Inspirado no filme O sonho do nixi pae (2014), o artigo percorre a trajetória do MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin, traçando paralelos entre o percurso do grupo e a travessia mítica dos huni kuin que atravessaram o jacaré-ponte. O artigo se dedica a pensar a música e suas transformações em artes visuais e audiovisual desde uma teoria da tradução nativa.
O povo Huni Kuin
Os Kaxinawá – também conhecidos por Cashinauá, Caxinauá e Huni Kuin – são pertencentes à família linguística Pano e habitam a floresta tropical no leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, no estado do Acre e sul do Amazonas, abarcando respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari. No Peru, as aldeias kaxinawá se encontram ao longo dos rios Purus e Curanja; as aldeias acreanas se espalham pelos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus (GUESSE, 2014).
Fonte: Mattos (2015) |
Os rituais
De acordo com Lagrou (2004, on-line), o txidin é um ritual anual, que acontece no xekitian, tempo do milho verde (ou é realizado depois de um rito funerário por uma morte importante, de um chefe ou xamã), que serve para proteger os vivos, reforçando sua fé e levantando-lhes o ânimo. O txidin faz parte da sequência do ritual do nixpupimá.
O Katxanawá é o ritual da fertilidade, normalmente acontece várias vezes por ano, existe em várias versões e pode iniciar o nixpupimá. O elemento central desse ritual é um tronco oco da paxiúba (katxa), que representa o útero e é enfeitado com tubos de macaxeira e banana, que representam o elemento masculino. “O katxanawá tem a característica de complementaridade entre os sexos. Ambos os sexos participam do ritual e esta participação tem conotações sexuais explícitas” (LAGROU, 2004, p. 8, on-line).
Para o ritual específico de iniciação (nixpupimá), apenas as crianças que já perderam seus dentes “de leite” e têm crescidos seus dentes permanentes são reunidas na casa do líder. Elas são colocadas em redes penduradas num canto da casa e não devem se mover; suas mães sentam ao lado de suas redes, balançam-nas e cantam, enquanto os pais dançam ao redor do fogo, rezando para que seus filhos cresçam fortes. Na manhã seguinte, as crianças recebem banhos medicinais, cortam o cabelo, são pintadas com jenipapo, lavam os dentes e tomam caiçuma de milho.
Os kaxinawá, segundo Lagrou (2004), consideram o nixpu fundamental para a saúde dos dentes, fortalecendo-os e protegendo-os. Além dos dentes enegrecidos, os kaxinawá desenham o corpo com jenipapo e pintam-se com uma pasta vermelha de urucum. Mais a frente, trataremos dos desenhos kaxinawá. Nesta ocasião, as meninas recebem um banho específico para aprenderem a técnica do desenho kene (kenedau).
Historia por Mattos (2015)
Primeiro vamos falar dos Huni Kuin (Kaxinawa). Ibã é filho de Tuin, foi com o pai que aprendeu a cantar. Se formou professor aprendendo a escrever e pesquisar. O seringal onde abrigavam-se foi herdado por sua família de patrões brancos depois de muito trabalho e sob indentidade de cablocos brasileiros, trabalhadores e civilizados. Em 1984, o seringal se tornou terra indígena, onde os Huni Kuin passaram a ser reconhecidos novamente como povo indígena. Professor indígena que tem como projeto coletivo a pesquisa, os Huni Meka, os cantos de Nixi Pae (bebida ayahuasca) entre outros. Em 2006, publicou um livro chamado Nixi pae - O espírito da floresta.
Estou resumindo aqui, mas é muita história pra contar em seu trabalho !
"Nosso trabalho tem origem, portanto, na convergência de canto, desenho e vídeo. Os desenhos traduziam a música numa visualidade própria a esse universo musical e o vídeo fornecia recursos para evidenciar essa relação. "
Os comentários aos cantos (pôr no sentido, ver adiante) feitos por Ibã no vídeo, simulam essa articulação na medida em que não explicam, e sim criam um texto paralelo à imagem-música, tal qual o desenho propõe em relação à música-texto.
Fonte: Mattos (2015) |
Fonte: Mattos (2015) |
Fonte: Mattos (2015) |
Fonte: Mattos (2015) |
Referências:
GUESSE, Érika Bergamasco. Shenipabu Miyui: literatura e mito. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – UnEsP, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara 425 f. 2014.
LAGROU, Elsje Maria. Kaxinawá, 2004. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa/print>. Acesso em: 19 abr. 2019.
MATTOS, Amilton Pelegrino. O sonho do nixi pae. A arte do MAHKU–Movimento dos Artistas Huni Kuin. ACENO-Revista de Antropologia do Centro-Oeste, v. 2, n. 3, p. 59-77, 2015.
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