⚠️ IMPORTANTE: CAPRICORNUS contém alguns filmes raros, que tiveram legenda sincronizada, outros traduções para o português, deu trabalho pra tá aqui ent vai roubar conteúdo da puta que te pariu sem dar os créditos. ~ Siga a gente! Os filmes tem limite de visualização mensal, caso não consiga, tentar próximo mês.

T2: Trainspotting (2017)


Outros títulos: Porno (EUA)
Diretor: Danny Boyle
Duração: 117 Minutos
País de origem: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Áudio: Inglês | Legenda: Português

Sinopse: Sequência de Trainspotting - Sem Limites (1996), a trama apresenta os mesmos personagens e o mesmo elenco, vinte anos depois. A história é inspirada do livro "Porno", de Irvine Welsh.
"Escolha bolsas, escolha sapatos de salto alto, lã caxemira e seda, escolha um iPhone fabricado na China por uma mulher que pulou da janela [...] escolha Facebook, Twitter, Snapchat, Instagram e milhares de outras maneiras de jogar sua vida a estranhos. Escolha atualizar seu perfil. Diga ao mundo que você vai para um almoço na esperança de que alguém se importe. Perfis olhando ex namorados, porque você acha que é melhor do que eles. Escolha postar vídeo ao vivo de sua primeira masturbação, até sua morte. Interação humana reduzida a mera informação. Escolha 10 coisas que voce não sabia sobre celebridades [...] e escolher o mesmo para os seus filhos, o que é pior [...]
 e para frente desta parte o discurso piora.

T2: Trainspotting não perde suas características principais e ainda consegue desenvolver novos desfechos para personagens tão únicos, problemáticos e, sobretudo, instáveis (só não chega aos pés do primeiro).
O Frank ainda mais insano, a amizade do Renton e do Sick Boy e principalmente a volta por cima do Spud me agradou muito. Tem cenas memoráveis como a festa do "1690"em que eles cantam There Were No More Catholics Left e a balada que o Renton encontra o Frank. No mais o filme é um soco para aqueles que o tempo já passou, para aqueles que a juventude já é passado e o futuro cheio de sonhos a ser realizado é contrastado por uma realidade frustrante e sem graça. Esse trecho abaixo é bem edgy mas condensa bem o contexto dos personagens (que contrasta com o que era Choose Life para eles 20 anos atrás) (felipe).
No balanço geral “T2” é um filme que acerta em cheio a geração dos anos 90 com uma gostosa nostalgia, mas num olhar frio está longe de ter a mesma relevância do primeiro filme e se coloca como uma comédia dramática apenas muito boa que reúne amigos queridos, mas com pouco assunto.
Boyle não fugiu da cobrança de repetir uma trilha sonora que marcasse, como a do primeiro filme. Recrutou novos nomes da cena britânica - Young Fathers, Fath White Family -, convocou o Prodigy a regravar "Lust for Life", de Iggy Pop, tocada em "Trainspotting" e chamou Underworld a fazer uma versão mais lenta de "Born Slippy", tema techno do longa original (Folha uol, 2017).
"Escolha rolos antigos, desejando ter feito tudo diferente. E escolha ver a história se repetir"
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Fumaça do Tabaco (Shenipabu Myui - História dos antigos)

xamanismosabedoriancestral.blogspot.com
Por Coelho (2003): 
Tekã Kuru, um jovem como nós, fez um rapé de tabaco muito forte, o mais forte que tinha. Então, ele tomou o rapé. Pegou o canudo de taboca, botou o tabaco na mão e aspirou. Ficou bêbado e passou um ano na rede, ali deitado. Por isso que hoje em dia o tabaco é forte. Passou um ano curtindo. Tekã Kuru tinha uma esposa. Enquanto ele ficou de porre de tabaco, sua mulher sempre andava para lá e para cá. Até que começou a namorar com outro cara. Ela começou a ir muito ao roçado. Às vezes, quando voltava, trazia um nambu. Botava na caçarola de barro e caía depois na rede. Fazia que dormia e ficava rosnando como se tivesse pesadelo. A mãe dela perguntava: 
─ O que é que minha filha tem? 
Pegava no punho da rede e balançava. A filha fingia que acordava e fazia que era encantada. Mandava sua mie abrir a panela. A velha abria e encontrava o nambu. A filha fazia que estava estudando o estudo para se pajé. Toda vez que vinha do roçado, aparecia com um macaco, um jabuti e todas aquelas caças. Parece que um dia, depois de um ano dentro da rede, o marido não suportou mais. Levantou, pegou sua arma, flecha e borduna e caminhou atrás da mulher. Encontrou a mulher conversando com outro cara. Tekã Kuru então empurrou a lança nas costas do homem, furou também a mulher. Bateu depois com a borduna até que matou os dois. Quando chegou em casa, a velha estava esperando a filha. 
─ É, minha sogra, parece que tua filha tá morta. 
A velha correu para o roçado e lá encontrou os dois caídos. Enquanto isso, Tekã Kuru sumiu. Acompanhou ele como sua nova mulher uma prima. Foram andando, andando no mundo, até chegarem em outra aldeia na casa de uma irmã dele. Atou sua rede e contou para a irmã que tinha matado sua mulher. Passou ali uns três meses. 
Depois, seguiu para outra aldeia, onde morava outra irmã. Ela estava viúva. Seu marido tinha sido comido por um encantado. Nesse dia, Tekã resolveu partir uma lenha para ajudar sua irmã, que lhe disse: ─ Não, meu irmão, não parte essa lenha não, porque o bicho vem e come a gente. 
O irmão não se importou. Pegou o machado e começou a abrir a lenha. A lenha afastava-se sozinha, O homem tentou três vezes abrir a lenha, até que apareceu um homem encantado. Ele pegou a borduna, bateu e firmou com a lança, até matar o encantado. Passado ti m mês, foi para outra aldeia e encontrou outra irmã viúva.

─ Irmão, eu não tenho mais marido. Ontem, a onça comeu ele.
O irmão resolveu pegar essa onça. Perguntou a que horas que ela atacava. A irmã Contou tudinho. Chegava de noite, às doze horas. Quando a pessoa estava dormindo na rede, pegava ela de surpresa e comia.
Então, o Irmão mandou cercar tudinho. Cercou a casa da irmã e mandou ficar lá na rede a mulher dele e a irmã viúva. Ele ficou na porta esperando até as doze horas. Quando quis dar no sono, ele escutou a onça esturrar. Pegou a flecha. Quando viu o vulto do bicho, apertou a flecha e flechou a onça. A onça caiu morta.
Passaram-se mais dois meses. Tekã Kuru seguiu para outra aldeia, onde tinha outra irmã.
Esta, toda vez que tinha um filho, o gavião real levava para seu ninho, numa samaúma grande no mato. Pegava o menino na hora que ela ia dar banho no terreiro. O irmão resolveu pegar o gavião real para salvar seus sobrinhos. Mandou buscar barro e fez uma boneca grande, tipo um menino. Cortou cabelo, colocou no boneco e quando viu o gavião real chegando no pau da samaúma mandou a irmã banhar o boneco no terreiro, como fazia com os filhos.
Assim a irmã fez. Quando viu o gavião voando para pegar a criança, soltou a boneca e o bicho se atracou com o menino, mas não pôde carregar. Pregou os dois pés e ficou enfiado no barro liguento. O irmão veio e meteu o pau, matou o gavião real.
Passaram mais dois meses e o irmão resolveu passear em outra aldeia onde estava sua outra irmã.
─ Não, não vá, não! Lá no meio cio caminho tem um pica-pau que, quando começa a
cantar, ninguém conseguiu sobreviver ao seu canto.
O homem foi assim mesmo. Quando o pica-pau chegou voando, cantando, foi morto pela sua borduna.
Chegou assim na casa de sua irmã. Passados uns meses, resolveu seguir viagem para outra aldeia, visitar urna outra irmã.
─ Não, não vá, não! No meio do caminho tem uma casinha que faz escurecer, quando alguém vai chegando lá.
Ele assim mesmo decidiu ir. Seguiu seu caminho e quando chegou no ponto que sua irmã falava, escureceu. Ele ficou lá debaixo da casinha, atou a rede, convidou sua mulher para deitar, acendeu um pedaço de sernambi para alumiar e escondeu a luz debaixo de urna panela. Quando deu base de doze horas, ele ouviu bater de cima para baixo, descendo, um bicho que comia gente. O bicho vinha descendo e, quando chegou pertinho da casa, o homem abriu a panela, clareou a escuridão e meteu a flecha no animal que caiu, “pof”, no chão.
Conseguiu chegar na casa de sua outra irmã que disse espantada:
─ Como é que você vem chegando aqui? Ali ninguém nunca passou. Ali some mesmo!
O irmão descansou lá uns dias e resolveu continuar seu caminho para visitar outra irmã. Chegou em outra aldeia, onde encontrou sua irmã viúva, o marido morto por um macaco.
Mais uma vez o irmão conseguiu salvar a vida de sua família, matando o macaco preto com uma flechada certeira no peito.

Continuou sua viagem para outra aldeia e enfrentou desta vez um caboré encantado que conseguiu abater com a sua borduna.
Desta aldeia, seguiu viagem para outra aldeia para visitar uma outra irmã. No caminho, enfrentou um bicho encantado com metro e meio de braço, de dois braços. Bateu no calcanhar e então o bicho esmoreceu. Ele meteu o pau, derrubou ele. Matou e continuou o caminho até a casa da irmã.
─ Como é que você chegou, meu irmão?
─ Matei o rapaz, matei o animal!
Após uns tempos, seguiu viagem, como de costume, para outra aldeia. Mas, antes, ouviu conselho de sua irmã:
─ Não vai, não! Lá tem uma pessoa que come fígado de gente.
Assim mesmo o homem viajou. Chegando lá, encontrou sua irmã e seu cunhado animados esperando por ele. Atou sua rede e deitou.
O cunhado disse:
─ Tua irmã vai cozinhar umas bananas. Vamos tomar um banho. Tem um igarapezinho que dá muito bodó. Daquele bodó amarelinho. Vamos pegar um bocado para comer com banana.
Os dois cunhados foram então para o igarapé tomar banho. O irmão sempre com cuidado, observando o cunhado que levava um pau. O homem levou sua borduna e, enquanto mergulhava, continuava olhando com cuidado o seu cunhado.
Em plena claridade do sol, o cunhado pegou o pau para bater nele, mas Tekã Kuru desviou e o cara errou. Tekã foi em direção ao cunhado. Agüentou a borduna e derrubou ele, que foi bater no chão. Pinpinou ele de borduna. Ele começou a gritar. Sua mulher chegou, viu a cena e ficou olhando, esperta. Depois, pegou na saia, começou a dançar, dançar e cantar na língua:
─ He, he, he, he...
Depois Tekã mandou sua mulher matar sua própria irmã, por ser a esposa do homem que já estava morto, o que comia fígado.
A mulher foi e matou sua cunhada. E os dois continuaram sua viagem. Tekã matou assim todos os animais e até a sua irmã e o seu cunhado, aquele que comia fígado. Enfrentara, até então, todos os perigos.
Um dia, em uma de suas viagens, um conhecido seu matou um urubu para ele comer.
Pelou o urubu bem peladinho e convidou Tekã para comer. Dizia que era um gostoso mutum. No começo, Tekã recusou, mas o cara insistiu. Até que ele, valentão, aceitou de comer o urubu. Rasgou a carne bem lá de dentro, tirou um pedaço e comeu. Disse que amargava m oito. Sentiu então q mie ia finalmente morrer.
─ Mulher, dessa vez vou cair.
Passado um mês, Tekã Kuru, que comeu fígado de urubu, morreu.

Shenipabu Miyui - História dos antigos reúne, em uma edição bilíngüe (Kaxinawá-Português), doze narrativas dos mitos de fundação da nação indígena Kaxinawá, que habita a região do Alto Purus, na divisa do Acre com o Peru. O livro é fruto da pesquisa de professores Kaxinawá, que percorreram as diversas terras de seu povo com o objetivo de criar uma escrita que preservasse a sua memória. Esse trabalho chega agora às mãos de todos os interessados, trazendo um precioso material de reflexão sobre uma parte até então encoberta, desvalorizada e pouco difundida de nosso diversificado patrimônio histórico-cultural.
Livro Shenipabu Myui - História dos antigos
Referências:
Organização dos Professores Indígenas do Acre
COELHO, Maria do Carmo Pereira. As narrações da cultura indígena da Amazônia: lendas e histórias. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (tese), 2003.

Trainspotting (1996)


Outros títulos: Trainspotting: Sem Limites
Diretor: Danny Boyle
Duração: 94 minutos
País de origem: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Áudio: Inglês | Legenda: Português
Sinopse: Um retrato da juventude viciada de Edimburgo, capital da Escócia. Focado na vida de Mark Renton (Ewan McGregor), um rapaz que escolhe viver assumidamente como um viciado em heroína e deixa de lado os padrões da sociedade. Ao lado de seus amigos – Sick Boy (Jonny Lee Miller), Tommy (Kevin McKidd), Spud (Ewen Bremner) e Begbie (Robert Carlyle) – ele curte futebol e usar sua droga favorita o tempo todo. Cada um desses personagens peculiares tem uma história diferente, ora divertida, ora dramática, e todas elas se cruzam por conta do vício. Renton vai além dos limites o tempo todo e isso tem um preço. Cabe ao rapaz e a seus amigos tomar as rédeas de suas vidas e sair dessa. Mas será que eles querem realmente viver assim?
"Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadoras de roupa, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha seus amigos. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã. Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo game shows chatos na TV enfiando porcaria na sua boca. Escolha apodrecer no final, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha viver."
Para quem não sabe (eu não sabia té escrever esse post) há um novo filme chamado T2 Trainspotting (2017): "essa sequência parece não ser um retorno apenas por fins comerciais, como a maioria de reboots, remakes e spin-offs hollywoodianos. T2 visa a todo o momento se perguntar por que está de volta: por nostalgia (um aconchego emocional), por vingança ou reparação? Esses são motes que motivam a viagem de T2."
Boyle busca representar as sensações proporcionadas pelo consumo de substâncias entorpecentes, como a adrenalina, o êxtase, a angústia e as alucinações. O diretor é muito bem-sucedido em sua escolha, fazendo com que o espectador divida com os personagens uma experiência intensa e de grande amplitude emocional. Esta escolha permite também a criação de momentos visualmente marcantes, que adentram o terreno do surreal, como o mergulho de Renton na privada do “pior banheiro de toda a Escócia”, ou quando o personagem literalmente se afunda no vício e no tapete da sala de seu fornecedor, interpretado pelo ótimo Peter Mullan. Muitas destas sequências podem ser consideradas desagradáveis, como a do bebê morto de uma das usuárias de heroína (mais tarde uma semelhança com bebê de vítima no filme Ex Drummer (2007)) ou o incidente intestinal de Spud na casa da namorada, mas Boyle as retrata sem pudor. Com isso o diretor se mantém fiel à sua fonte criativa, a obra de Welsh, inclusive em outros detalhes, como as particularidades da cultura escocesa (as gírias e o forte sotaque local, por exemplo).
Esta sintonia é fundamental, pois mais do que um filme sobre o mundo das drogas, Trainspotting é um filme sobre amizade. Um tipo de amizade errática, que parece surgir apenas nos momentos de necessidade causados pelo vício, mas que de algum modo exerce grande força sobre os personagens. Personagens que são, sem exceções, figuras amorais e autodestrutivas, de difícil identificação com o público. Características que criam uma barreira de empatia, superada pela já citada qualidade do elenco, e também pelo modo sem julgamentos com o qual Boyle expõe estas figuras, mostrando suas ações e consequências sem estabelecer limites de certo e errado.
Por fim temos outro importante e influente elemento, a trilha sonora, que vai de Iggy Pop ao grupo Underworld, cujo single “Born Slippy” se tornou um hit e marca registrada do filme, que também retrata a mudança cultural dos anos 90, quando as festas de rock e as drogas “clássicas” deram lugar à cena da música eletrônica e das drogas sintéticas. Tudo isso faz de Trainspotting um trabalho emblemático de uma época, que apesar de sofrer um pouco com o desgaste de seu estilo muito imitado e da carreira instável que Danny Boyle construiria a seguir, possui um impacto inegável (papo de cinema).
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Caipora e Curupira: Intoxicados pelo retrocesso ambiental?

Caipora é uma índia anã, com cabelos vermelhos e orelhas pontiagudas. Existem versões em que seu corpo é todo vermelho e noutras, verde.
Aguilera (2007) lexicaliza dois verbetes: caapora e caipora. No primeiro, descreve o caapora como S. 2 [do tupi Kaa’pora], “o que há no mato”. Entre os índios o homem morador do mato, roceiro. V. caipira (1) Bras. Caipora (1). No segundo, já para caipora traz:  [do tupi Kaa’pora, morador do mato.] 1. Ente fantástico oriundo da mitologia tupi, representado segundo as regiões, ou como forma de mulher unípede que anda aos saltos, ou com uma criança de cabeça grandíssima, ou como caboclinho encantado, ou como um homem agigantado, montado num porco-do-mato ou com um pé só. 
Ela vive nua nas florestas e tem o poder de dominar e ressuscitar os animais. Seu intuito principal é defender o ecossistema e, portanto, faz armadilhas e confunde os caçadores. Além disso, ela tem o poder de controlar os animais e, por isso, os espanta quando sente que algo de mal pode acontecer.
Em certas versões, ela tem o pés voltados para trás igual ao Curupira. Por isso, em alguns locais do Brasil, ela é confundida com o Curupura.
Alguns estudiosos afirmam que a Caipora surgiu da lenda do Curupira. Ou seja, para eles ela é uma derivação dessa personagem folclórica.
Quanto a isso, podemos notar aspectos similares entre as duas figuras, como por exemplo, serem protetores da floresta. Ambos lutam pela preservação do ambiente e costumam assustar ou mesmo pregar peças nos caçadores, madeireiros, exploradores, etc.
Outra versão:
De acordo com (Foguel 2016) Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça. Seu corpo é coberto de pelos. Vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.
No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular, é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, que tudo se intensifica. Porém todavia, tem como driblá-lo. Caipora gosta de fumo, então diz que antes de sair tem que deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer "toma caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico.

Note que ela pode ser representada por um homem ou uma mulher. Isso vai variar de acordo com a região em que a lenda é relatada.
No livro "Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro" (Foguel, 2016) descreve Curupira com traços semelhantes a Caipora. "anão de cabelos vermelhos e compridos, pés virados para trás [...] também se dizia que a pessoa deveria levar um rolo de fumo para entrar na mata caso encontrasse, Curupira assim como Anhanga ou Pai-do-Mato são protetores da fauna e da flora, também assobia e deixa pegadas, e como seus pés são virados para trás engana os exploradores da natureza.

Agora parou o blablabla...

Qual a diferença entre Caipora e Curupira?

"Os Curupiras têm a pele parda e cabelos vermelhos, que geralmente passam dos ombros. Costumam se adornar com pedras preciosas, linhas de tinta vermelhas e pretas e cipó, além de brincos e colares. Enquanto os Curupiras apenas passam linhas de tinta, fazendo desenhos como os índios, os Caiporas pintam a pele inteira de uma única cor, o verde-mato. Quem o vê pensa que sua pele é verde, mas a pele é parda também. Só que eles sempre vivem com a pele pintada, deixando apenas alguns traços brancos no rosto eventualmente. Para os Caiporas, é ofender a Sy deixar a pele parda, pois como são filhos da Mãe-Terra, devem pintar a pele da cor dela.
Os Curupiras são menos espirituais que os Caiporas, e menos sérios também. Os Caiporas são tão empenhados na adoração da Mãe-Natureza que dão a entender que são cruéis – e muitas vezes os são mesmo. Os Curupiras são mais de diálogo, os Caiporas são mais mortais e perigosos. Seus reinos em florestas são tão bem escondidos que nem mesmo um Curupira poderia encontrar com facilidade.
Os Caiporas tem a pele inteira pintada de verde-mato, mas têm cabelos vermelhos como os dos Curupiras. Geralmente utilizam o arco e flecha como armas de conflito, e são os melhores nisso" (folclorando, 2015).

Curiosidades

A Caipora também é uma personagem do programa televisivo “Castelo Rá-tim-bum”. Esse programa infantil passava nos anos 90 na TV Cultura. Nas telinhas, cada vez que alguém assobiava a Caipora aparecia e contava histórias indígenas (Toda Materia).
“Castelo Rá-tim-bum”
"Suas primeiras pesquisas coletavam principalmente os versos e lendas transmitidos oralmente pelos camponeses analfabetos e que pareciam representar uma herança antiquíssima. Gradativamente, a sua abrangência foi se ampliando, atingindo, para além da poesia oral, as melodias, danças, festas, costumes e crenças das populações rurais" (VILHENA, 2017).
A tradicionalidade, talvez a característica básica dos fatos folclóricos, é entendida hoje como uma continuidade de representações do passado, na qual os fatos novos se inserem sem provocar, contudo, uma descontinuidade com as antigas práticas. No âmbito desse entendimento, o folclore é universal e tradicional em seus temas e motivos – as invariantes –, e é regional, isto é, próprio de uma comunidade, de uma vila, de uma região, na medida que é atualizado na ocorrência de variantes e versões: O Bumba-meu-Boi, o mito do Caipora (Curupira), sobrevivendo de diferentes maneiras por todo Brasil, são exemplos dentre tantos outros. portadores de folclore não são mais exclusivamente analfabetos; muitos deles são responsáveis pela circulação, comercialização, divulgação e até mesmo da gravação da sua obra, como é o caso da cantoria, ou utilizam as novas tecnologias da comunicação para imprimir o seu folheto [...]  o folclore é dinâmico e evolui com as mudanças da sociedade. Não é sobrevivência, mas cultura viva. As nossas manifestações folclóricas são criações do povo brasileiro ou foram recriadas a partir de outras culturas e incorporadas às nossas tradições (ALCOFORADO, 2008).

As lendas do folclore brasileiro, são ou eram facilmente disseminadas por pessoas analfabetas, que de fato acreditam nelas! Entretanto, mais inteligentes que a ganância industrial, de empresas multinacionais, essas que passam por cima da regionalidade, da natureza e do próprio ecossistema.

O Curupira perdeu a força do mito

Artigo de Raimundo Nonato Brabo Alves 
O Curupira é uma entidade mitológica do folclore brasileiro. Tão antiga que o Padre José de Anchieta já o citava em 1560. No tempo de José de Anchieta eram apenas os caçadores e lenhadores. Hoje além deles são madeireiros, barrageiros, mineradores, garimpeiros, agronegociadores e principalmente legisladores que se o Curupira como entidade da floresta não conseguiu inspira-los, já perdeu ha muito seu poder de proteção contra os demais atores de destruição da floresta, tanto da Mata Atlântica quanto da Amazônia.
O Curupira perdeu feio a batalha no Congresso Nacional com o novo texto do Código Florestal aprovado em primeira instancia na Câmara e no Senado. O “novo código” cujas emendas ameaçam as APPs e as matas ciliares e anistiava os desmatadores que em desrespeito a lei não preservou suas reservas florestais, se constitui em retrocesso segundo a comunidade científica e de ecologistas, preocupados com os crescentes desequilíbrios ambientais.
Não tem mais poder o Curupira de impedir o avanço do agronegócio de monocultivos sobre as pequenas propriedades de agricultores familiares, que ao vendê-las a preços aviltantes aos grandes grupos empresarias, se tornam assalariados das mesmas empresas, comprometendo a cadeia produtiva de inúmeros cultivos como a o da mandioca, produto altamente ligado à cultura amazônida, provocando a instabilidade de oferta e de preço como no ano anterior, comprometendo a segurança alimentar da região.
O Curupira há muito não consegue mais confundir os garimpeiros e mineradores que com equipamentos mais sofisticados multiplicam por muitas vezes a velocidade de exploração dos minerais da Amazônia a ponto de suplantar a capacidade de degradação natural de seus rejeitos tóxicos, transferindo como herança para às futuras gerações, verdadeiros “cemitérios” de metais pesados nas proximidades da maior bacia hidrográfica do planeta.
Os mitos e lendas da Amazônia, tal como o Curupira, vem sendo triturados e liquefeitos pelas serras, turbinas, fornos e engrenagens que nos últimos 50 anos promovem o “desenvolvimento” da Amazônia. Quanto mais se fala em sustentabilidade a impressão que fica é a de que menos se pratica. Espero que haja tempo para uma reflexão da sociedade sobre o futuro que queremos, para que nossos mitos e lendas tenham algum significado para as futuras gerações.
Raimundo Nonato Brabo Alves é Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental
EcoDebate, 28/02/2014

Fotografias para conhecer!

Parque Ambiental Chico Mendes - Rio Branco, Acre, Brasil
Parque Ambiental Chico Mendes - Rio Branco, Acre, Brasil

Rio Branco, Acre, Brasil (O curupira (1996). PVA sobre zinco. Acervo: Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco-AC.)

Outras imagens...

Imagem 1 
Imagem 2
A Caipora tá lá na mata, ela tá dançando ela tá te vendo, seu moço aperta seu passo pois nas garras dela tem inté veneno, sinhô essa Caipora é brava não mexe com os bichos e suma logo, saia correndo; ela mora aqui faz tempo, toda essa natureza ela vai protegendo. . .
Imagem 3

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Imagem 5
Imagem 6

Referências:
Imagem 1: https://harrypotter.fandom.com/wiki/Caipora
Imagem 2: Caipora by  rafanarchi
Imagem 3: https://www.facebook.com/folcollab/photos/a.111258986135925/168618837066606/?type=3&theater
Imagem 4: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/11/lendas-59-quadrinistas-se-reunem-para-contar-o-folclore-brasileiro.html
Imagem 5: https://incrivel.club/admiracao-curiosidades/10-lendas-do-rico-folclore-brasileiro-como-voce-nunca-viu-671060/
Imagem 6: https://br.pinterest.com/pin/603200943820871731/
Toda Materia: https://www.todamateria.com.br/caipora/
Ecodebate: https://www.ecodebate.com.br/2014/02/28/o-curupira-perdeu-a-forca-do-mito-artigo-de-raimundo-nonato-brabo-alves/
Folclorando, 2015 (Acácio Souto): https://folclorando.wordpress.com/2015/01/14/qual-a-diferenca-entre-caipora-e-curupira/
ALCOFORADO, Doralice F. X. Do folclore à cultura popular. Boitatá – Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, v. 3, 1980. 2008. Texto apresentado pela autora, enquanto presidente da Comissão Baiana de Folclore, em 03/09/2007, no Rotary
Club, Salvador. 2008. INSS 1980 - 4504.
FOGUEL, Israel. Uma Viagem Através Do Folclore Brasileiro. São Paulo: Clube de Autores, 2016.
AGUILERA, Vanderci de Andrade; DOS SANTOS, Ariane Cardoso. Crendices populares paranaenses: o caso do caipora. Boitata, v. 2, n. 3. 2007.
VILHENA, Luís Rodolfo da Paixão. Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964. 2017.
https://almaacreana.blogspot.com/2016/08/helio-melo-o-artista-da-floresta.html
https://www.flickr.com/photos/visitbrasil/23808145089/in/photostream/

Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída (1981)


Outros títulos: Christiane F. - Wir Kinder vom Bahnhof Zoo
Diretor: Uli Edel
Duração:  125 Minutos
País de origem: Alemanha
Áudio: Inglês | Legenda: Português

Sinopse: Na cidade de Berlim, nos anos 70, a adolescente Christiane (Natja Brunckhorst) é uma jovem comum que mora com a mãe e a irmã caçula. Ela sonha em conhecer a "Sound", discoteca mais moderna e badalada do momento. Menor de idade, ela consegue entrar com a ajuda de uma amiga, conhece Detlev (Thomas Haustein) e começa a se aproximar das drogas. Primeiro álcool, depois maconha, calmantes, LSD, heroína. Imersa no submundo do vício, ela passa a prostituir-se.

De acordo com JLongo-1 (imdb),  Esse filme poderoso e chocante é uma adaptação do livro best-seller baseado na história real de Christiane F. (como já sabemos), ela viveu em Berlim até meados dos anos 80 e tendo a mesma idade que Christiane F. Enfatiza a autenticidade do livro, até do filme. Berlim era uma cidade escura e deprimente na época, mas uma verdadeira metrópole com todos os seus problemas. Não precisava fazer parte do "cenário das drogas" para perceber isso em todos os lugares no centro da cidade e arredores. O artigo da revista, seguido do livro e do filme,  expôs ao público e documentou o problema. O filme ainda é relevante 20 anos depois, basta ter um pouco de perspectiva.
A trilha sonora com a música de David Bowie (recentemente relançada em CD) é poderosa e se encaixa no clima geral perfeito. 

No (Vice, 2013) há uma entrevista com a própria e real Christiane. De acordo a própria, o filme não descreveu como cresceu, seu pai era alcoólatra e abusou de sua irmã, e dela, enquanto sua mãe nada fazia. 

Hoje, Christiane tem 51 anos, um filho de 18, e um livro lançado em 2014 para revelar os desdobramentos do vício e da fama repentina. Christiane declarou, em entrevista à revista Vice, que não conhece outra vida. E culpa a fama por estar tão debilitada e continuar usando drogas. Segundo ela, se não tivesse virando uma celebridade, não teria dinheiro para consumir heroína e outras substâncias durante todos esses anos. Pelos direitos autorais das obras, ela recebe mensalmente cerca de R$ 6 mil. Com o segundo livro, Minha Segunda Vida, lançado em 2014, ela disse esperar que as pessoas se assustem mais com as drogas (diversao r7, 2017).

Referências
https://www.vice.com/pt_br/article/bmgdq5/vou-morrer-logo-eu-sei-conheca-a-verdadeira-christiane-f
https://diversao.r7.com/pop/o-que-aconteceu-com-a-garota-de-eu-christiane-f-13-anos-drogada-e-prostituida-13062017
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Mapinguari pan-amazônico

O Mapinguari é o mais popular dos monstros da Amazônia. Seu domínio estende-se pelo Pará, Amazonas, Acre, vivificado pelo medo duma população infixa que mora nas matas, subindo os rios, acampando nas margens ignotas das grandes águas sem nome. [...] Mata sempre, infalivelmente, obstinadamente, quem encontra. Mata para comer. Descrevem-no como um homem agigantado, negro pelos cabelos longos que o recobrem como um manto, de mãos compridas, unhas em garra, fome inextinguível. Só é vulnerável no umbigo. Esse lugar é clássico para a morte dos monstros como o lobisomem em certas paragens, porém o Mapinguari dorme a noite. O perigo é de dia, o dia penumbra no meio das florestas que coam a luz do sol fazendo-a macia e tênue. O mapinguari berra alto, berros soltos, curtos, altos, atordoadores. Esses gritos roucos e contínuos explicam rumores que a floresta produz sem justificação, assim como o Curupira batendo nas árvores, Boitatá enroscando-se em fogo nas relvas, Anhanga galopando com olhos coruscantes, Caapora guiando a manada de porcos caetetus, etc. Que signiica Mapinguari? Possivelmente se trata de uma contração de mbaé-pi-guari, a coisa que tem o pé torto, retorcido, ao avesso. O início do espanto seria o rastro de forma estranha, circular, indicando justamente a direção oposta ao verdadeiro rumo. Posteriormente é que a imaginação criou a figura material, tão semelhante aos outros monstros (CASCUDO, 2015).

Mapinguari pan-amazônico: personagem única e definitiva
Os traços do Mapinguari apresentados acima levam a concluir de imediato que se trata de uma personagem com características muito semelhantes ao Capelobo, mas também se pode deduzir que ele é quase uma síntese das personagens estranhas contidas em narrativas da tradição ancestral europeia (como eram o Polifemo, da tradição grega, e o Olharapo da tradição portuguesa, por exemplo), da tradição ancestral indígena (como o Curupira, sobretudo, gigante ciópode/monópode/unípede e/ou bípede, hipópode e/ou opistópode etc.) e da tradição nordestina (como, particularmente o Pai da Mata e o Capelobo) que no cadinho das florestas e das águas tropicais se tornavam Mapinguari.
Vegini (2014)
Com base no levantamento histórico-bibliográfico de Vegini (2014), constatou-se que: (a) na tradição europeia são muitas as personagens, que contêm uma ou mais das características apontadas acima, destacando-se entre elas o Polifemo de Homero (Imagem 01), como a mais emblemática, o ciclope da Imagem 02, como uma síntese delas, e o Olharapo, como o mais brasileiro dos monstros lusitanos; (b) na tradição ameríndia, também são muitas as personagens que contêm uma ou mais características descritas acima entre as quais se destacam o Jurupari (Jurupari/Wãx-t/Bisiu), o Anhanga, o Caapora/Caipora, o Mboi-Tatá, os Curiguerês/Curinqueans, o Bicho-Preguiça gigante, o Macaco-Preguiça gigante e o Curupira (Curupira/Mutayús, Curupira/Boraró/Moláro), como a mais significativa dentre elas; (c) a partir de 1500, com a tomada de posse do Brasil pelos portugueses e o choque cultural entre a civilização europeia e a ameríndia daí decorrente, essas personagens foram aos poucos sendo adaptadas e narrativas dessa tradição de gigantes foram refletindo a nova realidade e fazendo surgir, especialmente no Nordeste brasileiro, personagens não menos estranhas como o Pai da Mata, o Papa-Figo, o Gorjala, o Pé-de-Garrafa, o Bicho-Homem, o Labatut, o Quibungo e o Cupelobo/MA, a primeira e a última como as mais expressivas; (d) no final do século XIX e princípios do século XX, essas narrativas chegaram à região amazônica, a partir do Pará, através dos retirantes nordestinos, que buscavam na borracha uma forma desesperada para sobreviver; (e) ao chegarem à região Norte, esses migrantes se depararam com outras narrativas da tradição ameríndia e, nesse novo amálgama, suas personagens sofreram novo processo de adaptação surgindo daí novas narrativas de personagens ainda mais monstruosas como o Capelobo do Pará e, posteriormente, o Mapinguari, um macacão gigante e antropófago, ciclope ou binóculo, ciópode ou bípede, hipópode e/ou opistópode, blêmio, de berros estridentes, com unhas enormes e em forma de garras, cabelos negros e longos, corpo coberto com uma armadura impenetrável, mas vulnerável no umbigo, de onde
exalava fedor insuportável, e de hábitos diurnos de caminhar na mata, período do dia em que se dedicava a praticar suas perversidades; (f) narrativas tendo como protagonista essa nova personagem monstruosa, pela boca dos seringueiros, dos indígenas, garimpeiros, mateiros, caçadores e ribeirinhos, enfim, foram se alastrando pelas matas e barrancas dos rios e alcançaram praticamente toda a região Norte do Brasil, do Norte ao Sul, do Leste ao  Oeste, ganhando assim contornos pan-amazônicos; (g) pelo exame detalhado das características físicas e psicológicas do Mapinguari, ele é, na realidade, um complexo mosaico de traços de personagens de narrativas da tradição europeia (semelhante ao Polifemo de Homero e o Olharapo da tradição oral transmontana, por exemplo), e ameríndia (semelhante ao Curupira do litoral e do interior de todo o Brasil, por exemplo), filtrados, parcialmente, pela tradição dos gigantes nordestinos (semelhante ao Pai da Mata e ao Cabelobo, por exemplo); (h) por reunir em si mesmo e unicamente um amplo feixe de traços de variada tradição de gigantes monstruosos, ele se tornou uma personagem singular e definitiva do folclore amazônico, brasileiro e universal. 
(I) as narrativas da tradição europeia, com adaptações nordestinas, vieram para a Amazônia durante o ciclo da borracha e se disseminaram entre grupos indígenas com as devidas adaptações locais, tornando-se um mito pan-amazônico; 
(II) as narrativas da tradição ancestral europeia, com adaptações nordestinas, e a tradição ancestral indígena se miscigenaram na Amazônia; 
(III) as narrativas  da tradição ancestral ameríndia se difundiram na Amazônia fortemente influenciadas pelas narrativas ancestrais europeias com adaptações nordestinas; 
(IV) independentemente da ocorrência das demais hipóteses, as narrativas da tradição ancestral ameríndia se mantiveram em grupos isolados apesar de que, na locução intercultural, apresentem
tentativas de adaptação.
Vegini (2014)
O ciclope da Imagem 02 abaixo é uma das personagens dos bestiários medievais inspirados em Plínio e Solinos e seus seguidores. Trata-se de uma representação iconográfica de uma personagem gigante multifacetada, uma espécie de desenho síntese da tradição das narrativas ancestrais. Ele é, a um tempo, uma personagem de um olho só [ciclope ou arimáspio], com boca no peito [blêmio], com hipertrofia auricular [panócio], parecendo ter um único pé às avessas [ciópode e opistópode]. 
Conforme mostra a Imagem 07 acima, personagens encontradas por von Martius em narrativas da tradição indígena do Amazonas, ou bocarra em sentido vertical, do nariz ao umbigo como a do Quibungo da Baía, semelhante a uma vagina dentada com seu orifício mortalmente perigoso que conduzia ao útero da mãe Terra de que falam Eliade e Kappler272; somente o Mapinguari tinha unhas compridas em forma de garras como as unhas de dez metros do Pai da Mata do Cariri, como as unhas do Bicho-Preguiça e do Macaco-Preguiça dos Karitiana (SPIX e MARTIUS, 1981, p. 136-7; CASCUDO, 1976, p. 187/ nota de rodapé).

O Mapinguari que vive próximo às aldeias Karitiana é o mesmo que vaga por seringais acreanos ou por outras remotas paragens amazônicas? Como compreender esta aparente vasta difusão territorial do temido ogro, este “verdadeiro demônio do Mal”, nas palavras de Câmara Cascudo (2002, p. 222)?

Os efeitos da presença sempre perigosa do Mapinguari continuam sendo sentidos – ou seja, a experiência real neste particular mundo possível (possível, repito, para mim, não para aqueles que o habitam) – pelos Karitiana e pelas populações ribeirinhas em Rondônia, conforme a matéria publicada no jornal eletrônico rondoniaovivo.com, em 8 de outubro de 2014, e discutida por Vegini e Vegini (2015, p. 8). De acordo com o noticiário: 

A notícia de que um grupo de catadores de açaí teriam avistado um mapinguari na Reserva Florestal Sumaúma deixou os moradores da Vila dos Pescadores apavorados. Localizada na cabeceira da ponte sobre o rio Jamari, há cerca de 85 quilômetros de Porto Velho, a Vila dos Pescadores é formada por mais de 30 famílias, todas sobreviventes da pesca e da extração do açaí. O fato aconteceu no início do mês de setembro [de 2014], quando um grupo de extrativistas foram [sic] realizar a coleta do açaí no rio Japiim, onde fica localizada a Reserva Sumaúma, próximo a uma grande Serra. De acordo com um dos extrativistas, que prefere não se identificar, essa é uma viagem muito perigosa, pois são cerca de 5 horas de viagem de motor Rabeta para chegar lá. “Na Reserva Sumaúma é onde está a maior quantidade de açaí silvestre, mas por ser uma mata onde ninguém adentrou, ficamos expostos a vários riscos, entre os quais, inúmeras espécies de cobras e onças”, afirma.
Para outro catador que fazia parte do grupo, tudo teria começado quando eles ouviram um grito floresta adentro. “Comecei a imitar o grito e percebi que o som se aproximava de nós. Foi quando começamos a ouvir um forte estralo e de maneira intermitente. Nesse momento, apareceu uma criatura de cor escura e de aproximadamente dois metros de altura, com apenas um olho avermelhado como chamas”, disse.
Assustados, todos deixaram o açaí que tinham colhido e correram para a beira do rio, pegaram o Rabeta e voltaram para uma barraca improvisada que eles tinham feito. Mas ao chegar próximo da barraca, o medo foi ainda maior, quando viram novamente a criatura próximo da barraca. Na mesma hora, todos retornaram para a canoa, ligaram o Rabeta rapidamente e voltaram atemorizados em direção a Vila. “Já estava escuro quando saímos da reserva, sem lanterna e deixamos tudo para trás. A viagem de volta foi mais perigosa, pois não enxergávamos quase nada”, disse um deles.
O susto foi tão grande que alguns deles não conseguiram dormir por alguns dias. A notícia logo se espalhou na Vila e devido ao ocorrido, nenhum extrativista se arrisca a ir mais naquela reserva (Bosco, 2014).

Estavam eles sob efeito de Ayahuasca?


Referências:
BOSCO, João. Mistério - Catadores de açaí afirmam ter visto um Mapinguari. Rondoniaaovivo.com, 7 out. 2014. Disponível em: <http://www.rondoniaovivo.com/noticias/misterio-catadores-deacai-afirmam-ter-visto-um-mapinguari/119282#.VVHsbyHBzGd>. Acesso em: 04 março 2019.
CASCUDO, Luíz da Camara. Geografia dos mitos brasileiros. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2015.
VANDER VELDEN, Felipe Ferreira. Realidade, ciência e fantasia nas controvérsias sobre o Mapinguari no sudoeste amazônico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 11, n. 1, p. 209-224, 2016.
VEGINI, Valdir; VEGINI, Rebecca; FERREIRA NETTO, Waldemar. O monstruoso Mapinguari pan-amazônico: uma sucessão de adaptações aloindígenas. Porto Velho: Temática, 2014.
VEGINI, Valdir; VEGINI, Rebecca. O gigante monstruoso mapinguari e a solidez dos narratemas da tradição. Revista Sustentabilidade Organizacional, Porto Velho, v. 2, n. 1, p. 1-13, fev.-jul. 2015.