferido pelos Gnósticos Peratae, quando chamam Leviathan ao Makara (Philosophumena, Livro V). O Leviathan é, no esoterismo bíblico, a Divindade na sua dupla manifestação de bem e de mal.

Em certo trecho do Vishnu Purâna é dito que “a forma mais poderosa do Universo é a do Shishumara (22), metade animal, metade humano. Na metade inferior ele tem a forma de um crocodilo e simboliza o tempo como ‘o devorador’. No extremo da sua cauda está presa Dhruva, a estrela polar (22). A metade superior é de homem, com quatro mãos [tal como Vishnu]…”. E o significado do termo shishumara era, precisamente, o “devorador de crias”!

A cabra e o leite
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Chaves para a Interpretação dos Mitos Helénicos
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Atena-Minerva

Atenas é o símbolo da eloquência e da sabedoria serena própria de Buddhi-Manas (36). Entre as suas insígnias está a famosa égide, o escudo da invulnerabilidade, forjado por Hefesto, revestido com a pele da Cabra Amalteia, e tendo, na sua superfície, fixada a imagem da cabeça da Górgona Medusa. Ele tornou-se invulnerável porque foi temperado nas forjas da incessante luta humana, na longa peregrinação pelos cenários da vida terrena.

36) Representa o Nous (a Alma racional, o Ego Espiritual), na filosofia grega.

O escudo é um produto e uma arma da Psique, neste caso da Panpsiquis ou Psique Universal – de novo temos a remissão para o Akasha ou a Alma do Mundo, reforçado pelo facto de o mesmo ser recoberto pela pele da Cabra Amalteia. O Akasha é, aqui, como um espelho onde se reflectem, nuas, as iniquidades humanas. Deste modo os guerreiros inimigos, inflamados de ódio – prontos para derramar sangue e infligir dor – são vítimas da sua própria imagem reflectida, simbolizada pela terrífica Górgona.
Atena porta numa das suas mãos a Níke, a representação da Vitória – o que significa a vitória sobre os vícios e as tentações, o culminar da luta bem sucedida na aventura evolutiva humano-terrena. Aparte o episódio com Hefesto, não se retratam quaisquer outros envolvimentos românticos ou sexuais seus com outros deuses ou mortais (37). Amada por todos, é antes um modelo inspirador das virtudes superiores e mais nobres, ao alcance da condição humana. Inspirou e protegeu heróis como Jasão, Orestes, Teseu, Héracles, Aquiles, Perseu e Ulisses.
[...]
Ela inspira, anima, abençoa (dá a mão) àquele que se dispõe a cruzar o acutilante caminho do “gume da navalha” – a ponte “Antahkarana” – para chegar, depois de longo e merecido esforço, à outra margem, à Terra dos imortais.
The Lady and the Unicorn by Luca Longhi.
The Capricorn-Cancer opposites reconciled. The unicorn is the transformed goat of Capricorn the initiate, the woman is Cancer the mother of the form containing spirit.
(Os opostos Câncer-Capricórnio se reconciliaram. O unicórnio é o bode transformado de Capricórnio o iniciado, a mulher é Câncer a mãe da forma que contém espírito.)

Referências:
http://biosofia.net/2007/06/26/o-enigmatico-capricornus-makara/
Isabel Nunes Governo
Vice-Presidente do Centro Lusitano de Unificação Cultural
https://esotericastrologer.org/newsletter-sign/capricorn/

Spun (2002)


Outros títulos: Spun - Sem Limites
Diretor: Jonas Åkerlund
Duração: 97 Minutos
País de origem: EUA
Áudio: Inglês | Legenda: Português

Sinopse: Com um elenco que conta com Mickey Rourke e John Leguizamo, essa produção narra o mergulho de um viciado no mundo das drogas. Uma viagem trágica e pesada, de onde não existe como voltar sem abandonar toda as marcas que ficam. O papel principal é de Jason Schwartzman. A produção mostra desde seu primeiro encontro com um homem que lhe ofereceu speed, sua primeira experiência com as drogas, até seus problemas atuais com o traficante local.

Como a epígrafe de abertura do filme diz, Spun é "baseado em verdade e mentiras"
Uma mensagem antidrogas que foi ampliada dez vezes pessimistas como Trainspotting (1996) e Requiem For A Dream (2000). Enquanto os três personagens principais entram e saem de laboratórios, farmácias e clínicas de animais de estimação (um cachorro verde sofrendo os efeitos do tabagismo passivo!). Temos uma ótima aparição de Eric Roberts como 'The Man' (e seus meninos), Rob Halford como balconista da locadora pornô e uma boa trilha de Billy Corgan  'Smashing Pumpkins' (thespinningimage).
"Spun" combina uma atitude de repulsa com um humor esquisito. Essa é uma das observações rançosas do filme: velocidade e pornografia (com bondage e sexo anal, os modos preferidos) andandando juntos como bacon e ovos. (Ou devo dizer ratos e lixo?) aquele filme que cheira. Enquanto a câmera oscila de uma área de desastre para outra, nenhuma partícula de sujeira, lascas de gesso decadente ou lata de cerveja esmagada é deixada sem exame em meio a pilhas de lixo em que seus personagens se desmembram de suas próprias bagunças (nytimes).

 O charme do filme, que é reconhecidamente um gosto adquirido e indescritível, vem do fato de que "Spun" não romantiza seus personagens, não os amplia ou dramatiza, mas parece abanar a cabeça, incrédula, enquanto essas besteiras persistem em ruinosas e violentas. comportamento insano.
O filme é como a versão de baixa renda, road show daqueles filmes de droga sérios onde todo mundo é machista e mortal. Os personagens de "Narc" esmagariam esses personagens sob seus polegares. O diretor, Jonas Akerlund, vem da Suécia via comerciais e videoclipes, e obviamente estudou cuidadosamente "Requiem for a Dream", já que ele usa o mesmo tipo de desconexões visuais aceleradas para sugerir a vida na metanfetamina. 

Claro há quem diga que foi muito vento pra pouca chuva (estiloso, oco, previsível), como típico de diretores de videoclipes que se arriscam no cinema, apelam para concepções visuais excêntricas, e esquecem que o filme necessita de mais elementos para valer o esforço do espectador, podendo Spun ter credibilidade quanto à pretensão de reproduzir os efeitos do consumo de drogas pesadas, porém, "Trainspotting" sendo superior. De acordo com alguns o site Fimow. Particularmente gostei mais de Nikki (Brittany Murphy) e  Cookie (Mena Suvari).
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Requiem for a Dream (2000)

Outros títulos: Réquiem para um Sonho
Diretor: Darren Aronofsky
Duração: 102 minutos 
País de origem: EUA
Áudio: Inglês | Legenda: Português

Baseado no livro de Hubert Shelby Jr., que escreveu o roteiro em parceria com o próprio Darren Aronofsky, Réquiem Para um Sonho se concentra em Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), senhora solitária que passa a maior parte de seu tempo vendo o programa de Tappy Tibbons (Christopher McDonald) na TV, e no trio formado por seu filho Harry (Jared Leto), a namorada dele, Marion (Jennifer Connelly), e o amigo Tyrone (Marlon Wayans), todos viciados em heroína. Cada um desses personagens possui um sonho em especial, e esperam realizá-lo em breve. Enquanto Sara é convidada para participar do programa que tanto gosta, o que a leva a tomar pílulas para emagrecer na tentativa de entrar em um vestido perfeito para a ocasião, Harry, Marion e Ty tentam juntar dinheiro para investir em um negócio que resolva suas vidas. Mas o vício de cada um acaba os impedindo de seguir com seus planos da forma como gostariam.
Os personagens até podem se sentir mais aliviados com as drogas, mas as consequências que elas trazem são realmente tristes de se acompanhar, sendo que eles se veem obrigados a desistir de coisas que inicialmente desejavam para si mesmos. Dessa forma, não é à toa que ouvimos a excepcional e melancólica trilha de Clint Mansell mesmo nas cenas em que Sara, Harry e os outros aparentam estar muito bem e com um sorriso no rosto (papo de cinema).

A narrativa é contada por meio das estações do ano. O filme inicia no Verão, onde temos o ponto alto das personagens, e com a mudança de estações, esses mesmos personagens caminham para um final trágico. Os cortes rápidos do Diretor e a trilha de Clint Mansell ajudam a ambientar a ruína das personagens.
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