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Tricofagia - Por Moreira Júnior

Tricofagia


É outono; a copa nua do arvoredo

Fidamente me remete à uma lembrança

Por possuir harmoniosa semelhança

Com a essência visual do meu segredo!

Pra entenderem a memória resguardada

E o porquê à comparei distintamente

Com uma fronde pelo outono desfolhada

Devo a tratar pelo viés de um doente!

Sofregamente dominante, a condição

Me pregnava da cabeça aos tornozelos

E à maneira de uma prensa em ação

Eu arrancava e deglutia meus cabelos!

Me comparava à um ilustre lavrador

Que na labuta meritória e corriqueira

Vai arrancando das gramíneas a toiceira

Para depois encaminha-la ao moedor!

A compulsão tem o poder de satanás,

A mesma força opressora do tinhoso

Que entre a dura obsessão do falso gozo

Nos leva sempre a querer cada vez mais..

Em meio à vômitos e dores excessivas

Um desconforto estomacal angustiante,

A condição e suas forças criativas

Me impeliram à um estágio horripilante!

E foi então que comecei a cobiçar

Num silêncio friamente monstruoso

Entre sombras de um anseio desejoso

Da minha esposa todo adorno capilar!

Aquela idéia em meu ser recrudescia

Então um dia, não podendo suportá-la

Logrando ver que minha amada já dormia

Fui contra ela e comecei esfaqueá-la!

Nove facadas, foram nove exatamente,

(Só um detalhe que em suma não importa)

Porém o ataque não foi muito eficiente

A infeliz estava queda, mas não morta!

Sua agonia impeliu o meu intento;

Ao seu ouvido exigi perdão por tudo,

E na ação de um transtorno violento

Pousei mordidas no seu couro cabeludo!

E que olor! À cada vez que mastigava

A ruiva ruma de pelúcia muito espessa!

E foi assim, até pelar toda cabeça

Da criatura que inda viva agonizava!

Tempo depois vendo que havia sucumbido,

Deixei-a calva numa poça de abandono

E hoje vendo o arvoredo assaz despido

Vejo que à ela fiz as vezes de um outono!


Moreira Júnior

Conto: O Misterioso Caso da Srª Izabelli

Por: KATERINE DUMONT

Quando o consultor criminal Saul que substituiu o Dr. Honorato depois de sua morte chegou à cena de um possível crime, se deparou com a cena mais inusitada de toda a sua vida: uma mulher completamente carbonizada, reduzida a cinzas, deitada sobre um colchão de palha sem nenhum dano causado pelo fogo.

Saul ficou pasmo com aquela cena e se perguntou: como era possível que aquela jovem mulher pegasse fogo sem que o colchão de palha onde ela dormisse fosse danificado pelo fogo?

Eis aí um mistério que intrigou o detetive consultor Saul. Como era possível que aquilo fosse possível – perguntou Saul a si mesmo – e não conseguiu encontrar nenhuma resposta. Este era com certeza o caso mais misterioso de toda a carreira de consultor criminal de Saul, e ele não fazia ideia do que levou aquela mulher ser completamente carbonizada sem que o colchão de palha onde ela dormia sequer fosse danificado pelo fogo.

Saul então pensou na hipótese mais simples, ou seja, aquela mulher foi morta por um assassino que colocou fogo em seu corpo e, depois de carbonizado, o pegou e o trouxe de volta para sua casa e o colocou em sua cama. Esta era a única explicação natural possível para aquela cena bizarra.

Saul então, junto com a equipe de policiais envolvidos no caso, começou a procurar nos arredores da casa lugares onde o corpo pudesse ter sido queimado, mas nenhum vestígio de cinza foi encontrado em toda a região; levando Saul à estaca zero novamente. Como aquilo havia acontecido?

Só havia uma única possibilidade plausível para aquela cena bizarra, mas ela havia sido descartada pela ausência de sinais de cinzas na região, e, além do mais, carregar um corpo carbonizado não lá algo muito simples de se fazer, era preciso ser um médico legista para fazer aquilo de forma tão bem executada; é preciso ter técnica e sutileza para não transformar o corpo carbonizado em cinzas. Portanto, a única hipótese plausível para aquele acontecimento misterioso não era consistente com as provas ou ausência delas na região.

Saul então pediu ao detetive chefe para convocar à delegacia todos os médicos legistas da região para uma entrevista, a fim de diminuir o número de suspeitos descartando-os com a confirmação de seus álibis. No entanto, como o corpo fora completamente carbonizado, ficou impossível determinar a hora da morte, mas o legista que analisou o corpo carbonizado deduziu que ela havia morrido naquele mesmo dia, pois o corpo, apesar de totalmente carbonizado, ainda apresentava certa estrutura óssea.

Saul então não tinha uma hora aproximada do crime, e teria que eliminar os álibis não com base na hora do crime, mas sim no dia, o que iria dificultar ainda mais a investigação.

Depois de a equipe entrevistar e conferir o álibi de oito médicos legistas atuantes na região, todos os álibis foram, um a um, confirmados com total segurança, pois havia provas e testemunhas de que nenhum dos oito médicos estava na cidade naquele dia.

Então Saul começou a pensar em quem mais teria habilidade e conhecimento o bastante para deslocar um corpo carbonizado com tamanha destreza. Se não era um médico legista atuante na região, então quem era?

Saul então pediu ao detetive encarregado da investigação para pedir a sua equipe para procurar no banco de dados da polícia algum médico legista que tivesse sido há pouco demitido ou que estivesse aposentado. Foram encontrados dois médicos legistas, um que havia acabado de ser demitido e o outro que havia acabado de se aposentar. Depois de entrevistar e interrogar cada um deles e conferir seus álibis, mais uma vez não havia nada que desabonasse a atitude de qualquer um dos dois. E Saul novamente voltou à estaca zero. Ele tinha nas mãos um crime misterioso para solucionar, mas não tinha nenhum suspeito, pois todos haviam sido descartados.

Então quem havia feito àquela coisa horrível com a senhorita Izabelli se não existia nenhum suspeito do crime?

Foi então que Saul pensou: quando o número de suspeitos de um crime é igual à zero, como neste caso, então se deve investigar a própria vitima, e Saul então deu início a uma grande investigação da vida da senhorita Izabelli, e acabou descobrindo que ela era uma alcoólatra veterana e que, antes de sua morte, seu corpo já estava inchado de tanto álcool ingerido por ela.

Neste instante Saul teve um insight e disse ao detetive que havia resolvido o caso. E completou dizendo de forma magnetizante e eloquente que não havia ocorrido nenhum crime ali. Aquela mulher não havia sido assassinada por ninguém, a não ser por ela mesma, pois a sua ingestão de álcool excessiva levou seu corpo, que é um sistema elétrico-químico a produzir uma combustão humana espontânea.

Seu corpo foi destruído parcialmente pelo fogo, e quando suas roupas ficaram encharcadas com a sua própria gordura, funcionou como um pavio de vela. Devido ao excesso de álcool em seu corpo, o funcionamento elétrico-químico de seu corpo fez a sua gordura entrar em combustão. O seu corpo vestido funcionou como uma vela do avesso, e a gordura do seu corpo foi o combustível do fogo do lado de dentro e a suas vestes do lado de fora funcionaram como um pavio. Portanto, o suprimento contínuo de gordura do corpo (que contém grande quantidade de energia) da pobre Srª Izabelli que unido ao álcool excessivo em seu corpo e suas vestes fê-la se transformar em cinzas.

Enquanto a jovem dormia sob o torpor do álcool em seu corpo, as atividades elétrico-químicas de seu cérebro e de todo o seu corpo levou a uma rápida oxidação de suas células biológicas provocando assim a sua combustão espontânea, queimando-a de dentro para fora, por isso o colchão de palha não foi atingido pelo fogo. Caso encerrado – disse Saul olhando para o detetive – que ficara completamente boquiaberto.

Cômico Conto: "Tripas" (Guts) por Chuck Palahnuck

Esse conto, escrito pelo autor de Clube da Luta, foi publicado no livro Assombro (Haunted), de 2005. Na turnê de lançamento havia leituras desse conto feitas pelo próprio Chuck e, nelas, dizem que pessoas desmaiavam (mais de 50) e passavam mal. 

Na verdade é um baita conto engraçado olha!

"Inspire.
Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.
Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.

Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.

Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.

Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.

Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.

Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.

Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.

Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.

As pessoas na França possuem uma expressão: “sagacidade de escadas.” Em francês: esprit de l’escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa….

Enquanto você desce as escadas, então – mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.

Esse é o espírito da escada.

O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.

Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.

Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.

Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.

Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem.

Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.

Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha.

Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.

Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.

Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.

O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau.

Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.

Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.

O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.

Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.

O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos mais velho da Marinha escreveu.

No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.

Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado.

Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas.

O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d’água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.

Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.

Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.

Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nais quais você não se preocupa que te pegam.

A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.

Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.

Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.

Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.

Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.

Faço isso de novo, e de novo.

Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.

E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.

Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.

As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.

Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.

As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás… mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.

Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.

Então… eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.

Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.

Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.

Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.

Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.

O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.

Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.

Deus proíba que meus pais vejam meu pau.

Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.

Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d’água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.

Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.

Você então vê contra o que eu lutava.

Se eu largo, sai tudo.

Se eu nado para a superfície, sai tudo.

Se eu não nadar, me afogo.

É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.

O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.

Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.

Algo sobre o qual nem os franceses falam.

Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça…,” os russos dizem, “Preciso disso como preciso de dentes no meu cú……

Mne eto nado kak zuby v zadnitse.

Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.

Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.

Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.

Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.

É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.

Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim….

Precisava disso como precisaria de dentes no cú.

Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.

Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.

Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela porra daquele cachorro era maluco.”

Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, “Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo….”

E então a menstruação da minha irmã atrasou.

Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.
Nunca.
Essa é a nossa cenoura invisível.
Você. Agora você pode respirar.
Eu ainda não."

Referências
https://papodehomem.com.br

Doutor Sádico (Em Delirium) Por Carlos Patricio

Imagem: Livro Delirium (2014).
Hoje, depois de anos finalmente resolvi escrever sobre o conto de um amigo, o conheço já a bastante tempo e posso afirmar sua simpatia, tenho seu livro dedicado em mãos, e posso dizer o quando é uma leitura ótima para passar o tempo, para ler no avião, no carro, no mais escuro de seu quarto! 

Desordens. Distúrbios. INSÂNIAS! Este é o tema de Delirium. Nesta coletânea de contos o autor preza, sobretudo, pela diversidade e a originalidade. Pois em que outro livro você encontraria realidade virtual, experiência com alucinógenos, assassinos sádicos, debates sobre crenças e religião, um desabafo a la Kafka, e, até mesmo, os infortúnios de uma fofoca? Uma culinária diversificada e bem temperada para todos os paladares.

Diante de tal insânia, o blog Capricornus Cruentum irá divulgar o conto chamado Doutor Sádico ! Ao final, o link para entrar em contato com o autor e para adquirir o livro com dedicatória e desconto !

“... está sendo considerado o ano com o maior número de sequestros na história da Áustria! Superando até mesmo 1995, quando dezenas de crianças haviam sido não só sequestradas, como também violentadas e assassinadas. A diferença é que, desta vez, os adultos também...”

Klose desligou a TV. No entanto, tarde demais, pois Elizabeth já ouvira o suficiente para que começasse a chorar e a implorar ao pai.
— Papai! Por favor, não me deixe sozinha! Estou com medo — soluçou.
— Acalme-se, meu amor. Você está assustada porque é seu primeiro dia de aula, mas logo irá se acostumar. Eu prometo!
— Mas papai... E se aparecer algum estranho e...
— Não vai aparecer, filha. Eu já disse que te deixarei na porta do colégio, não disse? Lá dentro você não tem com o que se preocupar. Além do mais, esses telejornais são muito exagerados! Não se deve confiar neles — mentiu Klose. Sabia que todos os casos terrivelmente chocantes noticiados todos os meses na TV eram verídicos, porém não poderia deixar que sua filha, já assustada, pensasse assim.
— Mas papai...— Chega, Elizabeth! Vamos, pare de chorar, por favor — impacientou-se o pai, apanhando a garotinha pelo pulso e conduzindo-a ao portão. Ela chorava e se debatia, e acabou derrubando a Bíblia Sagrada de seu pai da estante. Klose não largou a menina enquanto recolocava a obra de Deus no lugar onde estava. Cansado de tanto serviço nas últimas semanas, ele queria aproveitar o seu dia de folga – que coincidia com a estreia da filha na escola – para relaxar bebendo em algum bar.
— Que mochila pesada, filha. O que tem aqui dentro?
Elizabeth nem lhe deu ouvidos; só queria chorar o máximo possível, a fim de irritar o pai pra que não a levasse à escola.

O judiado Audi A3 de Klose descansava em frente à sua casa. Ao abrir o portão, o jovem senhor caucasiano fez o sinal da cruz, como de costume, e saiu arrastando a menina de rosto molhado ao carro. O dia estava bonito; o sol batia no capô preto e refletia um brilho vivaz. Grandes pedras angulosas e cinzentas eram o asfalto daquela vila austríaca. Apesar da ansiedade em que se encontrava – para despachar logo a filha –, Klose parou antes de chegar ao carro para admirar aquela paisagem bucólica, sentindo em seu corpo o vento agradável do dia e aproveitando o silêncio. Naquela região, a claridade da primavera privilegiava o sossego; porém, inesperadamente, naquele fim de tarde o tempo inverteria, dando lugar ao frio, à chuva e às trevas.

— Um copo de scotch, por favor — pediu educadamente um sujeito cabeludo, de longas barbas escuras, sentando-se ereto defronte o balcão.
O balconista (único trabalhador e dono) do pequeno bar assentiu, apanhou a garrafa que o outro apontara e lhe serviu.
— Um pouco mais, por gentileza — disse o sujeito, mostrando-se cortês.
— Assim está bom?
— Perfeito. Muito obrigado — agradeceu, esvaziando o copo na garganta numa só talagada.
O homem do bar olhou impressionado. A maneira de beber daquele homem não condizia com sua figura alinhada. Suas barbas enormes não revelavam alguma distinção em sua aparência; porém, os trajes requintados – e totalmente negros – lhe concediam elegância e bons modos.
Abriram a porta do bar. O dono não esperava outro cliente num dia chuvoso como aquele, ainda mais naquele horário. Era onze da manhã, período em que os frequentadores de bar quase sempre são mendigos, alcoólatras, drogados e/ou vagabundos: coisas que não combinavam com o sujeito que acabava de entrar.
— Bom dia — disse ele em tom agastado, sentando-se ao lado do cabeludo bem vestido.
— Bom dia — respondeu o barman.
— Sim, um ótimo dia para nós todos, meu caro — sorriu o outro, simpático.
Klose sorriu de volta aprovando a disposição daquele.
— Um scotch. Duplo.
O homem do bar apanhou uma garrafa pelo pescoço e virou-a de cabeça pra baixo, até encher o copo à linha imaginária da farta dose. Pôs o whiskey sobre o balcão e empurrou ao novo cliente. O sujeito abatido de cabelos ouro-escuro e olhos pesados apoiou os cotovelos no balcão e debruçou-se sem se preocupar com postura.
— Vejo que andas com problemas, amigo. Se quiseres desabafar, estou a dispor — ofereceu o erudito em alemão coloquial.
Naqueles subúrbios do estado da Caríntia era de costume comunicar-se na língua eslovena, porém o alemão – língua oficial do país – sempre tinha mais valor.
— Obrigado, irmão. Achei que não se percebia tanto... — começou a refletir em voz alta Klose — Não me sinto bem, realmente.
— Gostarias de falar sobre?
Klose balançava o copo a tilintar os cubos de gelo nos cantos; imerso em suas questões.
— Bem... Por que não? — disse — O que acontece é que perdi o emprego. Fui demitido e não guardei economias para um caso de emergência, como este. Desempregado e sem dinheiro; não sei o que fazer. A sorte é que paguei as mensalidades da escola da minha filha antes de ser demitido, na semana passada — levantou de leve o queixo para dar uma golada caprichada na bebida.
O dono do bar lavava copos na pia à lateral do balcão. Estava acostumado a conversas de bêbado arrependido e, por isso, não dava atenção àquela. Já o outro, fixava seus olhos penetrantes com interesse naquele lamento.  Não se podia ver se, debaixo dos longos pêlos de sua mandíbula, ele sorria ou se ringia.
— Bem, tenho certeza de que tudo se arranjará, meu caro. É só questão de tempo, deves ter paciência e ser persistente — alvitrou com rouquidão a voz que era tão negra quanto seus trajes.
— Deus te ouça, irmão... Desculpe; seu nome?
— Hans. Hans Mozart, muito prazer.
Klose deu uma mão sem firmeza ao barbudo prestativo. Sorria forçosamente. De Hans, não se podia enxergar seus lábios, mas era perceptível que sorria com os olhos.
— Rapaz, onde fui colocar a minha arma... — refletiu Klose de repente, após instantes silenciosos.
— Arma? Tens uma arma, meu caro?
— Sim — virou-se — Tenho uma pistola. Uma precisa Beretta de 9mm que deixo guardada na gaveta da sala. É que tenho uma filha pequena e, por isso, ando me precavendo por causa desses sequestros a tantos menores que vêm ocorrendo aqui no país e na Alemanha.
— Muitos sequestros, meu caro? Acho que ando meio desatualizado — fingia ignorância o barbudo incomum.
— Como assim não sabe? — Klose olhou para o sujeito com espanto e depois virou seu scotch na garganta — Mais um, por favor — pediu ao balconista.
— Não estou sabendo destes acontecimentos, me desculpe — sorriu o olhar de raposa — Talvez seja porque não costumo assistir à televisão, nem a ler jornal.
— Rapaz, mas só fala-se disso por aqui! Nunca ouviu falar sobre a família Fritzl? Nem sobre a Elmedina, aquela garotinha de seis anos que foi sequestrada e asfixiada? E a Anne-Katrin , a Natalie ? Ou a Cláudia, que queimaram viva?
O impostor só negava com a cabeça, experientemente convincente.


O final do século XX e início do XXI foram marcantes para o país, pois neste tempo a Áustria tornava-se conhecida por sequestros cruéis e de longa duração. As crianças da região viviam apreensivas e com medo de se relacionar com estranhos, pois novas ocorrências desse tipo eram noticiadas com frequência.
Alguns casos particulares ganharam repercussão mundial devido às vítimas terem conseguido se libertar. Um deles foi o de Natascha Kampusch, raptada ainda criança e presa em um quarto minúsculo. A menina só foi conseguir escapar oito anos depois, aos 18, e acabou escrevendo um livro (“3096 Dias”) relatando todos os momentos em que vivera neste pesadelo. Outro caso notável – e muito pior – foi o da família Fritzl. Josef, o “monstro de Amstetten”, aprisionou a filha Elisabeth no porão de sua casa; drogou-a, algemou e a manteve presa por 24 anos, estuprando-a repetidamente e tendo sete filhos-netos com a mesma! Eram histórias terrivelmente chocantes, de psicopatas incomuns e excepcionais. A maioria deles foi descoberta e capturada pela policia austríaca. Porém, infelizmente, um deles nunca havia sido: Hans Mozart, o Doutor Sádico.
Desde sempre, Hans teve uma vida conturbada. Quando estava na barriga da mãe, seu pai fugiu. Depois disso, a mãe se tornou uma prostituta barata e teve uma filha não planejada, quatro anos depois, com algum de seus tantos clientes. Hans morava com as duas em uma casa alugada, porém passava o dia sozinho com a irmãzinha, enquanto sua mãe se prostituía para lhes dar do que comer.
O garoto era bastante esperto. Nada ingênuo, sempre soube da profissão da mãe e da fuga do pai. Rodeado por más influências, ele acabou se tornando um jovem quieto e, sobremaneira, sinistro. Vivia trancafiado em seu quarto, no desgastado computador, admirando o que de mais nojento e perturbador a Deep Web  tinha a oferecer:
Pedofilia, assassinatos, torturas sangrentas, estupros, canibalismo, necrofilia, zoofilia, cropofagia, entre outras incontáveis práticas absolutamente asquerosas e desmedidamente horrendas, que causariam repugnância a qualquer ser humano que possuísse razoáveis faculdades mentais.
Além disso, para mais pasmar o já pasmoso, para ainda piorar o inadmissível, o sadismo de Mozart não se saciava em somente ver toda essa insanidade... Ele queria fazer!
“Qual era o objetivo de Maldoror? (...)
Obter um amigo a toda a prova bastante ingênuo
para obedecer ao menor de seus comandos”
(Conde de Lautréamont)

— Esta aqui é a minha filha — Klose mostrava, meio ébrio, a foto de sua Elizabeth para a figura distinta com quem bebia.
— Muito bonita — limitou-se o último a comentar; seu olhar esgazeado, revelando estranha confiança.
— Daqui a pouco terei de buscá-la na escola. Tem horas?
— Treze horas e treze minutos, meu caro. Nem mais, nem menos — seu sorriso agora aumentava, cobrindo parte da barba num corte obsceno.
— Bem... Acho que ainda não está na hora — Klose derramou a primeira metade da quarta dose na garganta — A buscarei às quatro da tarde.
— Maravilha! Que beleza este relacionamento familiar, adoraria ter a chance de participar — exaltou-se Mozart de repente.
O pai de Elizabeth não entendeu o que o sujeito queria dizer com aquilo, mas não deu importância.
— Nossa relação é fantástica. Amo minha pequena mais do que tudo. Desde que a mãe faleceu, confesso que me tornei super protetor. Faço qualquer coisa por ela; e graças ao Senhor, Elizabeth sempre foi muito disciplinada, atenciosa, e preocupada comigo. Uma filha maravilhosa! — Klose exibia sua boa ventura.
— Admirável, meu caro! Este vínculo é coisa linda de se ver! Sua pequena, portanto, vê-te como um professor da vida — complementou Mozart, de uma maneira curiosamente curiosa, buscando a anuência do homem que já se mostrava um cristão.
— Sim, sim. Elizabeth sempre seguiu os meus exemplos. Quando quero lhe ensinar algo, digo “Hci, bodite pozorni, ucijo od oceta, kako je to storjeno ” e logo depois a vejo fazendo do jeitinho que lhe falei — Klose sorriu satisfeito — É realmente impressionante. Só eu dizer “Hci, bodite pozorni, ucijo od oceta, kako je to storjeno” uma vez, que ela compreende no mesmo instante! — repetiu.
— Formidável, meu caro! Sentir-me-ia felicíssimo se os visse assim, juntos — disse o sujeito letrado, dando um tapinha nas costas do pai orgulhoso.
— Obrigado, irmão — ele desgrudou a bunda do banco — Bem... Agora, acho que vou ao banheiro; estou apertado. Com licença — avisou Klose, se conduzindo.
Eis então que, subitam1ente, o enigmático homem de preto desceu a mão a um de seus bolsos e encontrou uma pílula. Sorrateiro, aproveitou que o balconista estava agora imerso num livro e largou cuidadosamente a pílula sobre o copo de Klose. Esta se desfez no whiskey sem deixar vestígios.
Um minuto depois, o loiro inocente retornou do banheiro se mostrando satisfeito.
— Nada melhor do que se aliviar quando apertado, não é mesmo, meu caro? — disse o falso amigo.
— Nada, irmão. Nada — Klose retribuiu a simpatia, retornando ao banco.
Sentou-se e pegou o copo meio cheio. O homem lhe olhava de canto, ainda sorridente. Klose bebeu.
Por alguns minutos, os dois continuaram a conversar sobre os mais variados assuntos, enquanto o balconista enchia-lhes o copo constantemente. O álcool agia naqueles dois organismos, mas por ambos já estarem acostumados, não havia perigo. O perigo – para Klose – era a ação da droga que tomara desavisado.
— Como eu dizia antes, sobre a minha pistola, ela desapareceu da gaveta onde fica guardada e não me lembro aonde possa tê-la colocado.
— Talvez em outra gaveta?
— Talvez... É possível, pois ando com a cabeça nas nuvens ultimamente. Preciso arrumar logo um novo emprego.
De repente, o caucasiano de olhos claros sentiu algo.
— Rapaz... Que estranho...
— O que houve? — indagou Hans, o fingido.
— Não sei, senti uma sonolência absurda de repente. Pode ter sido a bebida — imaginou — Melhor eu ir buscar minha filha antes que acabe dormindo por aqui — riu.
— Tudo bem, meu caro. Boa sorte com a sua procura de emprego. Prazer enorme te conhecer — o mentiroso abraçou o inocente.
— Digo o mesmo, irmão. Até um dia.
Klose acenou e rumou à saída do bar.
“Não gostaria de um dia dominar teus semelhantes? (...)
Os meios virtuosos e benévolos não servem pra nada”
(Conde de Lautréamont)

Foi muito cedo que Hans Mozart praticou o seu primeiro crime.
Quando tinha treze anos e sua irmã nove ele decidiu cometer um incesto. Fosse adulto, seria, além de mau irmão, pedófilo. Outro crime que não deixaria de experimentar num futuro próximo.
Com sua sagacidade natural, o jovem Hans conseguiu convencer a irmã de não comentar sobre o assunto com ninguém. Um segredo de irmãos. Revelou que era aquilo que a mamãe fazia para sustentá-los, e que, portanto, não era coisa errada. Convenceu também a criança de que, após um tempo de prática, ela não sentiria mais da dor que sofreu na primeira vez. Logo, o poder da persuasão fez o adolescente abusar da pobre garotinha por anos a fio.
“Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas não a compreendê-la”, já dizia Confúcio  quinhentos anos antes de Cristo. De fato, a menina não compreendia exatamente qual a razão daquele ato desprezível, mas não era isso o que importava a Hans, e sim que ela apenas permitisse — tanto melhor para ela, pois se não ele a exploraria à força.
Além de se enredar na internet e de abusar da irmãzinha, Mozart gostava de passar o seu tempo envolvido com a arte — sobretudo a música e a leitura. Admirava as belas melodias da música clássica de seu homônimo Wolfgang A. Mozart, mas também, contrastando de maneira drástica, apreciava o estilo cru e agressivo do Black Metal nórdico, principalmente pelo fato de as letras serem de cunho anticristão e/ou ligadas ao satanismo.
Logo no início de seu envolvimento com a literatura, Hans buscou por autores tão depravados e desumanos como ele. Conde de Lautréamont, o poeta maldito, considerado o mais terrível e deplorável escritor que já existiu, era a sua maior inspiração. O homem, que morreu aos 24 anos de causa desconhecida, era considerado por muitos como “uma ruína humana completa”, e por outros como “uma revelação total que parece exceder as possibilidades humanas”. Seja como for, o fato é que, em seus escritos, com ideias repletas de maldade e insânia, Lautréamont fazia um testemunho de si mesmo, de como ele próprio enxergava o mundo.
Foi este homem quem serviu a Mozart como base para o surgimento de suas ideias perversas. Todavia, outra lunática personalidade também inspirava suas vontades: Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade. O aristocrata francês foi o responsável pela origem da palavra “sádico”. O termo, que é derivado de seu nome – sadismo –, significa “a perversão sexual de ter prazer na dor do outro”. Seu livro chamado “Os 120 Dias de Sodoma” é considerado a obra mais repulsiva de toda a história da literatura e dificilmente perderá este posto algum dia.
Graças à sua espantosa inteligência, aos dezessete anos de idade Hans Mozart ingressou na Universität Salzburg, a faculdade de ciências naturais de Salzburgo, metrópole do país. Através de seu curso – Biologia –, o jovem adquiriu conhecimentos minuciosos sobre cada parte do corpo humano e de outros animais. Contudo, fixou-se em aprender, sobremaneira, sobre os maiores pontos de dor do primeiro, onde, posteriormente, ele se tornaria um dos maiores experimentadores do globo.
Com isso, portanto, a faculdade acabou por satisfazer grande parte dos desejos insanos de Mozart, ocultos à sociedade.
Ocultos até então...
“Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação... já que somos ambos inimigos mortais. Quer deva eu conseguir uma vitória desastrosa ou sucumbir, o combate será belo;  eu, sozinho contra a humanidade”
(Conde de Lautréamont)

Caminhando de jovem a adulto, Hans resolveu que se aproveitaria de sua lábia para convencer os ignorantes a cometer loucuras a seu favor, e também a permitirem-no de executar, com eles próprios, as piores insanidades já imaginadas pelo ser humano. Sempre atento e precavido, o jovem sentava-se num pedestal imaginário e controlava a todos quem queria, persuadindo e convencendo-os da sua verdade como um poderoso hipnotizador.
Por volta dos dezenove anos de idade, Mozart decidiu sair da casa em que morava, pouco se importando com a família, a qual um mero resquício de carinho inexistia.
No final de uma rua esquecida e sem saída, onde nada mais havia senão uma casinha velha e arruinada, ainda morava um idoso solitário. Hans descobriu este ponto, que era no local mais escondido do bairro mais desabitado da cidade, e ali resolveu se instalar. Decidiu, portanto, que seria ali onde cometeria suas tão sonhadas atrocidades.
O terror que Mozart imporia sob aquele teto começaria logo com o próprio morador, não fosse um imprevisto. Uma noite, Hans invadiu a casinha e deu de encontro com o velho na sala. Servido de um pau, o jovem barbudo atacou o homem desprevenido acertando-lhe em cheio a cabeça. O corpo inerte desabou, manchando o tapete de rubro. Mozart pegou naquelas finas canelas a fim de amarrá-las na mesa da sala; entretanto, constatou que a vítima infelizmente já não tinha mais vida.
— Má sorte!
Por ter exagerado na paulada, não seria daquela vez que o psicopata Hans Mozart iniciaria com as impiedosas torturas que vinha planejando. De qualquer modo, o inferno já possuía um endereço.

— Deixe que cuido dele, bom homem, não há de se preocupar — disse ao dono do bar o barbudo, ao presenciarem o sujeito loiro cair inconsciente perto da porta.
Klose apagara de repente, desabando enquanto se encaminhava à saída do bar para buscar a filha na escola.
O indivíduo requintado ajeitou as mangas da camisa e levantou-se donde se assentava. Buscou o homem estirado com os olhos jornadeando por algum vácuo da mente, e jogou o corpo sobre seus ombros. Carregando o loiro magro sem dificuldades, prometeu ao barman que cuidaria dele, convencendo de que o levaria a salvo para casa.

O louco deu início ao terror. Começou a arrastar vítimas frágeis e indefesas para seu aposento. Homens fracos, velhas, velhos, mocinhas, crianças. Com todos eles, sem clemência, fazia coisas que até Deus duvida. O sofrimento que Hans impunha às vítimas, por meio de incontáveis torturas, era de uma intensidade inimaginável. E mesmo quando já as havia trucidado, o louco usava seus corpos mortos para continuar praticando suas insânias.
O Homo Sapiens é realmente uma espécie interessante. Indiscutivelmente o ser mais complexo, impressionante e pensador do planeta, e, contudo, ao mesmo tempo, o animal mais inconstante e primitivo. Ou alguém acha que um rato se disporia a fazer sexo com outro que já se encontrasse morto?
Todavia, a necrofilia é apenas um dentre tantos desejos bizarros que possuem algumas mentes humanas, excêntricas além do limite; e Mozart os punha todos em prática dentro de seu recanto da maldade.
“A primeira lei que a natureza me impõe  é gozar à custa seja de quem for”
(Marquês de Sade)

Prosseguindo com a faculdade – a fim de aprender novos métodos sobre como cortar um corpo vivo protegendo-o da morte sem evitar a efusão de sangue (e sofrimento) –, Mozart procurava por alguém para ajudá-lo com seus raptos.
Ao ver o velho professor Franz fazendo um ato antiético – a vivissecção  – no laboratório, com um sorriso invulgar no rosto, Hans descobriu o cúmplice perfeito para suas atrocidades. O ato causou alarde e espanto entre todos os alunos que presenciaram a cena, exceto em Mozart, que depois disso começou a prestar atenção naquele curioso senhor.
Cada vez mais, através de seus gestos e modos, Franz indicava a Hans que suas vontades eram tão insanas quanto às dele, ou quase. O olhar do velho revelava um prazer singular ao mexer com animais vivos, satisfeito quando os ouvia gemer de dor. Os alunos olhavam o professor com aversão; já Mozart, entretanto, decidiu se tornar seu íntimo.

Qual era o objetivo de Maldoror?

Desde o início, o velho Franz mostrou a Hans que, além do gosto pelo mórbido, possuía uma mente manipulável. Tais características eram perfeitamente adequadas aos planos do jovem monstro, que, portanto, não encontrou dificuldades para fazer de Franz o seu súdito.
Usando-se de seu poder de persuasão, Mozart convenceu o professor certa noite de ir até a sua casa para conhecer seus segredos, os quais – ele garantiu – Franz não se arrependeria.
De fato, ao conhecer o recinto e as barbaridades ali pintadas, o velho se encantou. Nunca em sua vida havia visto tanta monstruosidade por metro quadrado, e aquilo lhe fascinava. Nessa noite, ele e seu jovem mestre da insânia decidiram fazer coisas nada ortodoxas. Primeiramente, usaram drogas das mais lesivas e se encharcaram de álcool, e depois, de urina. Sim, no clímax da loucura o mestre ordenou que Franz lhe desse a cara para se aliviar sobre ela. Após, fez ainda pior...
O velho demente não objetou sobre as barbaridades as quais fora submetido, pois no canto da sala escura havia uma mulher largada ao chão que lhe chamou a atenção. A figura tinha uma perna decepada e suas orelhas arrancadas. Ao redor, sangue em abundância tingia os velhos pisos de marrom escuro, sob onde medonhos ratos se movimentavam. Visivelmente desnutrida, a mulher de pele e ossos clamava por socorro amarrada pelos pulsos e tornozelos a paredes perpendiculares. Logo, visto que era para o seu próprio deleite, o jovem barbudo decidiu autorizar que seu novo súdito – e também cúmplice – pudesse usá-la da maneira que bem quisesse. E ele usou...
“Todos os princípios morais universais são puras fantasias”
(Marquês de Sade)

Depois de Franz deliciar-se com seus exageros, a pobre mulher não dava mais sinal de vida. Acabada, destruída. Como de costume, Hans levou o corpo para o fundo da casa e lhe ateou fogo. Disse ao súdito que, a partir de então, não mais se chamaria Hans Mozart. Denominou-se “Doutor Sádico” e fez com que, por assim, suas vítimas e Franz lhe tratassem.
Noite pós noite, o professor frequentava o recinto do Doutor para cometerem suas insanidades. Às vezes, as vítimas eram capturadas por Franz, outras vezes, pelo mestre. Algumas delas, eles matavam na primeira noite, e outras, torturavam por semanas. Um dos instrumentos preferidos do Doutor era a tesoura; contudo, nunca a usava pra cortar seus cabelos e barba, mas somente para submeter ao tormento aqueles infelizes, por horas a fio, até a morte.
— O grande Isidore  disse em seus escritos que queria ser um animal selvagem, um tigre, para que pudesse matar e não ser considerado mau! Já eu, pelo contrário: ser mau é coisa que me agrada sem igual! Há Há Há! — disse uma noite o Doutor Sádico.
O sujeito letrado possuía dezenas de livros que certa vez furtara de uma biblioteca. Sempre apreciou contos sórdidos, imorais e insanos, contudo, sobremaneira, as historias dos serial killers, os quais admirava por suas inteligências e criatividade bizarra. Sádico gargalhava a cada vez que lia, em voz alta, o depoimento do alemão Armin Meiwes  — mais conhecido como Açougueiro:
“O ato de comer os restos mortais deu sentido à morte, já que o corpo não foi jogado fora. Eu salguei o filé de Bernd com sal, pimenta, alho e noz-moscada. Comi ele com croquetes, couve e molho de pimentão verde”, ele revelara.
— “Espero que me ache saboroso”. Há Há Há! — gargalhou o Doutor noutra noite.
— Como? — Franz não compreendeu.
— Foi o que disse o tal de Bernd  antes de oferecer-se para ser devorado! Há Há Há! Demasiado hilário, meu caro, não achaste? Hilariante! — chorava de rir o louco Doutor. Já o velho Franz, não entendia qual a graça, porém ria junto, abobalhado.
Desse modo, muitas noites se passaram, mestre e vassalo colocando suas fantasias em prática sobre as vítimas indefesas. Nos noticiários de Salzburgo, as dezenas de pessoas desaparecidas durante esse período ganhavam destaque. Todavia, os dois psicopatas eram extremamente cuidadosos e precavidos com seus raptos, e nunca foram pegos.
Após ter largado a faculdade, Doutor Sádico passava o dia inteiro se divertindo em seu recanto do sofrimento; ao passo que, naquela, aluno algum sequer desconfiava do que o professor Franz fazia à noite, apesar de seu comportamento bizarro nas aulas vespertinas.

Um soco ecoou na boca de seu estômago. Ele dobrou-se de joelhos ao chão de barro e levantou o pescoço. Sob o céu negro e estrelado, uma barba tão escura quanto ele cobria um rosto conhecido.
“Onde estou? O que houve? Por que estou...”
— Foste drogado, meu caro — revelou o sujeito em pé, acima dele, como se lesse seus pensamentos.
Klose olhou em torno e enxergou pouco. Não havia luz, tudo era escuro. Contudo, à sua direita, percebia-se uma pequena casa de madeira. Ele gritou.
— Não adianta, bom homem. Aqui não tem nada, nem ninguém. Olha tu mesmo! Estás em um lugar apenas nosso — piscou o Sádico.
De imediato, o aterrorizado Klose tentou se levantar, mas foi parado em meio caminho... Por outro soco.
Caiu de novo. Antes que pudesse recuperar o ar, o agressor se abaixou e lhe aplicou um segundo golpe na costela, ainda mais forte. A dor foi lancinante. Klose sentia que o osso inferior da caixa torácica talvez houvesse se quebrado. “Uma mão não seria capaz de fazer isso”, pensou. Contudo, ao vislumbrar a mão do monstro, percebeu que um soco inglês  envolvia seus dedos.
Klose tossia sangue no solo barroso.
 — Mas, por quê?! O que você quer? Quando... — tartamudeava desesperado — Já é noite! Que horas são?! Precisava buscar a minha filha na...
— Fica descansado, meu caro, pois neste momento meu servo já busca a tua menina — piscou — Logo mais, tu e ela se verão.
— Co... Como?! Mas... — Klose começou a apalpar os bolsos da calça e não encontrou nada.
— Onde está a minha carteira?! Devolva agora, seu...
O sujeito acima dele largou a bolsinha de couro sobre sua cabeça, ainda rindo.
— Está tu achando que necessito desta porcaria, do teu dinheiro? Ah, como és fraco, meu caro! Só queria, obviamente, aquela foto de tua pequenina que havias me mostrado! — exclamou explicando — Estou ansioso para Franz trazê-la cá; iremos nos divertir tanto juntos! Há Há Há...
Enquanto o Doutor ria ruidosamente, Klose aproveitou de sua distração e se levantou. Com uma mão na costela latejante, começou a correr para a esquerda, mas logo entreviu uma mão de prata chegando à sua têmpora.


Dor. Garganta seca. Coração palpitante.
Klose acordou em um latíbulo. Havia desmaiado outra vez.
O silêncio propagava o medo pelo ar. O digno ouvia um som baixo e abafado (uma voz), como numa concha do mar. Tontura, confusão. Dor na costela ao respirar. Uma pontada na têmpora direita aumentava a desordem de seus pensamentos. A escuridão agravava o seu terror, lhe oprimindo e sufocando.
...e hoje você será minha boneca!
Klose conseguiu reconhecer o dono daquela voz.
— Onde está?! Cadê você? — gritou o louro, assombrado, sem enxergar um palmo à frente.
Ele se recordava de que, antes de desmaiar, estava em um local inóspito e escuro; contudo, não tão escuro quanto o de agora: se o primeiro ambiente lhe parecia assustador, este então era pavoroso!
Klose notou que – pelo calor e pelo eco ali presentes – provavelmente se encontrava em algum recinto coberto, não muito largo e com pisos quebrados de cimento, sobre os quais seus joelhos beijavam alguns pedaços.
Um fedor obsceno.
Foi de repente, quando parou de respirar assustado pela boca, que Klose sentiu àquele maldito cheiro invadindo suas vias nasais. Imediatamente, dobrou-se a vomitar. Pôs as palmas no chão molhado e adicionou um novo conteúdo gosmento à coleção que lá já havia. Como pano de fundo daquela cena imunda, ele ouvia a risada insana do sujeito cabeludo.
— Onde você está?! Apareça!
Klose pôs-se de pé de um salto e vagueou as pernas sobre o ambiente sem lustre. Sob os pés, sentia coisas moles e líquidas, e algumas vivas: mexiam-se. Passo a passo, os braços estendidos à frente como um zumbi, Klose deu de cara com uma parede. Rumou noutra direção, pois precisava sair dali. Deu com outra parede; e varreu seu braço por ela. Não encontrou maçaneta nem algo parecido.
Desesperou-se.
— O que você quer?! Que bichos são estes tentando escalar a minha perna? Ah! Droga! Fale algo, infeliz, pare de rir! — Klose sacudiu o joelho — Pois saiba você que, o que quer que esteja tramando, não terá sucesso, me ouviu? Eu confio no meu Senhor! — o loiro empinou a cabeça naquele breu e uniu suas mãos cheias de fé em direção aos céus — O Senhor está comigo e nada eu hei de temer!
— Ora! Um cristão!
Juntamente à voz satisfeita do vilão, uma luz se acendeu no recinto.


Para descrever o interior daquela casa, palavras não passam de vento. Se os termos “terrível”, “desprezível”, “asqueroso” e “cruel” fossem multiplicados entre si, não representariam mínima fração de uma definição justa para tamanha desumanidade. Corpos mutilados, instrumentos de tortura e toneladas de podridão compunham um indesejado panorama aos olhos do sensível cristão.
Ele escondeu a vista. Não queria enxergar o que o lampião na mão de Mozart lhe mostrava. Suas pálpebras começaram a pesar sob lágrimas ardentes. Tentou fingir que nada daquilo estava acontecendo.
— Me tire daqui... Deixe-me em paz... Pelo amor de Deus... — balbuciava o desesperado, controlando-se para não perder o juízo.
— Por que não rogas a ele, o teu Deus, agora, meu caro? — disse a voz cortante do homem inescrupuloso a alguns metros de Klose.
Este se largou ao chão no mesmo instante e pôs-se a rezar. O Doutor, então, se moveu a passadas ameaçadoras e levantou, com a mão esquerda, o crente pelo queixo.
— Levanta-te daí, estúpido! Quero te mostrar uma coisa — sorriram aqueles olhos esgazeados.
O barbudo arrastou o digno a um dos cantos do cubículo, e, segurando com a mão direita o lampião, ergueu o instrumento direcionando seu feixe de luzes a dois objetos encostados.
— Veja bem, meu caro. Isto é o que acontecerá contigo — o monstro mirava à luz um crânio amassado e quebrado em vários lugares, preso na parede a pregadas.
Aquilo revelava que naquela cavidade óssea houvera um espancamento nada moderado, e que, se antes disso a vítima ainda vivia, então havia sofrido de um castigo deveras impiedoso. Mas Klose quis acreditar que não.
O Doutor moveu um pouco o lampião a fim de focalizar outro crânio, contíguo àquele. Era menor e estava ainda mais arrasado. O maxilar pendia numa pose disforme e pedaços faltavam nas laterais e no superior da caixa craniana, como se arrebentada a marteladas.
— E isto — apontou ao menor crânio o indicador da mão que segurava o lampião — É o que acontecerá com a tua garotinha.
Klose, que ainda se encontrava estático, a cabeça entre os dedos do barbudo, tomou um choque ao ouvir aquilo e, num tranco do pescoço, conseguiu se soltar e correr tropeçante à parte oposta da casa/cômodo, onde supunha estar a saída. Porém, enquanto ele sondava novamente as paredes em meio àquele terrífico breu – pisando sobre coisas quais nem queria imaginar –, o Doutor Sádico gargalhava com seu lampião na mão, no único ponto luminoso do recinto.
O homem moveu-se, correndo o facho do objeto pelo chão até iluminar uma quina do cômodo. Klose pausou seus prantos e virou-se a mirá-lo. Ajoelhando-se, o Doutor espantou os ratos gordos que estavam ali se alimentando da carne qual ele buscava. Pousou o lampião e tirou pela frente da calça uma faca de açougueiro que habitava sua virilha. A ferramenta saiu de lá já cheia de sangue — percebeu Klose —, provavelmente por ter cortado o próprio corpo do insano dono, que parecia não se importar — e, talvez, até gostar.
Com um sorriso eterno sob a barba destratada, Doutor Sádico pôs a arma branca frente ao rosto e lambeu a lâmina afiada sem queixar-se de dor. Sua língua começou a gotejar sangue e seu sorriso abriu-se ainda mais. Klose congelou.
Enquanto a barba se tingia de vermelho sob sua boca aberta, o Doutor pegou o pedaço de carne que repousava adiante e desceu-lhe um golpe exato. O bom cristão, mentalmente boquiaberto, percebia que aquele tronco de carne e osso era uma perna humana.
Com mais duas justas facadas sobre o mesmo ponto, Sádico conseguiu arrancar o pedaço apetecido – do calcanhar ao mediano da canela – e apanhou-o como um troféu.
— Não gosto de dedos; têm poucos pêlos e as unhas me enojam — falou ao vento o demônio cabeludo — Prefiro uma canela bastante vilosa e com gordura em abundância. Este mancebo era do jeito que gosto: gordo, resistente, e um tanto desesperado e lamentador quanto tu — dirigiu-se à Klose com aquele olhar estonteante — Acredita: torturá-lo foi agradabilíssimo!
Sádico ergueu o pedaço de perna cheio de mordidas de ratos e pôs-se a observá-lo com admiração. Escolheu uma parte e abocanhou, cerrando os olhos cheios de prazer. Por conseguinte, Klose também fechou os seus: seu senso não conseguia processar tamanha barbárie. Enquanto o digno mantinha-se horrorizado, o canibal devorou ferozmente aquela peça de pele e carne crua, como um animal, cuspindo somente os ossos maiores.
Desviando o olhar daquela cena repelente, Klose topou com nova hediondez.  Na parede do recinto, ao lado do homem se alimentando doutro, havia um gigantesco símbolo que era perceptível ao resquício de luz alcançado pelo lampião.
Era um pentágono inverso em tom rubro, claramente desenhado com sangue. No centro do símbolo, havia a cabeça de um bode, os olhos cravados na parede detrás por um prego longo. Klose conhecia o significado daquela marca. A marca do satanismo, a marca do demônio. Ao lado dela, havia dezenas de traçados também feitos com sangue: o famoso “666”, o “Baphomet ” ou “Bode de Mendes”, cruzes viradas para baixo, mãos chifradas, entre outros símbolos satânicos.
O Doutor, todo manchado de sangue, deu-se então por satisfeito e largou a sua refeição sórdida aos roedores inquilinos. Percebendo que Klose contemplava suas pinturas, resolveu comentar com ele sobre o tema.
— O que achas disso, cristão? Gostas?
O medo travara o maxilar de Klose a ponto de dificultar a fala. Fechando os olhos para o inferno à sua volta, respirou fundo e tentou manter o autocontrole da maneira possível.
— Medonho! Horrendo! Monstruoso! Nem tenho palavras para isso! É tudo tão... — Klose não aguentou e pôs-se a chorar e a rezar — Ó Deus! Ó meu Pai! Por favor, não permita que este demônio faça alguma coisa com Elizabeth! Não...
— Ora, meine Hündin ! — cortou-lhe o Doutor, abandonando a interesseira gentileza com que falava com aquele — Já não disse que tu e tua pequenina ides a terminar como aqueles crânios que te mostrei? Pois sim, contudo, deves saber que, antes disso, vós ireis a sofrer muitíssimo! Inimaginavelmente! — ele ameaçou entre gargalhadas, aproximando-lhe a faca assassina qual havia usado há pouco.
— Meu Pai não permitirá! — contestou o medo entre soluços — O Senhor é muito mais poderoso do que o...
— Demônio? Satanás?  Lúcifer, o anjo caído? Há Há Há! Ora, tolo, como podes acreditar nesses contos de fadas? Estúpido!
Klose ficou confuso; o medo que lhe paralisava abriu espaço para a dúvida.
— Mas... Como assim? Seu corpo foi possuído pelo demônio! Por isso...
— Cala-te! — bradou o louco, aproximando a faca do pescoço oponente — Logicamente não acredito em toda essa baboseira; nada disso faz algum sentido! Pensas que sou insano?! Sim, sou um monstro sádico, terrível e cruel! Mas não um pateta como vós — surpreendentemente, o Doutor revelava então que reconhecia a sua loucura e a bizarrice de seus atos e vontades — Religião, a campeã mundial do besteirol, de todos os tempos!

“Quando uma pessoa sofre de um delírio, isso se chama insanidade.
Quando muitas pessoas sofrem de um delírio, isso se chama religião”
(Robert M. Pirsig)


Klose o olhava sem entender nada. Aquele homem era ou não era um satânico?
— Não, não sou satânico — disse este como se lesse os pensamentos do outro — Mas muito menos cristão! Nada dessas baboseiras de céu e inferno existem! Isto é pura tolice! — falou o Doutor julgando-se dono da razão.
Apertou a ponta da faca no pescoço de Klose e depois se afastou, deixando atrás de si um pequeno furo que resultava em gemidos controlados da vítima e um filete fino de sangue que escorria para o peito. Após conscientizar-se de que sua garganta não fora rasgada, o digno suspirou e tentou entender o que havia.
— Mas como você não é satânico? E todas essas coisas na parede? — apontou o dedo trêmulo ao ponto mais claro da sala escura.
Eis então que, estranhamente, um instruído debate se iniciou sob aquele negrume de terror.
— Isto tudo, tais pinturas de sangue, a cabeça de bode pregada, e todos estes símbolos que tu vês aí têm única e exclusivamente a função de apavorar, ainda mais, os desgraçados que trago aqui; para criar um clima tão terrífico a eles quanto prazeroso a mim — gargalhou — Ah, como me divirto com as expressões de horror dos ignorantes que acreditam que aqui é um recanto de Satã!
Apesar de parecer satânico, Doutor Sádico de fato não era. Embora admirasse os sacrifícios oferecidos ao diabo, ele era muito mais perverso do que um simples assassino fanático religioso; era um amante do desespero, da humilhação e da dor alheia — o demônio em carne e osso.
— Apenas me digo adepto do satanismo por ele representar o mal, a desgraça e o sofrimento dos tolos! — o Doutor continuava, mostrando irritação — Pois, para todos eles, o cristianismo pode ser bom e o satanismo mau, mas na verdade os dois são obviamente neutros! Muitos patetas não gostam nem querem aceitar esse conceito, mas é a realidade! E sabes por quê?!
Klose, o cristão, manteve-se calado. Não desconfiava que um sujeito de hábitos primordiais, bárbaro e insano como aquele pudesse possuir alguma cultura e potencial para discorrer tão bem.
— Ao longo da história, o número de crimes, abusos infantis e todo o sadismo disfarçado cometidos por fanáticos em nome de Deus, Jesus e Maomé é incomparavelmente maior do que os cometidos em nome do demônio! Sabes disso, não é?
Evitando mirar o perverso, Klose decidiu estapear o seu silêncio e defender com frenesi as suas crenças.
 — Mas isso é porque existem poucas pessoas no mundo que cultuam o terrível Lúcifer, e devemos também entender que em todos os povos, grupos e nações sempre existem aqueles (homens) depravados, lunáticos e sem coração, como você!
Sob a barba, a boca do Doutor abriu-se a gargalhar verdadeiramente; mas Klose continuou.
 — Além disso, muitos dos que se dizem religiosos podem usar este argumento de que “fizeram em nome de Deus” na tentativa de causar a compreensão de algum julgador para aliviar o seu crime. Também têm aqueles que dizem agir em nome de Deus, mas que, na verdade, estão sob o controle de Lúcifer.
"A beleza da mania religiosa é que ela tem o poder de explicar tudo. Uma vez que Deus ou Satã são aceitos como a primeira causa de tudo que acontece no mundo mortal, nada é deixado à sorte...
a lógica pode ser alegremente jogada pela janela"
(Stephen King)

— Néscio! Sabes que isso não faz sentido; todavia, a enganadora persuasão teima em te querer convencer de que não creste em tolices durante toda a vida. Vós, religiosos aficionados, procurais respostas como agulha em palheiro, e não admitis estar errados. Eu me lixo para tudo isso! A mim, não importam limites ou até a que ponto chego. Quanto mais longe, mais delícias! — provocou o diabo em forma de gente.
— Você não tem coração...
Rindo, o Doutor passeou pelo ambiente até topar com o pé num livro que procurava. Sujo e lambuzado sabe-se-lá-do-quê, o nojento e velho calhamaço tratava-se de uma compilação de citações e textos de personalidades notórias e grandes nomes da literatura mundial.
— Você não é um ser humano, é um animal! — Klose começava a se exaltar, encostado na parede enquanto procurava por rachaduras com as palmas.
Com o livro em mãos, Sádico respondeu.
— "Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo que apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua" (Erasmo de Roterdã)
— Sim! Pela primeira vez concordo com você! Nem um animal feroz seria capaz destas insanidades. Louco!
Klose não encontrava sequer uma fenda na parede pela qual pudesse se libertar daquele inferno de trevas. Ele ficava cada vez mais desesperado e, no momento, fugir a tempo de encontrar sua filha era só o que lhe importava na vida.
Doutor Sádico virava as folhas.
— “A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente" (Clarice Lispector)
— Sensatez?!    Essa declaração só acaba por sublinhar a sua demência! Deus! Como você pode achar que é uma pessoa sensata? Não passa de um louco, um psicopata sem caráter que não se encaixa na sociedade! — o loiro de boa alma deduziu que, naquela guerra entre quatro paredes, ferir o ego do monstro seria um poderoso recurso em seu favor; acabar com aquela convicção confiante que o levava a fazer o que fazia.
Klose insistiria nessa arma.
— Se as pessoas fossem todas como você, nosso mundo estaria perdido!
— “O mundo é cego, e tu vens exatamente dele” (Dante Alighieri) — o Doutor citou em resposta, divertido com a brincadeira das frases.
O facho de luz do comprido lampião que descansava sob o maldito iluminava-o com mais nitidez da cintura para cima; aquilo lhe dava um aspecto ainda mais aterrador, com o seu sorriso amarelado sob a barba sangrenta e um livro sujo sob dedos sujos.
— Quem está cego é você, irmão! Liberte-se do demônio, ele está te controlando! — Klose berrava com todas as suas forças, buscando produzir, naquele cubículo, o eco divino qual costumava testemunhar em sua igreja — Saia deste corpo, Satanás! Volte já ao inferno; suas maldades aqui não têm nenhum valor!
— “Deus fez o alimento, o diabo acrescentou o tempero” (James Joyce) — rebateu o Doutor poucos segundos depois.
— Não te entendo, monstro! Você, primeiro, diz que não acredita no diabo, e agora o defende! ... Pois me diga: se realmente não está possuído, e se não acredita no demônio, para quê fazer o mau ao próximo? Para quê tanta crueldade?!
— “Sem crueldade não há espetáculo. A crueldade é um dos prazeres mais antigos da humanidade” (Friedrich Nietzsche)
Enquanto questionava aquele insólito, Klose não permanecia parado. Sobre a luz do lampião, o Doutor barbudo era-lhe sempre visível, porém ele, entre o negrume, não passava de sombra à vista do outro.
Todavia, o fato de não poder enxergar o adversário não preocupava o Doutor. Confiante de que tudo estaria, de qualquer modo, sob seu controle, Sádico olhava o seu livro admirando tranquilo as belas frases de seus escritores preferidos, enquanto tinha a certeza de que a vítima não escaparia dali.
Por sua vez, o loiro digno tentava distrair o psicopata com suas falácias, a fim de mantê-lo com aquele sorriso doentio entre as páginas, enquanto ele procurava por algum furo naquela bolha de maus vícios.
— Prazeres?! Só se for aos loucos, aos depravados! Diz isso porque subjuga sempre as suas vítimas, queria ver é se topasse com um rival tão louco e mais forte do que você.
— “Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la” (Dante Alighieri)
— O que você diz não faz sentido...
Ainda se movimentando e tateando as paredes com as mãos, o digno cristão, de repente, conseguiu perceber algo...
Um vazio.
Seu coração saltou. A palma de sua mão esquerda havia sentido um pequeno espaço livre na parede... Uma fenda!
Com calma, Klose conteve a respiração impetuosa, e voltou a sua mão a fim de retorná-la àquele ponto. Ao perceber que a liberdade estava ali, à sua frente, a atmosfera lhe tornou-se, ainda mais, intoleravelmente confinada. O negror da treva eterna o empurrava ao desespero, à ansiedade máxima.
Contudo, Klose conseguiu controlar-se. Exercitou a sua razão até concluir que deveria continuar debatendo com o malfeitor, com a finalidade de entretê-lo, e, consequentemente, torná-lo desatento à sua tentativa de escapar.
— “Que seria esta vida, se é que de vida merece o nome, sem os prazeres da volúpia? — clamava o Doutor à escuridão, ignorante sobre o projeto da vítima — Podeis, pois, estar certos de que também os estóicos não desprezam a volúpia, embora astutamente se finjam alheios a ela e a ultrajem com mil injúrias diante do povo. (...) Mas, admitindo que esses hipócritas declamem de boa fé, dizei-me, por Júpiter, sim, dizei-me se há, acaso, um só dia na vida que não seja triste, desagradável, fastidioso, enfadonho, aborrecido, quando não é animado pela volúpia, isto é, pelo condimento da loucura” (Erasmo de Roterdã – Elogio da Loucura)

No momento em que o devasso findava sua leitura, os dedos de Klose se reencontravam com a fenda divina. Dentro daquele buraco, qual nem fio de luz conseguia transpassar, o cristão enxergava a sua sorte enviada por Deus. Enfiou os dedos principais na rachadura e logo sentiu que, a partir dali, a parede velha podia desfazer-se facilmente.
Cauteloso, Klose tentou, ao prosseguir com o debate, disfarçar qualquer barulho tímido de quebramento.  Discutiria no mesmo tom de antes, é claro, para não revelar também qualquer exaltação fora do comum.
— Fale por você, insensato — ele tentava não balbuciar — Acredite: não são todas as pessoas que procuram estes tipos de prazer. Para dizer a verdade, o número delas é ínfimo! Insanos como você, são um em um milhão! Este escritor nada mais era do que um destes. Os que têm Deus no coração não necessitam de luxúrias para viver. Somos satisfeitos simplesmente por poder existir e louvar ao nosso Senhor. ... Mas, no final das contas, eu sinto pena de você, sabia? Por não ter tido a oportunidade de cultuar numa igreja. Tão mais feliz você seria se conhecesse as palavras e o poder do Nosso Senhor! Entretanto, saiba que, desde que comece a orar, nunca é tarde para ser perdoado — Klose tentou persuadi-lo.
Enquanto os dedos mais sujos viravam novamente as páginas do calhamaço, os outros tentavam “abrir” um pedaço da parede da maneira mais silenciosa possível, quebrando-a a partir de um fragmento.
(...)

PATRICIO, Carlos. Delirium. 1 Ed. São José dos Pinhais, PR: Página 42 Editora, 2014. 228 p.; 23 cm
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A Casa Abandonada | por Gabriel Landa

Um amigo bem próximo me enviou seu conto que fez, achei interessante e pedir para publicar exclusivamente aqui no blog eita nois, o conto se chama A casa Abandonada, o autor é o Gabriel Landa (Facebook) e é cheio de suspense, olha só!


A casa Abandonada

Luciana dormia tranquilamente em sua cama. Estava superando relativamente bem à separação do marido há dois meses. Seus sonhos estavam tranquilos, até que ela acordou com um barulho na casa. A mulher levantou-se rapidamente. Era uma noite quente de setembro, na minúscula cidade de Mundo Novo, Mato Grosso do Sul. A cidade faz uma tríplice fronteira com o Paraná e com o Paraguai. Ou seja, uma rota de drogas e outros artigos ilegais, outro barulho.

Ela se desesperou, saiu da cama e correu pela casa, seu medo é que tivesse alguém na casa e essa pessoa fizesse mal ao seu filho, Marcelo, um bebê de cinco meses.

-Amor- foi o que ela exclamou ao ver o bebê dormindo no berço. Ela correu até ele e o pegou no colo, tranquila por ele estar bem e por imaginar que não havia ninguém na casa. A mãe colocou o filho de volta no berço e se afastou devagar, não deu dois passos e ouviu um som próximo, algo pesado havia caído bruscamente ali perto. Ela correu e olhou pela janela, não havia nada lá fora, a casa continuava trancada, a única abertura era um buraco para se por o ar condicionado, com uma grade de proteção seria impossível alguém entrar por ele. Ela notou que era hora de parar de esperar o pior, foi até a porta que dava para o corredor, ligaria para a polícia, chegou à porta e novamente decidiu voltar ao berço e levar Marcelo junto com ela, por precaução, mas quando chegou ao berço, seu filho não estava mais lá.

Luciana começou a tremer, seu filho sumiu, não havia ninguém no quarto, ninguém no corredor, ninguém correndo no quintal, impossível alguém entrar e sair daquele quarto sem ser visto, ainda mais em tão pouco tempo, mas isso aconteceu. Ela sabia que deveria fazer alguma coisa, ligar pra polícia? Nem perderia tempo ligando, estava tendo comício na cidade, toda aquela gente mais a bajulação aos candidatos, e todo o papo do sumiço ser a mais de 24 horas para ser considerado desaparecido, a polícia não mandaria ninguém esta noite. Porém, Marcos, o pai de Marcelo, era um policial da fronteira, não fazia rondas na cidade, apenas fiscalizava a fronteira Brasil – Paraguai, e essa noite ele estava de folga.

Ela ligou o mais rápido que pode, Marcos atendeu puto da vida, sabia que ela ia ligar pra falar merda – LEVARAM O MARCELO – Ela gritou.

Marcos, do outro lado da linha ficou chocado – O QUE? SEQUESTRARAM O MEU FILHO? QUEM FOI O DESGRAÇADO? – Ele respondeu aos berros.

Ela chorava, soluçava e tentava falar- Não s..sei ele esta...va aqui no berço e...eu me vire e...e ele sumiu, não tinha nada aberto na...ca...casa.

-Sua vagabunda eu saí dessa casa imunda e você deixa isso acontecer?

Ela não teve tempo de responder e ele desligou. Ele não havia culpado ela pelo término, afinal ele quem foi pego transando com outra. Mas ela deixar Marcelo ser sequestrado? Para ele era isso, ela quem deixou. Em outras situações ele raciocinaria, ligaria para um colega. Desta vez não, ele se lembrou de uma casa abandonada que avistava da estrada toda vez que ia para o trabalho, e conhecia os boatos de que encontraram cadáveres de bebês e de crianças no local. Mundo Novo era uma cidade segura, dificilmente alguém sequestraria um bebê, talvez um bêbado tentasse, mas seria visto e não entraria como um ninja em um quarto. Marcos conhecia o quarto do filho, sabia que a única abertura era para um possível ar condicionado, ficava no alto, era pequena e com grades, um bêbado não entraria. Minutos depois o policial entrou no seu Opala 76 verde e pegou o rumo da estrada. Em pouco tempo estava na BR-163, em direção à fronteira.

O telefone tocava, Luciana ainda tentava ligar para ele, mas não atenderia, estava irritado de mais para isso. Em menos de 15 minutos ele chegou ao local, uma estradinha de terra que saía da estrada, ninguém notaria, mas ele passava por ali a cada dois dias, conhecia perfeitamente a estrada, e sabia qual estrada daria na casa. Não dirigiu 200 metros pela ruazinha de terra e os faróis já iluminaram a casa. Ele desceu, ia dar um tiro no olho do primeiro que visse. Embora fosse policial, era um homem bem destreinado, sem uma arma não se daria bem em um combate. Com 1,73m, magrelo, óculos, não fazia um esportes desde que terminou a escola há 15 anos. Fez os exercícios obrigatórios para passar na prova da polícia, mas só.

Uma casa deteriorada, antiga, janelas quebradas, telhas que nem são mais fabricadas. A pequena casa era um quadrado perfeito, 4x4. Provavelmente possuía um banheiro, um quarto e uma sala/cozinha. Não que ele se importasse com arquitetura. Nem havia porta, ele entrou na casa, estava fendendo, cheiro de ácaros, bílis, carne putrefata e decomposição. Marcos ligou a lanterna que carregava na mão esquerda, a direita é claro, carregava seu revólver calibre 38. Iluminou a casa, as paredes estavam marcadas, como se alguém tivesse passado facas até fazer buracos.
O policial estava no meio da sala quando viu, seu filho estava no chão de concreto, de olhos fechados. Ele se abaixou rapidamente e o pegou no colo, Estava vivo, mas desmaiado. Marcos se virou, ia correr até o carro, mas viu algo que o fez parar imediatamente. Parado fora da casa, apenas a alguns passos da porta, estava um ser de três metros de altura, com um terno, não possuía olhos, nariz, boca ou qualquer coisa que identifique um rosto. A coisa era extremamente magra e ao invés de mãos, possuía enormes tentáculos saindo de seus braços. Era a coisa mais grotesca que Marcos já viu. Mal se surpreendeu com a criatura e disparou cinco vezes contra o peito dela, que apenas recuava com os impactos. O policial notou que seria inútil desperdiçar o sexto tiro no peito, atirou na cabeça do ser, que caiu com o impacto. Marcos correu, passou pelo corpo da coisa jogado no chão. Abriu a porta do carona, e colocou o filho na cadeirinha de bebê acoplada ao banco. Apertou o cinto, fechou a porta e correu para o banco do motorista, aquilo não era humano, e ele não queria estar perto para descobrir se a coisa ainda estava viva depois dos tiros. Marcos se sentou no banco, fechou a porta, pôs a chave na ignição e sentiu algo roçando seu pescoço. Era um tentáculo. A coisa estava viva, o homem-esguio estava vivo. E o sufocava, Marcos tentou lutar, gritar e até mesmo respirar, mas não conseguia. Olhou para o filho e notou os tentáculos do braço esquerdo da criatura entrando pela janela do passageiro e retirando Marcelo da cadeirinha. Foi aí que ele notou, foi assim que ele levou seu filho no início, seus tentáculos entraram pelo buraco do ar condicionado, havia grades e um bebê passava, assim como os tentáculos daquele ser. Não eram como os de um polvo em uma pessoa, não havia ventosos, mas era como uma pessoa que desenvolveu tentáculos, sem mistura de seres marinhos com humanos. Marcos também se lembrou dos boatos de cadáveres de bebês no local, foi o homem-esguio que os deixou lá. Ele que matava as crianças. O policial usou suas últimas forças para tentar tirar o tentáculo de seu pescoço. Viu o filho agarrado pelo ser. Enquanto aquela cabeça sem rosto “olhava” para ele, lutando de dentro do carro. Marcelo no colo da criatura segurado pelo braço livre. Seu último pensamento foi – Meu filho vai morrer esta noite.

Necrófilos: A seita


Olha só, mais um conto necrófilo, hora hora não vi o porque de não repassar, o nome já diz tudo o que é de se esperar, necrofilia, sadismo, gore e uma pitada de suspense. 

No começo achei que não iria continuar lendo, não me chamou tanta atenção, mas algo me prendeu, e foi ficando interessante, vamos logo sair dessa realidade e entrar em devaneios. 

Psicose psicose e mais psicose, ao som de Luxúria de Lillith \m/ 

Eaí vamos fazer o "Ritual dos necrófilos" ? Este conto foi retirado do blog Contos de Terror descrito ao final.

A beleza sempre atrai a todos nesta vida, um belo par de pernas, glúteos torneados, seios fartos e belos lábios são capazes de tirar qualquer jovem sedento de hormônios do sério.

Com Alan, Paulo, Eduardo e Otávio não era diferente, no último ano do ensino médio tinham a seu favor toda a disposição de uma vida jovem e belas garotas na sala de aula que os provocavam constantemente com suas saias curtas e roupas provocantes.

Os dias normalmente iam se passando, até que uma tarde quente o suor dos rostos de todos os alunos da movimentada escola pública de Efigênia Santana, localizada na cidade São Paulo próxima de avenidas movimentadas, escorria incessantemente principalmente nos belos seios de Camila que provocantemente saltavam do atrevido decote, fruto de inúmeras repressões de professores.

A sedução entre jovens é constante um verdadeiro jogo em que todos se insinuam com um único propósito: a busca pelo prazer, que até então é inédito para muitos.

Alan e Paulo são os verdadeiros amigos inseparáveis, em tudo estiveram juntos e desde pequenos cursam a mesma escola e todos os anos estão na mesma sala, ambos com dezoito anos, assim como a grande maioria dos alunos. A meta dos amigos até então é perder a tão escondida e vergonhosa virgindade com garotas, já que entre si já haviam ensaiado toques e gracejos por diversas vezes, mas estavam destinados a experimentar algo novo.

Camila parecia a pessoa perfeita para este início tão esperado na vida sexual, a atenção estava voltada para ela, um dos dois deveria sair vitorioso e finalmente entregar-se ao amor ou simplesmente um caso para se vangloriar com os colegas de sala.

Eduardo e Otávio eram os experientes do grupo, sempre muito otimistas e seguros, falavam aos quatro cantos suas aventuras, vontades e fantasias, mas no fundo sabiam que não passavam de simples jovens virgens como quase todos seus colegas de sala.

A sexualidade era explorada e procurada de todas as maneiras, principalmente pelos garotos, mas as meninas não se intimidavam em destemidamente estimular a fervura de seus admiradores.

O ano foi transcorrendo cheio de altos e baixos, até que em uma festa junina realizada na escola, segundo professores e diretores, uma das melhores do bairro, Alan decidiu se declarar para Camila através de um dos tradicionais correios elegantes, um meio de dizer com belos cartõezinhos artesanais o amor a uma pessoa.

Paulo duvidou que Camila, que nunca tinha lhes dado atenção, atenderia um pedido destes ainda mais numa festa junina.

Para surpresa de todos, inclusive de Alan, Camila topou o encontro e neste dia tiveram uma proximidade muito grande, estando a um passo de preliminares de algo mais caloroso, mas que infelizmente tiveram de encerrar, pois os pais de Camila a procuravam por todo canto, enquanto ela trocava amassos com Alan atrás da escola, em um corredor velho e escuro.

Alan era um rapaz normal, não chegava aos padrões de beleza, mas também não estava entre os piores, era um típico cidadão paulistano e seus colegas também não eram diferentes.

Aos poucos o tão esperado fato aconteceu, Alan e Camila acabaram se tornando namorados.

Paulo sedento de ciúmes, em partes por perder seu amigo, partes por perder a possibilidade de ter Camila e no fundo a perda de um contato mais aprofundado com Alan.

O ano se encerrou, todos aprovados e a partir de então seguiram seu rumo.

Distante de Alan, Paulo se aproximou cada vez mais de Eduardo e Otávio que estavam com atitudes estranhas nos últimos tempos, mais reclusos e diziam-se adeptos de uma cultura renovada e que amavam corpos de uma nova maneira.

Paulo decidiu acompanhar de perto esse novo estilo de vida.

Meses se passaram e o ciúmes de Paulo com a relação de Camila e Alan aumentava, despertando ódio e amor ao mesmo tempo, algo realmente estranho o consumia cada vez que lembrava de tudo que os dois passaram juntos, para ser jogado fora da maneira como Alan fez

Era um sábado quando Paulo se deparou com Alan e Camila aos beijos em uma praça não muito longe de sua residência, deste ponto em diante despertou em si um sentimento diferente de todos os outros juntos, decidiu então aceitar a proposta de Otávio e Eduardo.

Ligou para Otávio dizendo estar pronto para conquistar o prazer insuperável e fazer parte do estilo de vida deles.

Na noite daquele mesmo dia Paulo se encontrou com seus colegas que em um carro o levaram para uma cidade não muito distante de onde eles estavam, era um povoado pequeno, parecia esquecido e isolado do mundo.

Em frente a uma residência de aparência tenebrosa rodeada por grandes árvores eles estacionaram e silenciosamente caminharam para dentro deste lugar.

Paulo estava assustado, mas decidido, seguiu os passos de seus amigos.

Já na sala um homem obeso vestido totalmente de preto, ofereceu um líquido em uma pequena taça para que, segundo o misterioso homem seria o batismo de Paulo em sua nova etapa.

Já no dia seguinte Paulo pouco se recordou da noite anterior, não fazia mínima idéia do que havia acontecido naquele local e muito menos como havia retornado para sua casa. Ligou para Otávio, que disse apenas que o líquido do batismo fez com que ele dormisse profundamente por não estar acostumado com bebidas fortes, sem dar mais detalhes Otávio logo desligou.

Paulo estava confuso, mas no dia seguinte queria retornar ao local para ter o suposto encontro com o prazer.

Alan e Camila já tinham vivido intensamente todos os desejos reclusos durante muitos anos. Por contatos via internet, com mensagens instantâneas, Alan sem se preocupar com os sentimentos de Paulo o informava sobre tudo, inclusive coisas pessoais de Camila, pois estava ciente de que a amizade era grande e a confiança também.

Noite seguinte, Paulo foi novamente levado ao tal lugar misterioso, que na realidade não se tratava de uma cidade, mas sim de uma rua em uma favela distante, mesmo sim ainda em São Paulo.

Desta vez Paulo expressava em seu rosto um ódio inevitável de se esconder e seguiu para os fundos das residência onde mais homens os aguardavam.

O local era extremamente assombroso, logo a frente em uma espécie de altar, se encontravam crânios humanos rodeados de adereços e velas grandes acesas.

Paulo nem se impressionou muito, queria logo um alívio para seus sentimentos.


A semelhança entre todos ali presentes estava no fato de procurarem o prazer em lugares antes não explorados. Sobre a mesa havia algo coberto que despertou a curiosidade de Paulo, que até tentou olhar, mas foi severamente repreendido por seus colegas.

Antes da cerimônia se iniciar Paulo teve que se despir em frente a todos e o mesmo homem que ofereceu a estranha bebida a ele no primeiro, ofereceu-lhe agora uma navalha.

Com esta navalha Paulo foi obrigado a marcar sua pele com uma estranha forma semelhante a uma letra “N”. O corte deveria ser profundo e feito em seu peito.

Paulo tremia muito e para aliviar a dor foi lhe dado mais bebidas estranhas, que eles afirmavam ser fonte de vida e coragem.

Com muito sofrimento Paulo fez a gravura sem sua pele, e todo seu corpo ficou repleto de sangue. Os homens presentes em sua maioria jovens na mesma faixa de idade, observavam com prazer a cena macabra.

Paulo foi proibido de se limpar e sobre o corte profundo Otávio jogou sal, provocando um grito alucinante de Paulo, que foi calado pelas mãos de Eduardo.

Tudo era parte do ritual, e os rapazes presentes permaneciam estáticos observando apenas o ingresso de mais um membro no clube intitulado apenas com a letra “N”.

Ainda sem saber o que acontecia naquele local, Paulo ficou parado enquanto todos os outros também se despiam e utilizavam máscaras com feições incrivelmente sádicas. Seu receio era grande pois não tinha noção do que poderia acontecer ali.

Todos se voltaram para a mesa, quando o homem de mais idade e obeso, chamado por todos como Faquir, descobriu o objeto, que nada mais era de que um cadáver de uma jovem bela e já pálida, aparentemente teria sido assassinada, pois marcas de cortes em seu pescoço eram evidentes.

Paulo ficou sem reação enquanto todos disputavam um lugar sobre o cadáver, ele ficou apenas observando atentamente.

Naquele estranho local o grupo praticava necrofilia, matavam e abusavam dos cadáveres das vítimas.

A cena era deplorável, os rapazes transavam com o corpo da jovem sem qualquer pudor ou receio. Rasgavam sua pele com os próprios dentes, sugando da moça já sem vida todo o sangue que ainda restava aprisionado em suas veias.

Paulo participou do ato tenebroso apenas tocando nas genitais da falecida, mas ao sentir a pele macia da jovem, sentiu um prazer incontestável.

Ao final do ato necrófilo, alguns dos rapazes se encarregaram de se livrar do corpo e já preparar uma nova vítima para a próxima semana, uma vez que as atrocidades eram cometidas com freqüência.

Todos estavam ensangüentados, e cheios de prazer ao explorarem um corpo inerte e tão escultural como aquele.

Após mais de uma hora até que tudo estivesse limpo, começaram a decidir e escolher a próxima vítima. Paulo por ser o novato teve de se encarregar na escolha e pior ainda, era o responsável por capturar e assassinar a escolhida.


Paulo estava nervoso, mas caso não cumprisse as ordens do Faquir, seria ele o cadáver a ser consumido sexualmente por todos os participantes, daquela que poderia ser considerada uma seita.

Paulo não sabia, mas na noite em que foi apresentado ao Faquir foi abusado sexualmente por todos os presentes, ele seria assassinado e após isso servido como um jantar a nível sexual para todos se divertirem juntamente com a vítima que acabaram de trucidar, mas preferiram poupá-lo.

Os dias se passaram e o prazo de escolha de uma bela jovem para ser servida no “jantar” dos necrófilos estava se esgotando.


Paulo olhava cuidadosamente para diversas garotas na rua e até mesmo em sites de relacionamentos, buscando a vítima perfeita.

Já era sexta feira, e na terça feira o cadáver deveria estar pronto para ser consumido por mais de seis homens sedentos de carne fria e morta, pois o abuso acontecia depravadamente sem qualquer restrição até provocar feridas nos corpos.

A violência era tanta que chegavam a abrir cortes em toda a vítima e utilizar esses cortes como órgão sexual, de modo que todos ao mesmo tempo pudessem desfrutar por igual o prazer, ainda que se revezassem entre si a fim de experimentar todos os locais destinados ao sexo.

Na noite de sexta, em conversa com Alan por mensagens instantâneas via internet, Paulo começou a ter idéias e decidiu então tramar um plano para capturar e assassinar Camila, pois ali se encontrava a vítima perfeita, era linda, sedutora, provocante e acima de tudo havia lhe roubado a amizade de Alan.


Ainda sem ter algo em mente convidou Alan e Camila para uma festinha na casa de Otávio, obviamente Otávio não sabia de nada, apenas pressionava Paulo para obter uma jovem deslumbrante naquela semana, pois somente assim ganharia respeito de todos os integrantes da N e não seria ele a vítima de necrofilia.

O plano de Paulo foi cuidadosamente planejado e antes de sair de casa no dia da execução preparou uma bebida especial que faria com que Alan e Camila dormissem profundamente.

Domingo à noite ele saiu de casa portando uma garrafa com a bebida especial e já ao receber o casal em seu carro ofereceu.

Alan de início recusou, mas sentado ao lado de Paulo no banco de passageiros topou experimentar, durante todo o tempo Paulo e Alan trocaram olhares, enquanto no banco de trás Camila se deliciava com a bebida.

Não demorou muito até os dois desfalecerem, Paulo conduziu o veículo para um local escuro e deserto, próximo a umas plantações logo na saída de São Paulo. O ambiente estava propício para realizar o assassinato dos dois.

Paulo se precaveu de forma a levar muitos sacos plásticos e panos para limpar a sujeira que iria causar.

Com dificuldade arrastou para fora do veículo Camila, desacordada parecia estar praticamente morta, mas era efeito do remédio utilizado que passava essa sensação.

Paulo tirou de uma bolsa um pequeno baseado e se drogou, em seguida portou um canivete e sem piedade alguma o passou no pescoço de Camila que estava nua, pois Paulo aproveitou-se do corpo da garota, a dor foi tamanha, que mesmo com o efeito do remédio ela retomou a consciência e tentou se defender sem ao menos saber o que acontecia, chegou a se levantar, mas a perda de sangue fez com que desmaiasse e logo morresse.

Já com Alan, Paulo deferiu um golpe direto em seu peito e acreditando ter matado os dois se encarregou de guardar os corpos no porta-malas do carro e seguir até o local onde o Faquir estava e seria realizado o ritual.

Ao celular comunicou Faquir que rapidamente convocou todos os integrantes da N para comparecerem com urgência, pois naquele dia haveria dois pratos principais para serem degustados.

Desta vez mulheres também participaram do ritual e a casa do Faquir acabou ficando repleta de adeptos de necrofilia, com rostos cobertos por máscaras assustadoras e únicas.

Paulo não demorou a chegar com os presentes a todos os adeptos, a ansiedade por carne fresca foi grande que rapidamente desembalaram os mortos e o colocaram sobre a mesa.

Camila foi abusada primeiro e assim como nas pessoas anteriores, diversos cortes foram abertos. As mulheres presentes também se aproveitaram da jovem assassinada e algumas delas somente em ver os colegas agindo sobre o cadáver se masturbavam com objetos trazidos de casa.

Paulo estava sob efeito da droga e ria muito ao ver a tão desejada Camila ser destroçada daquela maneira. Alguns dos rapazes estapeavam o cadáver, desfigurando-a completamente.

O corpo de Alan permanecia inerte e intocado até que Paulo decidiu o despir. Vestiu sua máscara e partir para o abuso, pouco se importando com que os outros fossem pensar.

Ao iniciar uma série de cortes no corpo de Alan, notou que ela ainda respirava e num momento de lucidez ele acordou olhou para Paulo e lhe disse que amava.

Paulo se impressionou, tentou resgatar o amigo, mas foi impedido por Otávio e Eduardo. Paulo lutou fisicamente com seus amigos e tentou desafiar Faquir. Faquir ordenou a todos que dessem um jeito em Paulo, pois ele tinha rompido com as leis da N, todos amavam a morte e não a vida.

Paulo foi amarrado e o abuso foi cometido contra seu corpo vivo, pendurado em uma viga de madeira e assim como faziam em cadáveres, perfuraram e rasgaram a pele do jovem, que ainda vivo clamava por perdão, mas que aos poucos foi morrendo, ouvindo os gemidos de prazer daqueles que um dia ele acreditou ser a resposta para seus problemas.

Paulo faleceu, Alan foi morto e abusado, Faquir então decidiu executar Otávio e Eduardo por trazerem um traidor e os outros integrantes da seita trataram de se livrar de todas as provas e corpos.

Faquir desapareceu e a seita N se desfez em pouco tempo, cada um seguiu seu caminho, mas os desejos não mudaram, continuaram a com os crimes e alguns dizem que Faquir voltou a sua antiga profissão: Professor de ensino médio, no interior de Minas Gerais, onde estranhos sumiços de jovens passaram a acontecer.

Fonte: frsilva.blog.uo